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—Acho lindo a forma que Kaz só aceitou que não ia conseguir fugir do amor dele por Ruelle — Kenna brincou, sentada naquele novo sofá gigantesco da sala.

—Aceitar? Passaram os últimos duzentos anos sempre no "quase", até uns meses atrás — Lysandre explicou com uma carranca — Agora eles não se desgrudam a não ser que seja necessário.

—Isso faz dele meu... pai? Padrasto? — Melione fez uma careta, encarando a cara de paisagem de Lia — Tipo, ela é uma mãe para mim, literalmente a vejo como se ela tivesse me parido e cuidado de mim. Se ela tá com Kaz... então ele com certeza é algo meu.

—Agregado — Kenna a respondeu — É bom ver que estão todos bem.

—Alguns melhores que outros, né Lia? — Ethan brincou com a irmã ao seu lado, que o encarou com dúvida — Aquela loirinha com quem você troca olhares.

—Macaria? — Kinessa falou mais alto que Kenna.

—Ela era uma barista do café que eu vou, a gente só se conversou um pouco, nada demais.

—Agora tá explicado por que ela pergunta tanto sobre você — Melione informou.

—Ela pergunta?

—Você se faz misteriosa, ela queria até saber qual era o seu lugar favorito em Notremor e como chegar lá.

—Ela é uma criança, Lia, você literalmente já transou com a dela.

—Ah, Lysandre! Eu e Fallon somos um assunto morto.

—Assim como a própria Fallon, que Otsana a tenha — Talon zombou, automaticamente colocando a mão na frente da boca, como se aquilo tivesse saído por puro impulso.

—De qualquer forma — Lia o repreendeu com o olhar — Sei que não devo me envolver com ela. E não irei.

—Pergunta a mesma coisa na rave pós batalha, se a Lia hesitar, pode saber que rolou ou vai rolar — Melione esclareceu — E também, ela tem vinte e...

—Vinte e três — Kenna a informou.

—Então, o problema é o gap entre as idades, mas se contar que você tem cara de sei lá, uns trinta, vinte e sete, não é nada!

—Primeiro: uma semana com eles e já tá falando gap? Segundo: tá realmente defendendo que Lia tenha relações com alguém dessa era?

—Olha, Lys, só tô falando que é meio errado falar como se ela realmente estivesse prestes a cometer um crime. Ficar com alguém bem mais novo é esquisito, mas não chega aos pés da repugnância que seria ela falar que está interessada em, sei lá, a Sage! — A Necromante explicou com calma.

—Verdade, Sage, Nathaniel e Darya desapareceram... — Talon refletiu.

—Estão numa casa distante em Notremor, não querem nem mesmo correr o risco de capturarem Sage.

—E conseguimos achar algum antídoto para isso?

—Para o que? — Kaz perguntou para Ethan. Todos nem mesmo conseguiram pensar rápido o suficiente para disfarçar a tentativa de disfarçar.

—Willa tá tentando desenvolver uma cura prática para feitiços necromantes — Melione foi a mais ágil entre eles, e Kenna jurava que já tinha notado aquela postura na própria Ruelle.

—Ah... achei que era algo importante, estavam cochichando — Kazuha saiu da casa sem falar com mais ninguém, seguindo pelo gramado alaranjado pelo crepúsculo vespertino.

Tinha notado quando Ruelle saiu inquieta do quarto dele, e realmente percebeu que ela não estava bem assim que a viu golpear com força uma árvore qualquer, os bastões metálicos amassando o tronco e deformando-o.

—Calma aí, a árvore não te fez nada! — Kaz a interrompeu, aproximando-se dela.

—Achei que tinha dormido — Ela o respondeu, ofegante e suada, deixando claro que estava há muito tempo fazendo aquilo.

—Ainda está anoitecendo, estava só... de olhos fechados — Ele tentou brincar, dando-lhe um pequeno sorriso e sendo respondida com um revirar de olhos. — Mais um dia, né?

—Mais um dia — Rue o respondeu com um sorriso genuíno, os olhos brilhando como sempre faziam ao vê-lo — Como foi com os seus.

—Um saco, mas pelo menos Orion e Maven sabem ouvir ordens.

—Sorte a sua, precisei de umas sessões terapêuticas com Sato até ela soltar a primeira faísca — Kazuha se sentou na grama, Ruelle fez o mesmo, apoiando a cabeça em seu ombro. — Dessa vez é você que parece tenso.

—Sei que tá escondendo algo de mim, Ruelle — Ele sussurrou — Só... não quero que cometa alguma estupidez nessa guerra: tô com um pressentimento horrível.

—Se continuar assim, vou achar que não está confiando em mim — As palavras rolavam amargas pela língua, mas ela precisava mantê-lo distante da verdade.

Se ele desconfiasse, sequer por um momento do motivo pelo qual Sage tinha sido mandada para longe, se ele descobrisse sobre a nova arma que tinham inventado.

Aquilo acabaria mal, muitos morreriam e Rue tinha certeza que a cabeça dele estaria entre os mortos.

—Você é minha Priskari, óbvio que eu confio em você — Ele esclareceu, envolvendo a mulher num meio abraço — Mas me promete que não vai fazer nenhuma loucura?

—Posso te prometer que é uma loucura calculada — Ruelle tentou aliviar o risco e recebeu uma risada baixinho em resposta.

—Tá... acho que isso é o máximo que vou arrancar de você, né?

—Minha estratégia para vencer ela por definitivo vai funcionar, prometo pra você que vai.

—Espero que sim, de verdade — Kaz lhe beijou a testa morena entre cachos brancos — Agora que a gente tá desse jeito, posso te impedir de me julgar ao falar que você consegue fazer tudo parecer lindo quando é... bom você que faz.

—Como assim?

—Estou querendo dizer que ver você no seu modo de matar, me atrai de uma forma indescritível, Ruelle — Ele sussurrou — Eu diria que é até um incentivo a mais nas batalhas.

—Quantas vezes já quis me falar isso? — Rue o perguntou.

—Mais do que você sequer pode imaginar, confie em mim... tenho muitos segredos sobre você que guardo.

—Devo ter medo?

—Não, são coisas que você adoraria jogar na minha cara. — Kazuha a respondeu.

—Kaz, sabe que eu... — Ruelle tentou falar, mas as palavras ficaram trancadas na garganta... ela se endireitou para olhá-lo, mas não conseguiu dizer — Eu odeio muito ter que lidar com esses malditos jovens e não poder passar o meu dia com você.

—Sei disso, penso a mesma coisa.

E as palavras morreram no estômago de Ruelle.

Eu amo você.

Noite Eterna, Coração EtéreoOnde histórias criam vida. Descubra agora