Eles acordaram com Misha encarando as próprias mãos com terror no olhar, e então virarem-se para cada um deles com nervosismo antes de fixá-lo em uma Andrômeda confusa.
—Sai daqui — Ares pediu, mas a voz era tão cortante tal qual uma ordem.
—Eu sei que vocês não tem motivos para acreditar em mim, que eu os... uso todos os dias — Ela sussurrou, sabendo que Andrômeda era a única disposta a ouví-la.
Nem mesmo Sorscha, quieta e encolhida em um canto parecia se importar com a cientista naquele momento.
—Que bom que sabe disso, agora saia — Ares tentou expulsá-la novamente, sem uma gota de autoridade do lado de dentro das grades, mas tentando fielmente manter as amigas longe daquela manipulação toda.
—Vocês precisam me escutar — Ela avançou com cautela, o amarelo cinzento parecendo mais vívidos com desespero — Por favor.
—O que aconteceu? Você nunca se importou em falar com a gente antes, por que agora? — Foi Sorscha, para a surpresa de todos, que perguntou. Ela se aproximava com receio das grades, mas seus olhos tinham um feixe de verdadeira preocupação.
—É mais um truque dela, nã...
—Eles estão amaldiçoados — Misha declarou, e os amigos sabiam o que ela queria dizer com eles.
—Os Neera? — Andrômeda perguntou para ter certeza do que estava ouvindo, a voz falha como uma criança rouca — O que aconteceu?
—Eles estão sob um feitiço — Confessou com a voz transmitindo o amargor que cada parte do corpo transmitia na figura esguia e fina abaixo daquela gigantesca capa — Eles... eles foram amaldiçoados, todos.
—Desembucha — Ares se abriu para ouvir quando a elite divina foi mencionada.
—Aparentemente alguém muito forte queria eles longe dos objetivos dos Colerum e agora eles se perderam, Morwenna e os Anjos Dourados estão em completo desespero. O feitiço é simples, mas muito forte. Distorce tudo o que eles veem, eles vivem uma realidade com rostos e atitudes diferentes...
—Ondruhuking — Andrômeda interrompeu, os amigos a olhavam com confusão, Misha olhava-a com assombro — Meu pai praticava ondruhuking, ele dizia que era como sonhar acordado, só que ele desenha os sonhos das pessoas, transforma o azul em vermelho, o justo no cruel, o mau no bom. Até que você acredite que tudo é real porque sente como se fosse.
—Seu pai nunca te visitou, Andy, mesmo quando era mais nova: eu me lembraria disso — Misha refletiu — Se alguém te falou isso, com certeza não foi ele.
—Não... eu tenho certeza do que eu vi — Andrômeda garantiu, apenas estendendo as pernas à frente, o olhar ainda firme — Eu sei que foi ele.
—Claro... Claro — Misha se sentiu contrariada, mas forçou a compostura, precisava que eles acreditassem e confiassem nela — Eu preciso que tomem cuidado agora, as pessoas daqui de fora vão atentar contra a sua fé, mas precisam acreditar.
—Eu nunca deixaria de acreditar — Andrômeda garantiu, Sorscha concordou de imediato, e então todos olharam para Ares, hesitante diante do pedido.
—É... — Ele pigarreou, trazendo uma onda de desconfiança — Apenas estou vivo para servir aos desejos da Andraste e protegê-la: honrarei meu dever.
—Obrigado por acreditar em mim — Ela sussurrou — Cabe a mim, em nome da Sacerdotisa, espalhar a notícia e evitar que existam hereges pelo templo.
—Parece sangrento — Sorscha comentou — E Andy não come há alguns dias.
—Trarei sua refeição, fique tranquila — Misha acatou o pedido, se virando para a saída — Pela Andraste.
—Pela Andraste — Os três repetiram em um coro, despedindo-se dela.
—Então ela nunca nos abandonou — Sorscha foi a primeira a notar o que tudo aquilo significava, caindo de joelhos no chão da cela, as mãos agarrando as barras de ferro anti magia, a cabeça apoiada entre elas conforme lágrimas escorriam pelo rosto moreno perfeito.
—Ela ainda nos protege — Andrômeda sorriu empolgada, como se um enorme peso tivesse sido tirado de seus ombros. Ares permaneceu quieto, observando a comoção entre as amigas.
Mas a mente de Andrômeda se confundia como um cão cego entre paredes, lembrava do pai encostado na frente das grades, ensinando-lhe feitiços especiais que queria que ela lembrasse... mas e se realmente tudo fosse um sonho?
E se aquele medo que ela tinha em estar sozinha era o suficiente para fazê-la alucinar depois de tanta dor? Será que aquilo era possível? Ela só não queria estar sozinha, só isso que pedia.
Quando a pessoa chegou na cela de Andy e trancou-se sem saber o que o esperava, ela precisou descontar todas as dúvidas e frustrações naquela nova refeição, sentindo-se mal ao ouvir Sorscha vomitar ao fundo.
Ela realmente queria acreditar que a Andraste estava ali, mas se nem mesmo aquela divindade saía de um feitiço feito por pessoas inferiores, qual era a chance de que Andrômeda estivesse sendo fortalecida e assistida por ela?
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Noite Eterna, Coração Etéreo
RomanceRuelle é uma entidade criada para proteger o mundo, mas talvez o amor cegante possa comprometer sua missão e fazê-la destruir tudo aquilo que ela nasceu para preservar. Satori é uma jovem adulta com grandes poderes, mas talvez nem todo o poder do mu...