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As coisas mudavam rápido demais, e Sorscha foi a única que conseguiu observar como tudo aquilo corria. Ares estava sendo mais afetado do que o de costume, Andrômeda tinha se tornado um demônio instável e ridiculamente forte em poucos minutos, como se a falta de fé fosse uma resposta que ela precisava.

Mesmo sem o irmão por perto, todos sabiam que o Anjo Dourado estava de volta, sempre com a faixa cobrindo-lhe os olhos e seu terço de pérolas brancas e douradas trançadas em suas mãos pálidas e esguias.

—Eu só preciso que me respondam uma pergunta, só isso

—O que foi? — Ares cortou a devota de capa branca e densa, raiva tão reluzente pelos olhos violeta que Sorscha se arrepiou.

—O quebra-cabeça está...

—Encontramos a última peça — A menina dragão falou, reconhecendo o que ela estava falando.

—Mas foi difícil, precisamos de um manual para saber onde cada peça vai, principalmente as brancas — Andrômeda pegou o código mais rápido que Ares, fazendo a capa perfeita do Anjo farfalhar enquanto ela virava-se rapidamente, estranhando a postura adequada para a idade da prisioneira.

—Elas sempre vão estar perto de Santolinas — Foi o que a Anjo respondeu, e Ares percebeu que ela, em todo esses anos, nunca tinha se importado o suficiente para lhes dar seu nome. Por que? O que aquele manto escondia?

—O que é isso? — Andy perguntou com o cenho pálido franzido, sentada no chão da própria cela.

—Uma flor amarelinha, minha mãe costumava plantar elas — Sorscha respondeu com um tom de melancolia — Você vai demorar para voltar?

—Alastor fugiu, creio que vá demorar um pouco até...

—O que? — A dragoa se levantou, os olhos laranjas cintilando como pura lava — Ele...

—Morrer? Alastor é muito inteligente para ser capturado, colocou o nome dele em uma missão de extração e desertou quando já estava fora do Instituto — A mulher respondeu com uma tranquilidade surreal — Eu vou tirar vocês daí, vocês sabem, né?

—Você não vai conseguir — Andrômeda garantiu — Eu sei que eles estão aumentando a segurança, sei que fortificaram a magia das barreiras e eles preferem nos matar do que nos deixar escapar.

—Ela tem razão, Ares e Andy estão mais fortes do que o esperado, ele até conseguiu envergar os metais antimagia, mas a gente sabe que se dermos dois passos para fora, a gente morre — Sorscha garantiu — Mas... Ninguém sabe mesmo de Alastor? Por favor, não deixa ele ser pego.

—Garanto que não deixarei — A anjo curvou a cabeça por um momento, um gesto pequeno, mas era o que bastava para que eles confiassem nela.

—Andrômeda, para — Ares grunhiu e Sorscha apenas pôde observar a amiga encarar o nada com uma frieza palpável. Acontecia com frequência demais, o descontrole, a fome...

Ela sentia as entranhas se consumindo e aquela pressão repentina nos ouvidos. Estava confusa, com raiva e triste porque depois de todos aqueles anos sofrendo por nada achando que um dia veria o lado de fora, ela simplesmente sabia que não havia nenhuma esperança para ela.

—O que ela fez? — O anjo perguntou, encarando as próprias mãos, movendo-as como se não acreditasse.

—O que foi? — Ares perguntou.

—Nada, eu... não foi nada — Andrômeda garantiu por si, desviando o olhar do anjo para o chão de pedras, encarando as imperfeições. — Eu devo estar com fome, só isso.

Ela se distanciava, tinha virado uma característica dela: era como se, em algumas vezes, Andrômeda sequer estivesse ali. Ela se sentia vazia, sem um propósito e o medo de tudo ter sido em vão ainda a assolava.

Andy tinha feito tanto... estava tão cansada que evitava quebrar os ossos de suas vítimas por puro medo do que faria com uma ponta tão afiada. Tinha passado a admirar a morte depois de tudo, porque o único sentido pelo qual ela se mantinha viva era uma mentira.

Ela odiava que Ares e Sorscha fossem obrigados a vê-la se deteriorar dia após dia, e esperava que, se seus pensamentos ganhassem, eles entendessem que ela apenas não suportava mais.

Respirar era doloroso, Os olhos sempre ardiam, a garganta sempre queimava e a cabeça... era o pior. Doía como o inferno, tão latejante como marteladas, escurecendo a visão repentinamente, os pensamentos eram tão perigosos quanto.

E de repente, com os poucos dias desde que havia ferido Ares na arena, ela começava a apreciar a ideia de apodrecer entre grades, porque ela tinha ódio demais, dezenove anos de dor e ódio guardado prontos para explodir. Andrômeda não confiava no que faria se estivesse solta.

Noite Eterna, Coração EtéreoOnde histórias criam vida. Descubra agora