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Era difícil para Lia se acostumar com os tempos modernos, mesmo acompanhando cada evolução, ela se perdia naquele amontoado fácil de informações, mas tinha passado a amar um local assim que surgiu: cafeterias-livraria.

Quando as bibliotecas que visitava começaram a ter aquele cheiro forte de café e canela, perfeitamente entrelaçado ao aroma de papel velho, Lia sabia que não era uma garota de tavernas como Melione ou Ruelle, e começou a se abrigar nos palácios mentais ocultos por pequenos becos mal iluminados.

E naquele bairro, ela viu aquela cafeteria ser construída, e começou a ir lá todos os dias, no mesmo horário. Apenas para observar como as coisas mudavam com o tempo. Quanto mais ocupada ficava, mais dias ela deixava de ir. O diariamente se tornou semanalmente, o semanalmente se tornou quinzenal, mensal, mas ela nunca deixou de ir.

—Você é nova — Contestou ao ver os curtos cabelos cor de cobre de uma barista desconhecida.

—Oi? Falou comigo? — A garota se virou surpresa, provavelmente desacostumada com as interações que os clientes costumavam fazer. Mas assim que os olhos azuis cintilantes se encontraram com a imensidão bicolor de Lia, a Neera congelou.

Além da beleza angelical, ela já tinha visto aqueles olhos antes, reconhecia aquela beleza, e tinha ficado surpresa porque não sabia de onde a reconhecia, mas sabia que ela parecia uma reencarnação de alguém importante.

—Tudo bem? — A garota perguntou novamente, acordando Lia dos próprios devaneios.

—Digamos que eu costumo visitar muito a-

—Ellie! Achei que nem fosse mais vir hoje — Um homem vestido com o avental azul marinho do uniforme da cafeteria passou por trás de Lia, comprimentando-a com um tapinha no ombro, correndo de volta para os fundos antes que a garota tivesse a oportunidade de responder.

—Ser viciada em café faz mal para a saúde, Ellie — A barista indicou, colocando a bebida na bancada.

—Às vezes escolho apenas o bom e velho croissant — Lia quis contrariar com um pequeno sorriso, agarrando o café e sentando na bancada, arrancando um livro encouraçado nitidamente velho.

E ela leu, devorando fervorosamente cada página amarelada, as letras quase ilegíveis com caneta tinteiro e desenhos de diversas partes de um ritual.

—Esse é o tomo um da origem dos Sombrios? — Um desconhecido se recostou ao lado dela, impressionado pelo livro que apenas um...

—Você é historiador por acaso? — Lia franziu o cenho, virando-se para olhar o jovem adulto que olhava para o livro como se fosse uma divindade por si só.

—Estou no meu mestrado sobre a linhagem de criaturas místicas — Ele a respondeu, os olhos castanhos brilhando com os raios do sol, deixando os cabelos que um dia seriam castanhos, num tom mais dourado — Sou Isaac.

—Ellie — Ela se apresentou imediatamente, estendendo a mão repleta de anéis prateados para o garoto de pele rosada, que balançou-a freneticamente, deixando claro o quão animado era. — O que você sabe sobre os Sombrios para ter reconhecido isso de cara? — Franziu o cenho, finalmente notando a velocidade com que ele associou o livro ao tema.

—O que você quer saber sobre os Sombrios? — Perguntou, e a garota percebeu que tinha uma risada presa na garganta, percebendo o quanto ela poderia se entreter.

—Os sinais bélicos deles — Desafiou, fingindo que não tinha o olho direito violeta, no mesmo lado que um dragão espiralava em cinza como se fosse uma fumaça viva.

—Sei que são o que diferencia eles de qualquer outro elemental — Ele falou com tanta convicção que Lia, como uma Sombria, hesitou e pensou que poderia estar errada.

Noite Eterna, Coração EtéreoOnde histórias criam vida. Descubra agora