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Ruelle caminhava sem saber pra onde ia, os passos tão firmes e determinados que ela jurava que o chão tremia. E então ela estava de frente para a estátua de Otsana que se erguia em bronze em cima de um suporte. A raiva subia, ondulando com uma centelha de fogo perto de gasolina, a ameaça de um incêndio iminente.

—Entregue-se Andraste, você está cercada — Uma voz masculina desconhecida ordenou, e só então ela notou o grande círculo de armaduras douradas que a cercava. Ah... aquilo era uma má hora para aparecerem, condenando a própria morte.

—Trinta e seis... — Ela finalmente terminou de contar com um olhar gélido sobre eles, os pés se arrastando na grama conforme ela terminava de girar e contar — Ok, querem que eu use uma mão só para dar uma chance ou querem uma morte rápida?

—Não desejamos sua piedade, monstro — Uma outra voz ecoou, a pessoa dando um passo à frente, alheio ao sorriso de Ruelle que via na figura pequena, apenas uma chance de despejar seu ódio.

—Uau, resposta errada: por que eu não esperava? — Ruelle notou, e nem mesmo precisou de meio segundo de contato visual com a sua primeira vítima. Todos sentiram aquela geada congelante, mas ninguém reparou no que ela tinha feito até que o homem que a tinha afrontado caísse no chão e se despedaçasse como vidro. Congelado.

Ela sabia que aquela morte seria como abrir o portão do canil, mas ela adorou vê-los desnorteados, avançando contra ela com puro instinto de vingança. Mas a vingança por um amigo nunca se compararia com séculos de ódio e quase duas décadas de tortura.

Ruelle precisava que algum deles lhe acertasse um soco bem dado, satisfazendo-se quando sentiu o líquido quente escorrer pelo nariz, chegando aos lábios e manchando os dentes brancos de rubro. Era como se aquela dor a lembrasse que ela estava viva, que estava ali ainda, que não era apenas ódio.

Que pelo menos ela sentia algo além daquilo.

Mas a irritação e o senso de autopreservação cresceu, fazendo-a disparar labaredas de fogo prateado conforme seus braços tinham a fluidez da água. Tentava se lembrar que eram crianças, mas sua raiva ondulava com tanta força pelo corpo que as chamas tomaram um tom profundo de negro, derretendo até mesmo sua pele.

Só que a dor de ser queimada pela própria magia era inteiramente anulada pela dor de ter visto a própria irmã morrer, e ela não se importou, golpeando cegamente, agarrando a cabeça de uma garota, apertando-a até que o barulho dos ossos cedendo à força e ao calor fosse maior que o grito de sua irmã ecoando pela sua mente.

De longe, ouviu alguém gritar, mas todas as vozes se mesclavam, Ruelle não sabia mais o motivo que lutava — nunca soube. Apenas sabia que tinha que lutar, tinha que estar com raiva, tinha que aterrorizar os sete cantos do mundo, ser a onda de terror e suprimir sua luz em um poço tão escuro que sua magia pura tornou-se apenas um ponto distante até mesmo para a Andraste.

Ela sentiu quando as chamas formaram uma espiral de lanças afiadas ao redor de Rue, deixou que elas tomassem o próprio e encontrassem seus alvos. Tudo era alto demais, mas indefinido demais: ouvia o engasgar com o sangue quando sua lança perfurava o estômago ou a garganta, ouvia o grito ouvir alguém perder algum membro, o som oco quando a cabeça de alguns se tornavam geleia ao contato.

"Você não é assim" ela ouviu a voz de Kamari ecoar nitidamente pela sua mente, arrepiando cada pelo do corpo. A magia de Rue cantou em resposta, desaparecendo completamente. Ela olhou para os lados, ignorando os corpos caídos, a grama manchada de rubro, aqueles poucos soldados restantes que queriam atacá-la. Queria achá-la.

Mas não a viu, soube que era sua mente lhe pregando peças e sentiu-se traída pelo próprio corpo quando retornou apenas quando viu um cegante feixe de luz mirado em sua direção. Ela sentia o calor aconchegante da luz se tornar infernal, queimando-a, ameaçando derreter seus ossos. Mas...

Noite Eterna, Coração EtéreoOnde histórias criam vida. Descubra agora