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10 dias para a batalha.

Nas noites, não havia mais discrepâncias entre os Neera e a nova geração, todos começaram a passar as noites juntos, dentro ou fora de casa, em um único grupo.

Ou melhor... um único grupo repleto de pequenos grupos.

E como Sorscha tinha dito para Ares: eles acharam os próprios grupos e as conversas entre o trio mal passavam de cumprimentos. O garoto percebeu que gostava muito de conversar com Ruelle e Maven, passava a maior parte do tempo com eles assim como Andrômeda, Ezekiel e Sato pareciam compartilhar de um segredo sombrio que eles achavam graça.

Sorscha transitava entre eles: passava um bom tempo com Cordelia e Ambrosia, mas na maior parcela eram apenas Amber e Sor tentando distrair Cory do término aparentemente trágico que tinha.

A garota dragão evitava essas conversas como podia, porque lembrava que Alastor estava em algum lugar do mundo e que não fazia a mínima ideia que ela também tinha escapado.

Mas durante as manhãs... eles conseguiram acompanhar o ritmo de uma forma letalmente precisa, evoluindo com a mesma velocidade que um guardanapo é estilhaçado pelas chamas.

Os dias passaram mais rápido do que todos desejavam, e foi quando o vigésimo X foi riscado no gigantesco calendário da sala de jantar, que Satori percebeu que estava na hora de cumprir exatamente o que tinha prometido à Ruelle.

E por isso, naquela madrugada fria, ela estava na frente da porta de Cordelia, bateu uma vez, duas. A encontrou vestindo um pijama de ursinhos que teria feito Sato rir em outras circunstâncias.

—Sato! É... o-o que?

—Eu... só queria saber se quer caminhar comigo — Uma oferta de paz, um passo de cada vez que Satori passou os últimos dias calculando.

—Claro! É... só deixa eu me trocar, prometo que vai ser rápido! — Cordelia tentou não parecer empolgada, mas tinha se arrumado em tempo recorde, vestindo um conjunto moletom vermelho como seu tênis de corrida.

Satori andou na companhia de Cordelia em silêncio até um morro perto da casa, sentou no banco de pedra e esperou que a mulher fizesse o mesmo, mas a dúvida brilhava em seus olhos lindos.

—Só quero conversar, senta aqui — Satori pediu e a garota o fez, colocando os pés no banco e abraçando os próprios joelhos.

—Olha, m...

—Me desculpa — Foi Sato que pediu e o ato surpreendeu a garota ruiva, com os olhos arregalados — Sei que não tem desculpas para a forma que te tratei nos últimos dias, mas ainda sim quero pedir desculpas de coração.

—Tudo bem, você tinha motivos para isso — Cory hesitou, mas Satori permaneceu encarando as próprias mãos.

—Daqui dez dias, talvez só uma de nós volte, talvez nenhuma. E eu não consigo nem mesmo pensar em... — Satori engoliu em seco, os olhos amarelos perdidos na grama verde. Cordelia acariciou suas costas uma única vez, forçando-a a respirar fundo — Não posso fingir que não penso em você todos os dias ainda, não posso fingir que não ligo para como foi o seu dia, se está cansada ou se gostou daqui, quero te perguntar sobre tudo e lembrar de como eu amo sua voz. Eu só quero te ter de volta, mas depois de tudo... não sei se te mereço ou se você vai me querer de volta.

"Me promete uma coisa, fora daqui?"

"Tanto faz... fala"

"Promete que vai conversar com a garota, nem que seja para dar um ponto final. Não tem nada pior do que morrer sufocado com palavras em qualquer batalha que seja."

—Meu dia foi meio chato hoje, Talon exige muito de mim, mas aprendi novos truque — Cory começou a contar, e então suspirou, encarando Satori que já tinha os olhos marejados — Quase morri várias vezes protegendo Andrômeda e seus amigos, e toda vez que os vejo sendo amigos dos meus amigos, durmo com a sensação de dever cumprido, sabe? — Ela continuou, tirando a mão das costas de Sato para mover uma mecha do seu rosto bronzeado para que pudesse vê-la melhor — Eu te amo, Satori Rashdalle, fiz uma promessa, e eu não vou quebrar ela.

—Eu te amo, Cordelia Dumitrescu — Sato a respondeu, acariciando a bochecha corada, desenhando com o polegar, algumas poucas sardas mais aparentes pelo sol dos últimos dias.

E a beijou, um roçar de lábios calmo e suave, uma permissão discreta respondida com a Cory ajeitando a própria postura para aprofundar o beijo, despejando toda a saudade que tinha sentido nos últimos dias. Suas línguas forjavam uma elegante e sedutora valsa, deixando que Satori sentisse novamente aquela dominância gentil e firme da única pessoa que tinha direito de fazê-lo.

E a Radiante sentiu-se em casa, o pescoço envolvido pelos braços da Soulborne. Em seu âmago, a sua magia liberta de amarras agitava-se e, assim como a sua nova mestra tinha dito.

Tudo parecia mais intenso.

Será que a pele de Cory sempre tinha sido tão quente assim? Convidativa? Será que seus cabelos ruivos sempre tinham sido tão macios contra seus dedos? Era a ausência do toque dela nos últimos dias?

Não... não tinha sido sempre assim.

Quando o contato foi quebrado, os olhos dourados de Satori brilhavam com tanta submissão para a namorada, que Cordelia sentiu o seu ventre agitar-se.

—Você tá diferente — Cory sussurrou contra o rosto de Sato — Parece mais... você.

—Tenho tanta coisa para te contar... mas não agora. — Ela respondeu, pegando uma das mãos de Cordelia em sua nuca e colocando-a em seu rosto, e mesmo tentando ser discreta, a Soulborne sentia mais do que via, uma adoração ao toque.

—Tá tudo bem mesmo? Sobre... você sabe. Ensaiei um discurso sobre o quão arrependida estou por ter mentido para você.

—Vi seus olhos quando olhou para Andrômeda — Satori confessou — Eu costumo conversar com ela, uma garota boa, gentil. Ela me disse tudo o que eu precisava saber.

—Mesmo assim, queria te dizer que eu sinto muito que as coisas tenham sido dessa forma.

—Mas precisava ser — Sato completou — Andy me disse que você estava sendo assistida, eu deveria ter te ouvido.

—Eu só queria te proteger — Cordelia sussurrou, um pouco hesitante ainda, porque não se arrependia do que tinha feito. Precisava ser feito.

Mas Satori apenas guiou a mão da mulher, envolvendo-a com ambas as mãos e beijando-a.

—Quero mudar nosso juramento — Ela pediu e Cory ouviu atentamente, olhando-a no fundo dos olhos — Vamos nos proteger, vamos fazer isso juntas: eu não te deixarei e você não vai me deixar. Pelo coração uma da outra, tudo bem?

Cordelia colocou sua outra mão sob a de Satori, beijando-lhe assim como a namorada tinha feito.

—Pelo coração uma da outra.

Noite Eterna, Coração EtéreoOnde histórias criam vida. Descubra agora