7.6

0 0 0
                                    

Havia algo de especial naquela noite para Ares, que foi a último a cair no sono quando o relógio já marcava quatro da manhã. Ele ouvia Sorscha chorando, agradecendo por conseguirem fugir e pedindo a proteção de Inara para Alastor, perdido em algum lugar.

E ficou observando Andrômeda, que parecia atrair a luz pálida do luar para si através da janela, os cabelos azuis como safira caindo-lhe pelo rosto igualmente pálido. E como ela parecia um anjo vingativo mesmo em seu sono, as sobrancelhas franzidas e ela completamente estirada entre lençois brancos.

—Saber que você é só uma pessoa é bom — Foi o que Andrômeda disse enquanto Ruelle parecia conter a própria magia para não explodir ali mesmo — Saber que você não podia ajudar a gente me faz não ter tanta raiva de você.

—Eu poderia ter ajudado vocês — Ela murmurou — Sinto muito.

—Você nem sabia que existíamos, como nos ajudaria? — Sorscha sentou-se ao lado dela, colocando uma mão no ombro da Andraste como um consolo sincero.

—Eu insisto que permaneçam sob a minha tutela, é o mínimo que posso fazer depois de tudo o que passaram — Ruelle decidiu imediatamente, e mesmo Ares, que ainda não confiava o suficiente nela, soube que não tinham chance melhor.

E aceitou.

Era manhã, talvez nem mesmo dez horas quando o grupo de renegados juntaram-se na grande mesa da mansão, vigiados pela sombra de Talon, observados por Kenna e guiados por Kazuha

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Era manhã, talvez nem mesmo dez horas quando o grupo de renegados juntaram-se na grande mesa da mansão, vigiados pela sombra de Talon, observados por Kenna e guiados por Kazuha.

—Aquele cara é... uau — Malaika teve de assumir ao ver Kaz passar pela primeira vez com uma única trança bem feita e a ferocidade nos olhos rubros que a encantaram.

—Não esperava menos — Ezekiel disse — Tipo, ele namora a mina mais poderosa... e gostosa que já existiu, não dá para o cara ser feio né.

—Para quem valoriza tanto a aparência, até que seus dreads estão bem mal-cuidados, né? — Nesryn zombou, comendo elegantemente mais um dos morangos em sua panqueca.

E Ezekiel se sentiu frustrado, não tanto pela verdade dita, mas porque não podia sequer ousar devolver a ofensa quando os cachos roxos de Nesryn parecia não ter um maldito dia ruim sequer.

—Nunca vi ele calado por tanto tempo — Willa provocou junto, vendo-o franzir o cenho.

Satori estava calada ao lado de Maven, um fantasma de quem era nos dias comuns. Todos já sabiam o que tinha acontecido, mesmo que Macaria não tivesse dito nada, era a primeira vez em quatro anos que Cordelia e Sato ficavam tão distantes. Orion estava totalmente inafetado, rindo junto dos amigos enquanto saboreava o próprio café enquanto parecia participar ativamente dos diversos assuntos.

—Bom dia para vocês também — Ruelle surgiu, acenando para o grupo que imediatamente a cumprimentou num coro educado — Como conseguem ter tanto vigor pela manhã?

—Estamos com Kenna, ela nunca nos deixa acordar depois das oito — A Macaria pareceu realmente querer esclarecer com um pequeno sorriso.

—Coitado de vocês — A Andraste zombou, devolvendo a educação com provocação — Algum de vocês sabem onde estão?

—Aqui é Notremor, não é? — Maven tentou, vendo a Andraste assentir em resposta.

—Para os desavisados, Notremor é uma dimensão neutra — Rue sinalizou e todos já sabiam do que ela iria falar — E temos uma guerra se aproximando do nosso mundo, e queria deixar aqueles que não pretendem lutar, permanecerem aqui até que as coisas se acalmem.

—Quem de vocês pretende lutar? — Kenna perguntou e Sato passou mais tempo notando a transição sutil de amiga para mestra do que pensando se participaria.

