Noite Eterna, Coração Etéreo

7.7

Um mês para a batalha.

Cordelia não conseguia desviar os olhos de Andrômeda, mesmo enquanto todos estavam alinhados ombro a ombro.

Um pesar e alívio perfeitamente entrelaçados, mas algo ainda parecia errado em tudo: Satori não estava ao seu lado... Cory tinha fantasiado mil cenários em sua cabeça, jeitos que apresentaria Andrômeda e seus protegidos para sua namorada, a forma como ela demoraria para abaixar a guarda, como discutiria com a simpatia de Sorscha e como Sato ensinaria Ares a lutar.

E dentre os mil cenários, nem nenhum deles Satori estava do outro lado da fila, sem sequer dar o trabalho de olhá-la sequer uma vez.

–Temos uma vantagem: sabemos como Inara opera, quais são os métodos de treinamento deles – Kinessa comunicou os jovens, Rue tinha escolhido-a para ser a ponte entre Neera e a nova geração por um simples fato: eles tinham história juntos, confiavam nela – E nosso método é letalmente mais eficaz.

–Não é à toa que sempre perderam para qualquer aluno de Kim: eles aprenderam da forma difícil – Alexina adicionou, os óculos escuros grandes escondendo seus olhos do sol forte de Notremor. – Mas agora são um time só.

–Vamos separar vocês em grupos: cada grupo treinará com um de nós até o dia da batalha – A mestra Neera continuou, caminhando entre a fileira de jovens e de seus velhos parceiros de equipe que os avaliavam cautelosamente.

–Escolhemos com quem vamos ficar? – Macaria inocentemente perguntou.

–Nós três entramos em um acordo sobre quem será treinado com quem. Falaremos o motivo para que haja transparência total – Alex interveio novamente ao mesmo tempo que Kinessa voltou para o centro e encarou seus alunos.

–Então você é a "Fulgora"? – E tudo levou a Satori sendo pessoalmente treinada por Ruelle.

–Por que todo age como se eu não soubesse o que eu sou? – A garota se frustrou... andava de mau humor desde que tinha cortado qualquer contato com Cordelia.

–E você por acaso sabe o que é? – A Andraste estreitou os olhos azuis, rodeando Sato como se ela fosse uma presa. A jovem olhou para o chão com culpa – Sabe por que todo mundo pisa em ovos com você? Esse calor na espinha toda vez que uma luta começa como se alguma coisa aprisionada só quisesse fugir.

–Você é uma lutadora, não uma psicóloga – Satori interviu sem medo – Então me ensine a lutar.

–Acha que consegue lutar? Não precisei de poderes para ver o peso em suas costas. – Ruelle a respondeu como se nem ligasse com a rispidez dela – Esteve com suas mãos amarradas às costas sua vida toda e acha que sabe lutar?

–Eu sou a melhor dentre todos os Colerum: acha que eu não sei lutar?

–É fácil ser a melhor entre os piores – Ela sorriu, parando de frente apenas para ver os olhos amarelos fervilhantes dela – Se tivesse apenas dias até a guerra, escolheria todos de todas as outras equipes e te deixaria de fora sem pensar duas vezes: não preciso de uma bomba relógio.

Energia faiscou nas pontas dos dedos de Satori com a onda de raiva, sentindo-se tão envergonhada e brava que ela ruborizava lentamente com o sangue fervilhante. Ruelle olhou para as mãos da Fulgora e lhe ofereceu um sorriso quase felino, as palavras não ditas escritas em seus olhos: apenas está me provando que estou certa.

–Mas temos um mês – Rue continuou – E se tem alguém que pode mudar o rumo da luta, esse alguém com certeza é você... mas não com essas faíscas amarelas repugnantes.

–Não posso mudar a cor da minha magia, foi mal.

A Andraste deu dois passos para trás, erguendo a palma da mão estendida para o alto. Uma serpente negra de magia espiralou no ar e Satori jurou que, em um piscar de olhos, aquela serpente tinha se tornado uma galáxia viva: espalhando um rastro de pontos brilhantes como estrelas no meio de uma fumaça roxa espessa, o fio de magia tornando-se verde, então roxo.

E quando Satori ousou olhar para Rue, e não sua magia, viu seus olhos tornarem-se completamente negros, escurecendo-lhe o rosto como se seu próprio sangue fosse preto, correndo pelas veias ao redor dos olhos como vidro trincado.

–Não sou você – Sato reclamou com teimosia pura – não sou Andraste.

–Mas é a única pessoa do seu grupo que consegue acessar seu Chakra sem morrer – Ruelle contestou sem medo, mas a garota apenas riu como se aquilo fosse um absurdo... mas calou-se quase tão rápido quanto assim que olhou para a nova mestra e percebeu a seriedade.

–Invoquei minha Aura uma única vez e apaguei pelo restante da semana, acha que eu consigo evocar meu Chakra? Ficou mal-

Ruelle lhe agarrou a mão e a forçou a abrí-la para o alto como ela tinha feito... Satori sentiu uma onda de dor quase insuportável que forçou seus joelhos ao chão, ficando de pé apenas pela força sobrenatural do aperto.

Quando olhou para suas mãos, viu o exato momento que uma esfera de energia amarela em sua mão se tornou laranja, e então apenas uma centelha vermelha no centro que ia aumentando como o gotejar de tinta na água.

Ruelle a largou no chão no momento em que a esfera quase tornou-se totalmente escarlate, deixando-a ofegante no gramado olhando para cima enquanto de joelhos para a Andraste.

–Você sabia – A mulher garantiu – Você sabia esse tempo todo e escolheu aprisionar sua magia porque te dava medo.

–Não tem nada de errado nisso – Sato ofegou, olhando para a mão intacta de onde seu Chakra tinha sido conjurado. Ela levantou no momento seguinte, tomando respirações profundas. – De qualquer forma, não consigo mais conjurar ela.

–Acabou de fazer isso.

–Não naturalmente. Acredite, passei madrugadas inteiras tentando deixar ela entrar pelas minhas barreiras.

–Tão selvagem quanto uma Radiante e tão tola quanto uma. – Ruelle sorriu com uma nostalgia que fez Satori achar graça da afirmação.

–Acha mesmo que posso ser uma? Meus pais são Fulgora, minha irmã é Fulgora e...

–Todo Radiante é Fulgora, mas nem todo Fulgora é forte o suficiente para ser Radiante – Rue tentou explicá-la – É uma raridade que alguém tenha o corpo feito para aguentar seu Chakra.

–Não significa que a minha mente não vá fritar.

–Nunca vai alcançar seu potencial verdadeiro se tiver medo dos seus próprios dons.