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Durante os sábados, a regra de sempre comerem juntos era quebrada, mas nenhum deles se frustravam. Lia comia sozinha na sala, refletindo sobre o próprio passado, e pensando no grande erro que tinha cometido ao assassinar Solas.

Talvez Lia e Ethan fossem os únicos que nasceram em berço de ouro, filhos de um barão paranóico que os treinou assim que eles deram o primeiro passo. A mãe deles sempre estava lá para beijar seus machucados e lhes oferecer comida quente, e eles sempre estavam ali para agradecer.

Lia foi a primeira a se questionar se conseguiria lutar para valer, mas foi Ethan que agarrou sua mão e a puxou pela janela da nobre mansão, e esgueirar noite adentro, procurando o primeiro bêbado para atacar.

As brigas se tornaram até a morte, então se tornaram assassinatos de quaisquer pessoas que ameaçassem seus pais, e então eles ganharam um apelido pela cidade: as sombras gêmeas.

Pessoas começaram a praticar feitiçaria sem autorização sob o risco da Conclave, esperando que as sombras nunca fossem espreitar para dentro de suas casas. Mas nunca funcionava.

Eles eram bênção, eram uma maldição. Eram únicos e não havia nada que os impedisse.

Ela se levantou para repetir a deliciosa sopa enquanto assistia a um programa idiota, mas sacou a lâmina mais rápido que outros pensariam ser possível, arremessando no batente da porta no momento em que ela se abriu, revelando Ethan em uma regata de banda genérica e jeans surradas.

—Ruelle está com o humor terrível de novo — Ethan ignorou o cumprimento perigoso da irmã, tirando a faca cravada na madeira, devolvendo-a em mãos. — Foi você?

— Foi Melione

—Por Otsana! — Ethan soltou um grito exageradamente fino ao notar Talon apoiado no arco que dividia a sala de jantar da de estar, sem sequer olhar para os irmãos, como se as pulseiras coloridas em seu braço fossem mais interessantes. — Porra! De onde você surgiu?

Ethan tinha poucos medos na vida e Talon não era feio. Mas ver o espectro surgir repentinamente era no mínimo assustador! O que outrora tinha sido um par de olhos amarelos, agora tinha o olho direito completamente branco, cegado pela mesma criatura que lhe tinha dado aquela cicatriz grotesca que chegava a cortar o lábio com um fino risco no canto. Lia tinha aproveitado a distração para se servir do líquido verde e grosso que lhe caía bem no frio do entardecer.

—Foi ele que fez a sopa, só não quis comer comigo — Lia respondeu o irmão assim que caminhou de volta para a sala de jantar, sentando-se ao lado de Talon — Eu disse que queria aproveitar os poucos momentos de paz que ainda temos.

—Ah, não — Ethan esfregou o rosto com ambas as mãos, os fios negros entrando entre os dedos — Por favor, me diz que não temos que lidar com outra invasão. — Ele gemeu, frustrado.

—É por causa de Darya, fadas são pacifistas, então a gente vai ter que diminuir a frequência da caçada — Talon esclareceu, sorrindo assim que notou a carranca de Ethan — Compartilho da sua frustração.

—Quem é que liga para a porra daquela fada? — Ethan questionou, vendo a irmã dar de ombros — Ela é responsabilidade de Kaz, por que a gente que leva a pior nessa?

—Se serve de consolo, tenho certeza que Lys e Ruelle vão ser os únicos a apoiar essa ideia de merda — Lia tentou o consolar, lembrando de cada momento que Lysandre os chamou de brutamontes ou bárbaros toda vez que saíam em caçadas.

—Rue foi a primeira a discordar, se quer saber — Talon contrariou, lembrando do que tinha ouvido há algumas noites atrás — Ela deixou bem claro que já está sacrificando muito poder para ressuscitar Darya.

Noite Eterna, Coração EtéreoOnde histórias criam vida. Descubra agora