—É mais fácil perguntar quem não vai — Nesryn falou, olhando para o nada com pura neutralidade.

—Passamos cinco malditos anos tentando aprender a lutar, e eu não estava fazendo isso só para bater em um saco de pancadas — Macaria respondeu com convicção — Tô dentro.

—Se eu for ter mais cafés da manhã assim, nem me importo de morrer nessa guerra ai — Ezekiel pontuou enquanto enchia o prato pela terceira vez.

—Você deu sorte grande: tá todo mundo dentro — Orion falou.

—Ótimo, então tere...

—Rue, Rue! Olha isso! — Andrômeda invadiu a sala de jantar como um furacão, agarrando um pequeno monte de flores azuis — Olha: combina igualzinho o meu cabelo!

Ruelle olhou imediatamente para Lysandre, que fez sinal de silêncio com o dedo, já que ele tinha feito a flor exatamente para agradar a garota. A Andraste virou-se com um sorriso carinhoso.

—Até mesmo a natureza quis te dar um oi — Ela brincou, colocando a flor atrás da orelha dela.

Todos sentiram, sem sequer precisar olhar, a mudança em Cordelia e a forma brusca que Orion se levantou, encarando a garota quase com assombro em seu semblante confuso.

—Juro que tentei fazer ela tirar os sapatos antes de entrar no portal, ela que ficou teimosa do nada — Ares chegou um pouco depois, caminhando lentamente pelo corredor, e foi ele que notou Orion e Cordelia — Pela alma de Inara, isso não é nem possível.

Na primeira fungada, Macaria olhou para o lado apenas para encontrar Cordelia chorando, as mãos na boca como se tentasse conter os ruídos e soluços. Foi Orion que correu em direção à Andrômeda, abraçando-a com força o suficiente para levantá-la. E pela primeira vez desde que tinham saído, a cabeça de Andy pareceu processar que ela tinha escapado.

Os braços de Andrômeda permaneceram suspensos no abraço, sem entender nem mesmo o que aquilo era, tampouco o que deveria fazer naquela situação. Ares sentiu uma culpa apertar seu peito, e quando olhou para Cordelia, percebeu que ela tinha lembrado da mesma coisa.

Era a primeira vez que Andy recebia um abraço.

—O olho dela é todo vermelho ou eu tô chapado? — Ezekiel perguntou sem uma gota de desconforto por Cordelia estar aos prantos na sua frente, não porque não ligava ou algo assim, mas se sentia deslocado e queria aliviar o clima, era como estar por fora de alguma piada interna.

—O olho dela é todo vermelho mesmo — Willa notou com assombro, porque o cabelo definitivamente era o menos surpreendente para a garota de cabelos verdes.

—Você é alto — Andrômeda fez uma careta para Orion, que riu com os olhos marejados, desvencilhando-se do abraço.

—Você também parece bem, Andy — Ele respondeu, bagunçando-lhe os cabelos azuis e virando-se para Ares, que deu um passo para trás.

—Não é porque o cativeiro acabou que eu curto abraços — Ele impediu Orion, que já se aproximava. — Mas posso aceitar um aperto de mão.

—Bom saber que você não mudou nada — O homem o respondeu, aceitando o aperto firme de mãos — Soube que a sua mãe morreu, sinto muito.

—Não precisa, adorei ver Andrômeda matar a Cresseida — Ares discordou, vendo Cordelia se aproximar lentamente.

—Ela fez o que? — Cory sussurrou com um pequeno sorriso, o rosto vermelho e úmido por lágrimas.

—Eu acabei...comendo... ela — Andy hesitou, ignorando por completo a diferença de maturidade entre as pessoas da mesa: alguns riam, outros tinham uma expressão de puro espanto. — Mas foi por querer, ela mereceu.

—Ela não quis dizer literalmente, quis? — Malaika perguntou.

—O pior? É que não — Willa confirmou.

—Puta merda, eu vou dormir de porta trancada — Nesryn concluiu.

Noite Eterna, Coração EtéreoOnde histórias criam vida. Descubra agora