Noite Eterna, Coração Etéreo

8.6

Talon desaparecia nas sombras e reaparecia desmembrando sentinelas já caídos, seus trajes manchados de sangue por golpes que o tinham atingido, mas ele nem mesmo hesitava, completamente perdido no frenesi de guerra.

Lia e Ethan brincaram de cabo de guerra com alguns, vendo-os se partirem ao meio tal qual um saco de farinha é rasgado, despejando tripas e sangue no chão que chiavam contra as botas deles em labaredas gêmeas douradas consumindo cabeças e equipamentos, um defendendo perfeitamente enquanto uma atacava impiedosamente.

Os números mudavam toda vez que Melione brincava com os mortos, fazendo-os levantar e explodir ao lado de alguém, e para cada cadáver, dois eram mortos. Mas Lysandre... Lysandre era a verdadeira força da natureza.

E todos pararam para ver quando os chãos tremeram e raízes de árvores envolveram uma legião em um casulo, os gritos ecoando a cada milímetro que o confinamento se fechava ainda mais, até que aquele monte explodiu em uma chuva de sangue que ensopou todos ao redor.

"Use a espada, você não tem poderes o suficiente para bancar a invencível"

Ao longe, Ruelle surgiu desembainhando duas gigantescas katanas que pareciam ser as duas faces dela: uma em vermelho sangue que parecia pulsar, enquanto uma era azul como o mar e Melione jurou que se estivesse muito perto, conseguiria ouvir as ondas quebrando dentro da espada que parecia viva.

Ela ergueu as duas espadas em frente a si, cruzando os braços na frente do peito, sentindo as duas lâminas uma de cada lado do rosto e murmurou para si.

Kchart j'em Kchart, Kamari.

Ela avançou com a força de mil furacões, armaduras pareciam se derreter ao contato com as lâminas, pescoços rolavam e Melione notou que era aquilo, Ruelle era a fúria da mãe natureza, com a elegância que a lua se erguia na noite, a velocidade de um trovão e a força de um mar furioso em seu olhar.

Rue foi pega, sentiu suas mãos agarradas e um chute em sua perna a colocando de joelhos na grama banhada de um sangue que ela bem se orgulhava de ter sido tirado, ela olhou para o homem á sua frente que tinha uma espada no pescoço de Ruelle, ela sabia que aquela não era a lâmina que a mataria.

Viu metade do corpo dele deslizar na sua frente, revelando a autora daquela violência, de cabelos e olhos completamente brancos, ambos transicionando para castanho profundo.

—Em cima da hora, Kenna - Ruelle sorriu para a amiga — Espera um segundo.

Ruelle fechou os olhos por um momento, sentindo a fúria da magia selvagem ondular pelo seu corpo, garras crescendo como metal brotando dos dedos e os olhos completamente negros. Deixou aquilo fluir pelos homens que ainda a agarravam e sentiu o toque se afrouxar antes mesmo que eles caíssem com as cabeças molengas como gelatina ao ter o cérebro completamente derretido por Rue que se levantou e pegou as duas espadas do chão.

—Uma coisa é ter rancor por você, outra completamente diferente é te deixar morrer, minha velha amiga — Kenna cumprimentou, lançando pedras e rochas gigantescas para esmagar as pessoas.

—Conseguiu localizar Inara? — a Andraste perguntou enquanto lutava ao lado de Kenna, que foi completamente sincera.

—Ela está aqui, mas eu não consigo saber onde — Confessou — Mas ela já chegou, deve estar segura em algum lugar distante, esperando vocês todos cansarem para poder fazer a "participação especial" dela.

—Bom saber que ela permanece a mesma idiota — Ruelle sorriu, agora utilizando tanto da própria magia quanto das espadas que a canalizava.

—Tem mais quarenta segundos antes de voltarmos para a formação, eu já vou indo para lá — Kenna alertou vendo a amiga revirar os olhos, ainda golpeando incansavelmente, deliciando-se dos gritos e do caos, dançando com as espadas e aproveitando aquela obra-prima de Nathaniel.

—É meio nojento essa sua coisa com cadáveres — Ethan reclamou para Melione que mexia os dedos como se realmente estivesse controlando um fantoche.

—É meio esquisito você usar pessoas pra cabo de guerra — Ela rebateu.

—Fala isso porque não consegue fazer com seus bracinhos fininhos — Zombou com um sorriso, vendo Mel se virar para ele enfurecida — O que?

—Quem disse que eu preciso dos meus braços para fazer isso? — Brincou com os olhos cintilantes, Ethan viu dois brutamontes mortos se levantarem com a armadura ensopada de sangue, eles caminharam até um terceiro homem e repetiram o mesmo movimento que Lia e Ethan fizeram para partir o homem. — Consigo fazer mais que isso - Ela zombou ainda mais quando ressuscitou um terceiro e todos se enfiaram em uma legião antes de literalmente explodirem. — Consegue fazer isso?

—Exibida — Ethan reclamou fazendo bico e Mel não pôde evitar rir da reação.

—Pensa nisso antes de se gabar para mim de novo — Ela aconselhou e viu a feição de Ethan se tornar repentinamente mais dura — O que foi?

—Chama a Ruelle, Inara deu as caras.

—Puta merda, que susto! — Rue ofegou quando um cadáver se levantou ao seu lado com os mesmos olhos dourados de Melione.

—Volta para a formação, ela tá aqui. — O cadáver falou antes de caminhar para uma outra multidão e explodir.

—Não posso te deixar chegar neles — Alguns homens se colocaram entre Ruelle e o caminho que ela planejava tomar e ela sentiu o coração disparar quando tentou conjurar sua magia para expulsá-los.

E não funcionou.

Como ela estava tão cansada? Não se sentia exaurida.

Eram as espadas, ela notou - Dois canalizadores poderosos demais para uma magia que Rue já não tinha, eles tinham consumido o poder dela para se manterem.

Não guardado, não controlado, mas roubado.

Uma lâmina ainda era uma lâmina, e por isso Rue precisou apenas desferir alguns golpes, realmente se preocupando em desviar daquela vez. Golpeou e bloqueou na mesma intensidade, disparando para a formação no momento em que uma brecha se abriu, ignorando totalmente aqueles que ainda a perseguiam.

—Eu tô sem magia — Ela anunciou para o grupo e Nate arregalou os olhos, ele não contava com aquilo — Eu não sei como, mas tô zerada.

—A gente te cobre — Kaz anunciou — Pararam de chegar legiões, agora são apenas essas e acabou.

—Aparentemente algum Emissário importante chegou, na minha sondagem eu vi uma bandeira, acho que é uma sacerdotisa. — Nesryn apoiou as mãos nos joelhos, tentando respirar, a tatuagem em seu braço ainda cintilando em verde.