—Cadê ela? — Circe questionou, olhando todos que estavam ali, desesperando-se ao notar que não tinha sinal nenhum de que Satori estava por ali.
—Precisamos ir — Alexina esclareceu, mas sequer estava olhando para ela, observando o grupo apoiado ao redor do arco dourado de Colerum.
—Eu não vou sem ela — A Fulgora se exaltou, os olhos estreitos como se duvidasse que Alex lhe tinha sequer dito aquilo. — Ficou maluca?
—A gente busca ela depois, mas a gente tem que ir — Kinessa esclareceu.
—Você viu a Sato? — Macaria perguntou para Maven, sentado na grama e observando o caminho de lajotas como se a amiga fosse surgir magicamente.
—É você perguntando ou a Cordelia que não para de me encarar?
—As...duas, eu também sou amiga da Satori, que tipo de pergunta foi essa? — Ela analisou com ultraje.
—Eu não sei — Ele respondeu com um sorriso sarcástico, mas não havia ironia nenhuma em seu tom — Pedi para ela trancar o quarto, não sabia que ela ia se trancar para o lado de dentro.
Macaria sentou-se a o lado de Maven, apoiando a cabeça em seu ombro como um pedido de desculpas silencioso. Ela odiava brigar com o Condutor, não porque ela odiava brigar — talvez isso também —, mas porque queria o amigo para todos os dias da vida, um irmão.
—Eu não quero ser sua inimiga, Mavs — Ela sussurrou — É só que... ninguém procurou Cordelia, fiquei preocupada que ela pudesse fazer alguma loucura.
—Eu sei — Ele respondeu, envolvendo-a num meio abraço — Mas sabe porque estavam todos atrás de Sato: se ela some, alguma vida some junto. Quando procurei ela, estava tentando proteger os outros dela por ela.
—E no final das contas, cadê ela? — Macaria tentou brincar.
—Não sei, mas acho que Circe também vai acabar desaparecendo de preocupação.
—Vão sem mim então, eu arrumo um jeito de tirar ela — Foi o que a Fulgora tentou insistir para Alexina e Kinessa.
—Você ficou maluca? — Kim questionou, a voz baixa e mortal. Mas nada trazia mais intimidação do que o tamanho dos músculos ao vê-la cruzar os braços — Sabe que isso vai virar um quartel assim que notarem que escapamos.
—Eu dou um jeito, mas não vou sem ela, porra! — Circe repetiu.
—Eu tô aqui — Satori chegou, ofegante ao surgir ali no meio, as mãos nos joelhos para recuperar o fôlego. — Cheguei, tô aqui.
—A gente percebeu — Maven notou, ficando de pé — Que merda aconteceu com você?
—Inara aconteceu, aquela puta fez um interrogatório comigo. — Ela esclareceu, ficando de pé — Agora a gente vai continuar enrolando ou vamos...
—O que ela perguntou para você — Kinessa questionou, e Sato até mesmo poderia achar que era preocupação.
—Ela só queria saber se poderia ter algum traidor entre nós — A Fulgora mais nova sentiu o peso do olhar dos irmãos Dimitri assim que terminou a própria frase.
—Eles chegaram — Nesryn se aproximou.
—Nossa carona tá aí, melhor irmos antes da ronda começar — Kin pediu, ainda com os braços cruzados.
E todos se espremeram dentro da grande van ao lado do portão, observando Kinessa entrar no banco da frente sem pedir licença e ninguém pareceu sequer se importar.
Eles sabiam, todos eles sabiam e Satori deveria parecer uma grande idiota para todos.
Ela se sentou no fundo da van, esperando que Maven fosse sentar ao seu lado, mas foi Orion que entrou antes, tomando o lugar ao seu lado como se lhe pertencesse, e se a Fulgora não gostava dele antes, o odiava agora.
—Você...
—Eu não abri o bico — Satori o respondeu, a voz trêmula como se ela tentasse conter a própria raiva.
—Obrigado. — Ele foi respondido com um ruído de aceitação, e ela rezou para ele... — Ela não queria ter escondido de você —... calar a boca, deixasse-a em paz — Eu insisti, eu achei que...
—Não fode, tá bom? — Sato se sentiu na obrigação de interromper, sentindo o corpo esquentar para além do vinho que ainda se revirava em suas entranhas.
E ele ficou em silêncio, não poderia dizer que estava triste por ela estar com raiva dele, mas Orion conseguia sentir a tristeza da irmã mais nova até mesmo do outro lado da van.
—Sabe algo sobre isso? — Inara perguntou-lhe com delicadeza.
—Com todo o respeito, mas se alguém sequer insinuou isso, provavelmente queria fazer você de trouxa — Satori explicou com convicção.
—Não há possibilidade nenhuma de estarem mentindo para você?
—O que Orion não diz, Cordelia faz questão de dizer para mim. Ela nunca escondeu nada, não esconderia algo assim de mim — As palavras voltavam para si com um nó em sua garganta — Foi Leonor que te contou, não foi?
—Ela me comunicou ter ouvido uma discussão entre você e senhorita Dumitrescu, e que ela ser uma traidora foi a motivação principal para o ocorrido — Inara insistiu, as mãos entrelaçadas na frente do corpete branco apertado o suficiente para a Fulgora duvidar que ela estava respirando.
—Essa é a hora que eu te conto que Leonor iria lutar contra Cordelia na Graduação, se ela fosse misteriosamente desclassificada, Leo automaticamente seria uma heroína graduada — Eram fatos, verdades irrefutáveis perfeitamente entrelaçadas com mentiras. — Cory é fiel, entrou com uma sede que nem eu entendo de matar vilões, nunca nos trairia.
—Eu não sei como te agradecer por ter me deixado levar eles, de verdade mesmo — Ruelle insistiu no banco do motorista, observando quando a antiga amiga entrou.
—Você está fedendo a Kazuha — Kenna falou, sentindo o peso da complexidade do olhar da amiga tentando decifrá-la — Finalmente.
—Bom saber que algumas coisas não mudam — Ruelle notou, dirigindo pelas estradas escuras da madrugada — As coisas ficaram muito ruins?
—Coincidentemente, todos dentro da van iam se tornar alunos da Inara, aquela louca soube quem eu era assim que a encontrei — Confessou com um suspiro, apoiando a mão na testa.
—E como você ainda está viva se ela sabia que você era a "mulher de várias faces"? — Rue perguntou com uma dúvida nítida, os cachos brancos presos num coque volumoso.
—Eu sinceramente não sei e nem quero saber — Ela respondeu com sinceridade — Ela queria que eu fizesse a parte difícil de treinar eles, depois pegar todo o crédito talvez.
—Bom, acho que essa é a hora de ir para casa, depois de quatrocentos anos sem você por lá — Rue suspirou — Você fez falta.
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Noite Eterna, Coração Etéreo
RomanceRuelle é uma entidade criada para proteger o mundo, mas talvez o amor cegante possa comprometer sua missão e fazê-la destruir tudo aquilo que ela nasceu para preservar. Satori é uma jovem adulta com grandes poderes, mas talvez nem todo o poder do mu...