3.8

5 1 0
                                    

Satori nunca deixaria Cordelia sozinha quando ela saiu, quase magoada com o que Macaria tinha lhe dito. A garota ruiva quase corria pelos corredores, tentando voltar para os dormitórios o mais rápido possível.

E então elas viram o vulto de cabelos e olhos brancos, Malaika surgir do absoluto nada e trombar tão forte com Cory que quase pareceu proposital, marcado pelo barulho de várias folhas caindo no chão, e tanto a própria Cordelia e Mally quanto Satori se ajoelharam para juntar aquele amontoado quase infinito de folhas e pastas.

—Isso foi longe demais, o pendrive é de vocês — Ela sussurrou, deixando o pedaço de metal escorregar por baixo da folha diretamente para a mão de Satori.

Cordelia e Sato se entreolharam com a fala da cientista, mas apenas ajudaram a juntar o resto dos papéis e caminhar para bem longe da garota antes de deixarem sequer uma palavra escapar.

—Você guardou? — Cory questionou, vendo a namorada assentir enquanto ambas seguiam para o quarto de Cordelia, admirando momentaneamente a suíte com uma gigantesca cama.

—Por que ela fez isso? — Satori questionou, mexendo nas gavetas da namorada até achar o laptop vermelho com diversos adesivos de cantoras indie — Espera, e se for um vírus?

—Da Malaika? — Cordelia perguntou incrédula.

—Bom, ela é filha do Alaric, né? Vai saber o que ela esconde — Sato respondeu, ligando e conectando o pequeno pendrive.

Cordelia se esgueirou para sentar no espaço entre as pernas da namorada, apoiando a cabeça em seu ombro conforme observava ela abrir o pequeno arquivo, dando-lhe um beijo no pescoço e pousando ambas as mãos na cintura exposta de Cory antes do vídeo realmente começar.

—Tá gravando? — Malaika apareceu no vídeo, o cenário no mesmo laboratório de Foloton que ela costumava trabalhar.

—Pode começar — Nesryn falou, surgindo no canto de um gigantesco painel com um mapa.

—Bom, a gente descobriu uma coisa hoje, tipo uma cripta, uma parte subterrânea do lugar — A garota loira explicou — O mais estranho, foi que tudo isso veio de um sinal de energia muito arrasador vindo... daqui, olha: tem um ponto quase vermelho nessa salinha — Malaika apontou quase no centro do mapa — A gente queria explorar, mas Circe e Alexina falaram que a gente deveria deletar tudo.

—E a gente não ia deletar, então tudo o que sabemos sobre esse lugar está no pendrive: mapas, sinais de calor... tudo — Nesryn complementou.

—Olha, a gente só gravou esse vídeo para explicar porque vocês estão com o mapa, a partir de agora, investigar ou não fica por conta de vocês, até mais! — Malaika se despediu, a câmera desligando momentos depois.

—Se esse era o único vídeo, por que tem isso? — Cordelia apontou para o outro arquivo assim que aquele vídeo se fechou.

—Clica aí — Satori pediu, vendo a namorada se inclinar para colocar o vídeo antes de se recostar e buscar o toque dela novamente.

Mas o cenário era diferente, como se fosse gravado escondido pela forma que a câmera se agitava. Eles desceram por aquela mesma cripta que os amigos tinham descido na noite de bebedeiras.

Mas seguiram quase infinitamente para a esquerda, cruzando alguns poucos corredores antes de chegar em uma sala com porta de metal que precisava de duas pessoas para abrir.

—Por que me chamaram? — Malaika perguntou com a voz trêmula.

—Precisamos que analise o sangue disso — Era aquela voz, sombria e profunda de um integrante de Conclave, Alaric — E eu não confiaria em ninguém além da minha filha.

—Não precisa me lembrar dos meus erros todos os dias, sabia? — Ela zombou — Saia, se quer que eu faça algo para você, pelo menos me dê o luxo da privacidade.

A imagem tremeu por mais um momento antes de um som alto ecoar.

—Okay, é... olha isso — Malaika agarrou o celular, gravando os arredores, focando em uma criança desmaiada com os braços e pernas amarrados na parede, a cabeça pendendo para frente — Ela nem deve ter mais que quinze anos, e tem uns baldes de sangue aqui... ah, porra, porra, porra! Foi ela! Ela deu o sinal! Ela é uma Andraste! — A garota do vídeo ofegou, a câmera tremendo novamente, focando nas gigantescas asas brancas arrancadas, pregadas na parede como troféus — Gente, vocês precisam tirar ela daqui, eles estão tentando matar uma Andraste.

Um silêncio eterno ecoa, a câmera parada em um ponto estratégico que pegava toda a sala, provavelmente uma câmera escondida que gravava perfeitamente todo o lugar.

E então um corte, bem discreto, mas definitivamente tinha um corte ali.

Mas nada importava quando as amantes assistiram ninguém menos que Inara entrar na sala como um furacão de cabelos cor de sangue, vestida em armadura grossa.

—É isso? — Ela perguntou para ninguém em especial — Isso é a Andraste de vocês?

—Fizemos a maldição como a senhora indicou nos livros, ela não consegue acessar quase nada da magia dela — Aideen indicou, e era a primeira vez que a viam tão submissa a alguém. — Se sente estranha, senhora? Temos que observá-la durante um tempo depois da sua ressurreição, custou muito de Rune para isso, queremos garantir que não haja efeitos colaterais.

—Se eu precisasse de cachorros lambendo minhas feridas, eu diria.

—O que foi isso? — Satori questionou com o olhar vidrado na tela, Cordelia fechou o computador com força atordoada.

—Eu sonhei com essa garota — Cordelia confessou com lágrimas brilhando em seus olhos cor de canela, virando-se para a namorada com amargor — Eu juro que eu sonhei com essa garota me pedindo ajuda.

—Cory... — Satori se endireitou antes que a primeira lágrima caísse, colocando as mãos no rosto da amada, acariciando-lhe as bochechas, mesmo quando a garota olhava para cima numa tentativa falha de não chorar. — Cordelia, eu tenho certez-

—Eu não sei o que tá acontecendo comigo — Ela confessou enquanto lágrimas escorriam-lhe pelo rosto perfeito, a voz tão embargada que era quase impossível entendê-la — Eu... meus poderes estão confusos, eu não sei controlar eles e eu tô morrendo de medo de te machucar com isso e...

—A gente vai resolver isso — Satori garantiu com tanta convicção que a mulher se calou — Nem que a gente precise viajar para o outro lado do mundo, mas se isso vai te fazer se sentir melhor, a gente vai descobrir o que é, e você vai aprender a se controlar, tudo bem?

Satori sabia que não havia consolo nenhum em dizer "você não vai me machucar", porque tinha perdido as contas de quantas vezes as pessoas tinham lhe falado isso logo depois de serem quase mortas pela fúria Fulgora de Sato. Cordelia não precisava de uma mentira, precisava se sentir segura consigo mesma, e a garota faria de tudo para que sua amada se sentisse dessa forma.

Noite Eterna, Coração EtéreoOnde histórias criam vida. Descubra agora