Noite Eterna, Coração Etéreo

9.3

Andrômeda e Ezekiel descobriram um novo dom quando se encontraram, ambos estavam caçando Inara na floresta. Morwenna e Lazarus encaravam a canibal e a sacerdotisa se curvou, encostando a cabeça no chão e agarrando a grama aos prantos.

Porque a dor... o sentimento de traição que brilhavam nos olhos rubros de Andy eram demais para ela.

—O que vocês fizeram? — Ela sussurrou, olhando de Morwenna para Lazarus, que se encolheu. — O. Que. Vocês. Fizeram?

—Descobrimos que... Inara estava viva, ela nos mostrou o passado da Andraste e todos concordamos que ela precisava... morrer. Sinto muito, Andrômeda — Lazarus confessou.

Aquilo foi demais para Andrômeda, que já estava no limite do autocontrole para conseguir defender Ezekiel sem pensar em devorá-lo. Aquilo era demais para ela aguentar, e a canibal avançou com a velocidade de uma flecha em cima de Lazarus. Ele não se defendeu como tinha feito da última vez.

E nem tentou lutar quando os dentes de Andy rasgaram-lhe o pescoço cinzento, derrubando-o contra a grama enquanto ela ainda devorava-o até sentir o coração dele parar contra as próprias mãos.

Olhou para Morwenna e o rosto choroso.

Transformou o manto rubro dela em vermelho escarlate de verdade com o próprio sangue da mulher, chorou enquanto arrancava-lhe a vida com as próprias garras. Porque uma das pessoas que ela mais tinha confiado, havia traído Andy.

—Você lembra de mim, imagino — Ezekiel sussurrou no ouvido de Inara, dentre todos os cadáveres. Ele jurou ter visto a pele dela empalidecer repentinamente apenas de ouvir a voz do homem. — Porque eu lembro de você me forçar a mostrar qual era o meu dom.

—De novo não — Ela murmurou com os olhos já marejados em puro trauma, tentou esfaqueá-lo e se assustou quando a lâmina se quebrou na pele dele.

Andrômeda ouviu a voz de Ezekiel e se guiou para encontrá-lo contra Inara. Iria atacar os dois, iria atacar e...

—Andrômeda — Ezekiel a olhou no fundo dos olhos, uma centelha ainda do breu... o terror que provocava nas pessoas — Quer fazer as honras? Ou faremos juntos?

Alguma coisa despertou dentro de Andy e Zeke sentiu aquilo na própria pele, uma malícia calculada, mas selvagem. A feição da crueldade pura, caminhando com passos precisos e elegantes como um gato até ele.

Passou a mão repleta de sangue pelo rosto do amigo que mantinha Inara paralisada em puro horror.

—Dessa vez, você que deve fechar os olhos — Andy sussurrou, acariciando o rosto de Ezekiel enquanto ele o fazia, então agarrou a mão do garoto e olhou para Inara, completamente pálida.

—Nada o que fizer comigo vai ser pior do que a morte — Inara rosnou.

—Eu sou pior do que a morte — A voz de Andrômeda era um ronronar completamente malicioso, a voz que você imaginaria que um demônio teria. - Eu sei que que se estivesse numa sala com cada pessoa que você matou, estaria afogada em cadáveres, mas... se estivesse numa sala com todas as pessoas que realmente te amaram, que... se sentiam orgulhosas de você, estaria vazia né? Esse é o seu pesadelo.

Inara se sentiu enjoada com a forma que o rosto de Andrômeda mudava, como um glitch na vida real onde o rosto se movia, mas os olhos e boca ficavam flutuando tentando acompanhar a feição vazia, os olhos pareceram sugar tudo o que havia de bom nela.

—Não tem como se manter são onde eu nasci — Andy começou — Você fica louco, completamente louco e aprende o quão delicioso isso pode passar a ser. A loucura só é ruim quando você não é louco o suficiente, mas depois, você fica procurando por mais. Me deixe te mostrar.

Andrômeda largou a mão do amigo e caminhou até Inara, que recuava rapidamente, mas não rápido o suficiente para impedir o próprio crânio de ser agarrado pelas mãos da canibal.

E ela se viu em um lugar completamente vazio.

-Bem-vinda à minha mente - A voz de Andrômeda ecoou, e por um segundo ela não sentiu nada, mas repentinamente ela via absolutamente tudo. Passado se moldou no presente e o futuro assumiu apenas para ser consumido pelo passado em imagens que mal duravam um milissegundo, cegando Inara.

Ela tentou andar para trás, mas o corpo desobedeceu e ela apenas andava para frente, tentou erguer o braço direito, mas foi o esquerdo que se levantou e ela sentiu que realmente estava enlouquecendo sem controle nem mesmo do próprio corpo.

Milhares de corvos avançaram em direção de Inara que não sabia como se defender, sentindo a pele ser rasgada diversas vezes por garras, mas quanto mais pensava em se defender, mais indefesa ficava.

—Ah sim, tem uma coisa que eu queria te mostrar — Andrômeda surgiu atrás da mulher, forçando as pernas dela contra o chão e agarrando as pálpebras dela para garantir que ela assistisse aquela cena.

E então elas voltaram no momento seguinte e Inara se debatia irrefutavelmente nos braços fortes de Ezekiel que a olhou completamente maravilhado. A menina deu de ombros, um pouco mais envergonhada do que queria falar que estava.

—O que foi? — Ela balbuciou, mas Inara começou a gritar novamente, chorando — Ah céus, cala a boca! — Ordenou e no segundo seguinte, a bruxa não tinha uma boca e os gritos tinha se tornado... nada.

—Nada... acho que eu só entendi o que você quis dizer mais cedo — Confessou sem sorrir, deixando claro que estava falando sério. Andrômeda precisou de um tempo para se lembrar do que tinha dito, revirando os olhos.

—Tem certeza que eu não posso voltar? — Morrigan perguntou para Odessa, sentada no chão ao lado do próprio corpo.

—Sinto muito, pequena — A senhora pediu com a mão no ombro dela, um apoio carinhoso — Mas dessa vez, você está realmente morta, não tem portão para que você passe.

—Posso... ficar com a minha irmã, ao menos? — Pediu e sentiu Odessa congelar.

—Perdão?

—A Kamari, minha irmã g- — Tentou lembrá-la.

—Eu sei quem ela é, mas não entendi o que me pediu — esclareceu.

—Para que me leve onde ela está — Pediu novamente.

—Mas a sua irmã ainda está viva, pede que eu a leve para onde ela se encontra no mundo material agora? — Odessa revelou.

O fato congelou Rue no lugar.

—O que?

—Lâminas comuns não matam Andraste, se lembra? Como ela poderia ter morrido?