Na manhã seguinte à visita ao massacre da estátua, o lugar era um campo minado: Inara parecia realmente odiar Ruelle, e convicta de que haviam traidores. Mas Satori sabia que seria menos conturbador estar na mira dela por ser suspeita de motim, do que por puro interesse.
—Ela não vai sair daqui? — Satori perguntou para Kinessa, que tinha se distanciado e se tornado ainda mais exigente do que costumava ser com o grupo de amigos.
—Acha que eu estou gostando disso? Você sabe muito bem por que ela está aqui. — Kim a lembrou, vendo a pupila dar de ombros com entendimento e frustração no mesmo teor, voltando a amarrar as fitas de tecido na mão para continuar lutando.
—Eu odeio essa merda de legado antigo Fulgora — Sato bufou, voltando a esmurrar os três sacos de pancada que a rodeavam.
Cordelia, por ordens de cima — Circe e Alexina — tinha sido isolada no próprio quarto, e para todos os efeitos: ela estava terrivelmente doente, e por isso precisava da supervisão das mestras algumas vezes.
—Posso visitar ela hoje? — A garota sussurrou quando socou o saco mais próximo de Kinessa, que assentiu uma vez, discretamente — Valeu.
—Ajeita essa postura ridícula — A mulher ordenou, açoitando-lhe a coluna torta com uma rajada de vento que a fez reclamar e arregalar os olhos amarelos — Continua, e direito.
—Não deveria pegar tão pesado com ela — Inara se aproximou, e Satori precisou morder a língua para evitar contrariar a zumbi, que aparentemente tinha um título maior de Caçadora da Conclave. — Você é a garota que não consegue lutar, não é?
—Já estamos resolvendo suas barreiras mentais — Kinessa informou, mas calou-se assim que um dedo adornado de ouro ergueu-se em sua direção.
—Podemos resolver isso com alguns poucos rituais e estará pronta para guerrear, quer? — A mulher ofereceu, e por um momento, Kim se viu mais como mãe de Satori do que apenas uma treinadora. Queria colocá-la atrás de si e defendê-la de qualquer interação com aquela criatura.
—E que honra tem em fazer rituais assim? Quero aprender na raça. Se eu quisesse feitiços, já teria executado um — A pupila respondeu preguiçosamente, confortando-se com a centelha de orgulho que passou pelos olhos castanhos esbranquiçados da própria mestra.
—Tenho certeza que se arrependerá disso durante a grande batalha que virá. — Ina deixou que a ameaça pairasse — Não virão para o duelo no Coliseu? Soube que é uma de suas amigas que lutará.
—Não, ela tem treino — Kinessa descartou para ambas, vendo a mulher sair em passos duros, o único sinal de frustração dela.
—Que medo — Satori riu, endireitando-se — Agora posso parar de socar e vamos para um treino de verdade?
Willa chegou mais cedo, sentando-se na primeira fileira do grandioso coliseu que se erguia como esculturas da Grécia Antiga, observando a arena lotar sob o sol escaldante do meio-dia.
"Duelo de hoje: Macaria Dashwood e Leonor Vatrik" uma voz robótica declarou ali dentro, Miara estava do lado esquerdo da multidão, ao lado de sua pupila, e foi ali que a curandeira pôde concluir que Leonor era apenas um reflexo de sua mestra.
Os cabelos loiros da aprendiz estavam presos num rígido rabo de cavalo, que deixa os fios lisos caírem até os ombros, mas os olhos cor de caramelo eram um aviso sensato de que ela não se importava em matar ou deixar morrer.
Willa ouviu ofegares quando Leo deu o primeiro passo em direção ao centro da arena, levando consigo uma lança branca com a ponta esculpida em obsidiana. Todos observaram ela cruzar o chão de cimento queimado, arrastando a lâmina da lança que faiscava contra cada imperfeição.
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Noite Eterna, Coração Etéreo
RomanceRuelle é uma entidade criada para proteger o mundo, mas talvez o amor cegante possa comprometer sua missão e fazê-la destruir tudo aquilo que ela nasceu para preservar. Satori é uma jovem adulta com grandes poderes, mas talvez nem todo o poder do mu...