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—Podia muito bem ter ido com eles para o centro, sei que gosta dos bares de lá — Rue falou para Kaz, que por algum motivo tinha decidido de última hora que iria ficar junto com ela na casa.

Kazuha tinha um excelente motivo para ficar ali, ao lado de Ruelle — mesmo que existissem milhares de outros para que ele não ficasse.

—Não quis sair — Mentiu, na verdade realmente adorava passeios noturnos no centro, mas não queria ir sem Rue, seria assumir algo que ele ainda não estava pronto. Assumir que estava deixando Ruelle para trás.

Não queria abandoná-la, nunca.

—Vai, desembucha — A mulher se cansou — O que tá rolando, por que você tá todo esquisito?

Ele permaneceu em silêncio, com as palavras presas na garganta, mas se recusando a falar. Não sabia o que falaria. Estava confuso, mas de alguma forma nunca esteve tão certo de algo em toda a sua vida.

—Kaz, me responde — Ela pediu, ficando preocupada com o que aquilo poderia significar — Kaz, a gente teve quase um milênio para você começar a agir estranho agora? — E foi ignorada novamente, levantando-se de súbito para ficar de frente com ele — Hyota, eu mandei você me responder.

Os olhos escarlate se viraram para ela com a velocidade de um raio, repentinamente concentrado ao ouvi-la chamar pelo nome verdadeiro. E só ali ele entendeu que ela não estava irritada ou nervosa... estava preocupada.

—Eu tô confuso, Rue — Esclareceu por fim — Eu tô confuso, arrependido... era isso que queria ouvir? Que eu não sei o que fazer?

—Eu quero ajudar, Kaz, só isso — Ruelle soltou — Eu só quero que você não me afaste, se o problema foi o que aconteceu entre a gente... se você tá tão arrependido, finge que não aconteceu, simples assim.

—Simples assim? — Ele repetiu, colocando uma mecha da longa franja para trás, o que ele costumava fazer quando estava se irritando. E realmente estava, Kaz levantou-se para ficar cara a cara com Rue - Eu posso me arrepender de muitas coisas, mas não pense nem por um segundo que me arrependi de ter fodido você.

E simples assim, todo o discurso bem feito que ela tinha para se reconciliarem, tinha ido por água abaixo quando o viu assumir aquilo. Sentiu o próprio coração disparar com as palavras que ainda retumbavam por sua mente, o estômago repentinamente contorcendo-se em ansiedade.

—Não quis falar isso. — Aquela fala sufocada talvez nem passasse de uma lufada de ar fonética. Ela nunca tinha sequer cogitado que talvez houvesse outro problema, totalmente convicta que tinha algo relacionado com aquela noite. Até que repentinamente não era.

Uma onda de choque percorreu seu corpo todo quando as mãos de Kaz seguravam sua cintura de forma firme demais. Era como se repentinamente não importassem as consequências.

—Eu não posso ficar mais perto de você — soprou, deixando Rue completamente imóvel como uma estátua, cujo apenas os olhos não se desviavam por um momento do rosto dele. — Eu a provei uma vez, e agora eu a quero o tempo todo, simplesmente não consigo ficar perto o suficiente... Não consigo parar de pensar em você, não consigo... sentir o suficiente de você.

Ele se permitiu sentir o toque de Ruelle quando ela escorregou as mãos pelo seu rosto, acariciando-o mas sem nunca desviar os olhos dos seus, com aquela intensidade que ia muito além do descritível.

O silêncio eram as únicas palavras que expressavam o diálogo incessante das próprias almas entrelaçando-se umas às outras, a quietude do campo era coberta pelo som quase palpável da tensão entre os dois, das respirações das tentativas falhas de se manterem estáveis.

Não durou muito tempo, logo o desejo em sua forma mais selvagem e bruta os tomaram num simples selar de lábios, as tensões foram esquecidas, substituídos pela chama ardente que reacendeu-se dentro do casal.

Havia uma certa ironia na contenção: Kaz havia tentado com tanto afinco se manter distante de Rue, mas aquela distância apenas os tornava mais sensíveis um ao outro, transformando aquela pequena chama que queimava entre eles, num mar violento de lava.

Mas Kaz estava, novamente, sendo escravo de seu próprio espírito e suas necessidades, tão... irreverentemente entregue que sabia, simplesmente sabia que iria adorá-la a noite inteira como a deusa que ele a via como.

Noite Eterna, Coração EtéreoOnde histórias criam vida. Descubra agora