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—Sério Rue, abre essa porta — A voz de Talon ecoou pela porta do quarto, achando que a amiga ainda estaria dormindo.

Mas ela estava congelada no chão, encarando o barro do vestido branco que usava com o cenho franzido, sentindo o tecido de linho nos dedos, confusa.

—Ruelle, eu vou ent-

—Eu já tô subindo — Ela o respondeu, finalmente desperta do transe de pura confusão que estava.

Ela se levantou, tirando o vestido e pronta para pegar uma nova roupa quando ouvir o tintilar pesado contra o chão de madeira escura bem polida, e cautelosamente olhou para trás, encarando o pedaço de metal dourado, abaixando-se para pegar.

E vendo aquela maldita harpia em prata, o mesmo símbolo da Ordem Caçadora, que agora tinha gravado as letras U.T.V.C — Universidade de Treinamento de Vigilantes e Conjuradores.

Ou a Academia Colerum.

Ela colocou cuidadosamente o pedaço da insígnia na cama, vestindo-se com uma calça de moletom e um top branco que deixava os séculos de músculos construídos bem à mostra.

Pensou em sair sem a identificação, mas pegou novamente o metal já aquecido, e caminhou quarto afora, subindo a escadaria do subsolo em direção a sala de jantar, onde o café da manhã farto já estava posto, preenchendo o lugar com cheiro de panquecas e café.

Panquecas que ela não tocou, um café que ela não tomou, frutas que ela sequer olhou. A mente em turbilhão, o sonho em reprise.

—Rue? Cê tá legal? — Kazuha a chamou, notando o cutucar do garfo dela no prato intocado, o olhar perdido em algum ponto atrás dele, que se sentava na ponta oposta que ela — Ruelle?

—Hm? — Ela arqueou as sobrancelhas prateadas, parecendo finalmente acordar para a realidade, notando que não era só Kaz, mas todos os seus amigos encaravam a massa triturada no prato dela

—O que a gente precisa fazer? — Lysandre pediu de prontidão, tirando os fios negros do rosto repleto de desenhos verde folha e colocando-a atrás da orelha pontuda, prendendo-as junto com as finas tranças espalhadas por dentro do cabelo.

Ele era um Druida, mas acima de tudo era filho da mesma natureza que havia dado poderes para Ruelle, o que lhes dava uma ligação de irmandade estranha, impedia completamente a menina de esconder qualquer coisa dele.

Ela pegou o emblema e o jogou na mesa sem delicadeza alguma, sem sequer olhar novamente para o pedaço de metal bem decorado, deixando que todos olhassem e soubessem o que era antes mesmo de realmente lerem as letras abaixo da harpia. Mas Kaz sabia que tinha muita coisa por trás daquilo.

—Existe uma refém deles, uma criança — Explicou, batucando ansiosamente na mesa — Os olhos da harpia são de safira, tenho certeza absoluta que é a divisão científica, eles devem ter algum porão, e pelo cheiro de merda que tinha, deve ficar do lado norte do lado, o lado da correnteza.

—Eu e Lia podem-

—Eu falo com ela — Lysandre os interrompeu, encarando Ruelle com uma clara pergunta, e mesmo assim ele verbalizou — Fazem sete anos, quer mesmo falar com ela?

—Existe mais algum herói decente além dela? — Rue questionou, um sim para a pergunta do amigo. Não havia ninguém confiável naquele campus, ninguém além daquela mulher arrogante. — Mas ainda preciso que Ethan e Lia tentem observar por dentro, ver se estou certa.

—Só eu estou pensando que pode ser uma armadilha? — Talon cogitou, cruzando os braços pálidos expostos pela regata preta — Não que a criança tenha alguma... intenção, mas pode ser uma isca.

Noite Eterna, Coração EtéreoOnde histórias criam vida. Descubra agora