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Morrigan não perdeu tempo em investigar sobre a irmã, guiada pelo instinto sobrenatural de Lysandre e visões misteriosas e embaçadas que Cordelia tinha durante o sono.

Kazuha decidiu que realmente gostava de voar, mas tinha se tornado um verdadeiro empecilho acostumar-se com o poço infinito de poder que tinha em seu âmago agora.

—Estamos indo para o lugar certo? — Nathaniel perguntou pela décima quinta fez desde o início do trajeto.

—Estamos em Wedrer, tecnicamente estamos no lugar certo — Lysandre o respondeu novamente. Era difícil ver Mor no chão desde que suas asas tinham voltado, mas era fácil achá-la rodopiando no céu.

Faziam cinco dias que estavam caminhando, arrastando-se pelos chãos e céus das densas florestas do leste do país. Com a volta dos poderes de Morrigan, aquilo inaugurou uma nova era onde todos os Neera podiam abdicar sem culpa de seus papéis sangrentos.

Tinham, pela maior parte, se dissipado em pequenos grupos que juraram entre si manter contato. Na sala de jantar, todos os alunos e mestres Colerum da oposição, se sentavam novamente para uma última refeição juntos.

—Com a morte de todos os conselheiros, a Colerum pode ser fechada ou se tornar de verdade um império terrível nas mãos das pessoas erradas. Tenho medo do rumo que as coisas vão tomar — Malaika explicou a discussão que ela tinha tido com os seus amigos mais próximos.

—Acho que poderíamos fazer algo bom se tivéssemos o nome para nós.

—Fala de reviver a Velha Guarda, Circe? — Kenna perguntou enquanto saboreava o risoto.

—Penso nisso, sim. — A treinadora a respondeu com sinceridade — Sabe, derreter esse maldito tigre e fazermos dele uma estrela novamente.

—Heróis de verdade criando mais heróis de verdade — Orion murmurou, encarando o prato já vazio — Alunos empenhados é o que não falta.

—Você deveria tomar a direção, Kenna — Alexina foi direto ao ponto e ouviu o tintilar dos talheres no prato de cerâmica.

—Eu o que?

—É verdade, acho que você conseguiria direcionar a Academia Colerum para o que ela nasceu para ser — Satori explicou — Você ama aquela escola, poderia fazer dela algo bom para a sociedade.

—Não podem estar falando sério.

—Já discutimos isso mais vezes que gostaríamos — Malaika revelou sem peso na consciência, mas nem mesmo ousando olhá-la nos olhos.

—Eu e Andy precisamos aprender mais sobre nossos poderes, mal sabemos do que somos capazes — Sorscha deixou claro sua opinião, a voz baixa e firme — Precisamos aprender ainda.

—Isso é uma espécie de intervenção? — Kenna os encarou um a um, observando as respostas positivas silenciosas — É isso mesmo? Querem que eu assuma o conselho?

—Você aceitaria? — Circe tentou e observou a Neera hesitar no assento, pensando com cautela. — Aceitaria transformar a Colerum para cumprir o propósito dela?

—É claro que sim — A voz dela falhou, embargada por um momento de emoção ao aceitar a proposta.

E novamente, o grupo Neera continuava a andar pela floresta até as pernas cansarem além da resistência e Mor pousar com um som estrondoso ao chocar-se com elegância contra a terra.

—Achei que teria perdido o jeito de voar depois de tanto tempo — Nate confessou.

—Voar para mim é mais natural do que andar, sempre foi — Morrigan sorriu de uma forma bela e radiante, Kazuha tinha passado a gostar ainda mais do positivismo dela do que do frenesi de crueldade — A caverna está perto, só atravessar a clareira daqui cinco minutos e finalmente chegaremos.

—Cinco minutos para saber se foram só imaginação — Lysandre murmurou.

—Acha que consegue tirar a maldição dela? — Kazuha perguntou, curioso. Os olhos que outrora foram rubros, agora salpicado de dourado entre o vermelho como sangue e ouro derretido.

—Acho que tem poucas coisas que eu não consigo fazer agora — Mor respondeu com um pequeno sorriso, chutando pedrinhas no caminho até as árvores darem espaço para uma clareira que parecia infinita.

Morrigan tomou a frente do grupo, as majestosas penas azuis farfalhando conforme caminhava com cautela até a caverna. Cada passo era lento, cuidadoso e os olhos cheios de ansiedade mesmo conforme ela parecia uma rainha sob a luz solar do meio-dia que fazia sua pele brilhar.

A caverna ergueu-se como de uma forma simples, mais parecia uma mina de carvão, as estruturas de madeira velha estavam partidas, pendiam para um lado enquanto os trilhos enferrujados também pareciam lutar para se manterem resistentes.

As asas desapareceram assim que Morrigan curvou-se para entrar na mina de carvão, tomando uma respiração funda antes das mãos brilharem como lamparinas antes mesmo do breu profundo alcançá-los.

—Merda... isso é um labirinto! Como vamos achar ela aqui? — Kazuha perguntou preocupado, seguindo Mor como segundo na fila apertada.

—Sinto o cheiro da magia dela. — Morrigan sussurrou com a voz embargada — Nunca esqueceria o cheiro da magia dela.

E aparentemente, Kamari também tinha sentido o cheiro da magia dela, as correntes que a prendiam firmemente contra a parede. Ela não gastaria sua força gritando, mas se mexia o suficiente para quase até mesmo apagar as poucas velas que iluminavam seu cubículo.

O peso de quase mil anos aguentando a ira de Kamari pareceu cair por terra no momento em que Morrigan encontrou os olhos cinzentos e ferozes da gêmea.

—Demorou, não? — A voz rouca e profunda de Kam ecoou pelos ossos de Mor, que precisou tomar uma respiração funda enquanto desfazia as correntes antimagia e tentava não cair aos pés da irmã em prantos, implorando por seu perdão.

Nathaniel não conseguiu ter o mesmo autocontrole, escondendo o rosto entre as mãos enquanto chorava, tentando conter os soluços com as palmas.

—Eu sinto muito...

—Pelo amor de Otsana! Não lamente por algo fora do controle, Morrigan!

—Eu deveria ter te procurado, lutado.... não queria...

—Você sempre foi a mais chorona, não é? — Kamari lhe deu um sorriso pequeno, bagunçando os cachos brancos da irmã gêmea com os braços magros e esguios. — Só fica feliz que eu tô aqui agora.

—Eu tô — Uma lágrima solitária escorreu — Eu tô muito feliz que está viva.

—É você — Lysandre interrompeu, os olhos verdes brilhando de uma forma sobrenatural ao olhar Kamari. Ela pareceu notar o que acontecia, oferecendo-lhe um pequeno sorriso ao vê-lo se colocar de joelhos diante dela — Juro te proteger.

—Não conseguiu me proteger durante mil anos, quem disse que eu preciso da sua proteção agora? — Kamari atirou, caminhando e passando por ele — Levante-se, há séculos de urina nesse chão e preciso sair dessa caverna.

Noite Eterna, Coração EtéreoOnde histórias criam vida. Descubra agora