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Era M...s...Morwenna que lhe mostrava as belezas que poderiam existir no além da floresta, quando ainda era uma criança fraca. Dizia que seu dever era proteger a Andraste e Andrômeda acatou cegamente seu destino, porque lhe parecia o único motivo pelo qual era válido lutar.

Mas... ela ouvia quando os Anjos Dourados falavam com Ares e Sorscha sobre mais um heroi ou Emissário morto, sobre como as coisas do lado de cima tinham uma perspectiva diferente de tudo o que ela ouvia de Misha.

Mas e se ela tivesse sido criada, não como uma protetora, mas uma destruidora? Eles queriam deixá-la louca, manipulável e toda vez que ela não acatava algo que eles diziam ou faziam, era gravemente punida.

Sempre tinha ouvido a palavra "Monstro" como algo inumano, mas não como algo ruim. Mas apenas quando ouviu Sorscha falar aquilo em completo desespero que ela percebeu.

Ela tinha sido criada, não para ser um monstro como criatura, mas o tipo de monstro que fazem lendas sobre como evitar. Um conto sombrio que todos passam de geração em geração como se mata.

—Me desculpa — Andrômeda se ajoelhou diante de Ares, afundando a cabeça no peito dele, ignorando o sangue que jorrava dele, ou a batida do coração que apenas diminuía de frequência. — Por favor, eu juro que n...

—Tá tudo bem — Ares sussurrou com a voz fraca, levando uma mão mole até o cabelo de Andrômeda, afagando-a como se isso fosse conter os prantos dela — Termina isso, tá tudo bem.

—Eu não posso. — Ela chorou.

—Se você não me matar, eles vão matar nós dois — Ares lembrou — Por favor, não me faz morrer em vão: eu só quero proteger você.

—Eu não consigo fazer isso — Andrômeda tinha a voz abafada pela camisa do amigo.

—Se você não me matar, eu vou, mas me recuso a deixar você morrer, então por favor, só acaba com isso — Ele tossiu, sentindo o gosto de sangue na língua. A tontura da falta de sangue finalmente atingindo-o.

Andrômeda ergueu a cabeça, os olhos inchados pelo choro, mas ela ainda abriu a boca, expondo todos os dentes afiados, próprios para devorar carne. Mas antes que pudesse enfiar sua infinitas presas no pescoço de Ares, o portão se abriu e separaram Andrômeda de Ares, uma equipe de mantos negros com arabescos azuis... curandeiros.

—Obrigada, Cresseida — Misha agradeceu.

Sorscha se ajoelhou em alívio quando ouviu Cresseida ordenar a entrada da equipe médica.

—Não estou fazendo isso por você, estou fazendo por aquela que te abençoa — A voz de Cresseida ecoou como um trovão — Pelo sangue Andraste.

—Agradeço, pelo Sangue Andraste — Misha repetiu.

E Sorscha não poderia ter obedecido com mais gratidão quando figuras encapuzadas guiaram ela de volta para as celas. Ela ainda chorava, trêmula e mole pelo desespero e adrenalina quando chegaram nos calabouços. A garota dragão sentou-se no chão, encostando a cabeça na parede e tentando acalmar o próprio coração.

Mesmo quando eles trouxeram Andrômeda ainda ensopada pelo sangue do amigo, Sorscha sequer conseguiu olhá-la de forma mais dura ou rude, via o vazio no olhar da amiga quando ela se encolheu naquele canto que quase deixava-a invisível.

E vomitou.

Forçou-se a vomitar cada pedaço que tinha engolido, preenchendo o ar com o cheiro ácido e enjoativo, o barulho de líquido grosso sobre líquido grosso. Sorscha fechou os olhos, ouvindo a amiga engasgar e ofegar algumas vezes, mas Andrômeda não parou até sentir que não havia sequer uma gota do sangue do amigo dentro do estômago.

Caminhou para a outra ponta escura, e ocultou-se lá, entre choros e soluços, o grito de Ares ecoando em sua mente mesmo quando ela tampava os próprios ouvidos.

Ares demorou a voltar, mancando, mas com novas roupas e acompanhado da própria Cresseida. Sorscha se moveu imediatamente para a parede próxima da cela de Ares quando o viu entrar.

—Obrigada — Sorscha agradeceu para a Rúnica no calor do momento, tremendo sobre o amargor lavanda nos olhos dela, a palidez anormal em seu rosto — Obrigada.

—Agradeçam à Morwenna por isso, não a mim — Cresseida precisou dar os créditos para a Sacerdotisa.

—Mas foi a Misha que pediu que você parasse — Sorscha franziu o cenho, Ares olhou com confusão para a amiga dragão. — Não foi?

—Misha? Como ela teria pedido para parar? A ideia foi dela.

Noite Eterna, Coração EtéreoOnde histórias criam vida. Descubra agora