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—Tá brincando comigo! — Alexina esbravejou com um sorriso no rosto, mas não havia sequer uma gota de alegria ao invadir o escritório de Circe, arremessando o pendrive na mesa da mulher — Que merda é essa?

—Tu disse que queria uma revolução, estou dando-lhe uma revolução como tu pediste — A mulher esclareceu com uma calma letal na voz estrondosa, sequer desviando os olhos amarelos do computador.

—Não com crianças, porra! Isso é para protegê-las, por que mataríamos elas? — A treinadora arrancou as luvas, afastando as cadeiras da mesa de vidro para se curvar sobre o computador — Você pensou na merda que isso poderia dar?

—Não tem como oferecer liberdade para quem nem sabe que está preso, Alexina — Circe a lembrou, recostando-se da grande cadeira de couro, finalmente olhando-a — Lembra que a minha irmã mais nova estava na lista dos que iam receber o pendrive.

—Você é inacreditável! Eu nunca disse que eles precisavam saber.

—Saber do quê? — Nesryn abriu a porta sem delicadeza alguma, como se a cautela nos olhos cinzentos simplesmente não existissem em nenhum ato.

—O que você tá fazendo aqui, Ness? — Alexina indagou, tentando não transparecer a irritabilidade que sentia ardendo em seu sangue.

—É... É que vocês não vão acreditar se eu falar.

Malaika era nova como todos os Elite veteranos, mas seu sobrenome poderoso e sagacidade indispensável fizeram ela vestir o jaleco branco de Foloton, exibindo o crachá prateado de líder investigativa de Fenômenos Alternativos.

—Espero que valha o meu tempo — Circe falou assim que as portas de vidro do laboratório se abriram magicamente e Nesryn vestia o próprio uniforme de Estatigiária de Fenômenos Alternativos e Raças Mestiças.

—Vai valer, confia em mim — Malaika contestou com a voz mansa e penetrante, prendendo os cabelos brancos artificiais num coque volumoso.

—E então? — Circe as apressou com a voz grosseira, cruzando os braços.

Mas Aika era calma como a brisa do vento, arrastando-se elegantemente e ligando os gigantescos monitores que cobriam quase uma parede inteira, movendo-se de volta para o próprio computador ao lado, exibindo gráficos e um mapa.

—A planta de Soloton? Me chamaram para isso? — A caçadora cruzou os braços no uniforme preto, e Nesryn precisou segurar uma risada ao notar que a impaciência de Circe era idêntica ao de Satori.

—Ontem de madrugada teve uma onda absurda de energia na Academia, tipo... — Malaika apontou o dedo para o pico que ocupava quase dois monitores no gráfico de fluxo de magia que mal passava de uma variação de riscos pequenos em uma linha contínua.

—A gente achou que fosse algum mestre treinando, mas as câmeras da Academia não mostram nada — Nesryn esclareceu.

—E quando a gente foi mapear esse pico misterioso, a gente conseguiu mapear toda a Academia

—Mas era muito maior que Soloton.

—Era uma cripta. — Malaika encerrou, e ambas deixaram um pouco daquela amizade sinérgica aparecer, Alexina refletiu por um momento, desligando-se dos fatos para admirar a forma que ambas pareciam se completar.

Uma cripta. — Circe repetiu com a mesma certeza, e Alex a olhou com um alarde quase exagerado.

—A gente não consegue saber como entrar, mas temos algumas ideias: já temos o mapa do lugar, só para você ter ideia da energia que a coisa lá embaixo soltou — Nesryn cruzou os braços, apoiando-se no painel de controle enquanto falava.

—Talvez uma pessoa. — Malaika sugeriu, mas a amiga apenas balançou a cabeça, sacudindo o volumoso cabelo roxo.

—Uma pessoa? Com essa energia? Só uma Andraste faria isso, e a única Andraste que existe está bem livre. — Ness justificou, vendo a amiga aceitar o fato com um revirar de olhos.

—Apaguem todos os registros que encontraram sobre isso — Circe ordenou, ignorando completamente os olhares de alerta de Alexina, que prendia os curtos cabelos lisos atrás da orelha, preocupada.

—O que? Não pode estar falando sério — Nesryn se endireitou, os olhos cinzentos estreitos, duvidando do que estava ouvindo.

—Estou falando bem sério: deletem absolutamente tudo o que encontraram sobre essa cripta — a voz de Circe era como os trovões que conjurava, mas soava mais preocupada que ameaçadora — e se amam a vida de vocês, nunca mais vão tocar no assunto com ninguém.

Nesryn e Malaika estavam tão orgulhosas da própria descoberta que se sentiram incapazes de processar a ordem, Ness buscou abrigo e contradição nos olhos âmbar da mestra, mas ali só havia pedância e amargor.

—Só façam o que ela está mandando, isso é para o bem de vocês: acreditem. — Foi a última coisa que Alexina falou antes de ambas as autoridades saírem do laboratório.

Nesryn caminhava direto para o computador, os passos lentos como se fizesse seu momento de glória pós descoberta durar um pouco mais. Mas bastou que tocasse no teclado, para sentir o toque leve e frio de Malaika.

—O que cê tá fazendo? — Ela perguntou para Ness, que a respondeu com um dar de ombros.

—Deletando os arquivos, assim como elas pediram — A garota falou, mas a amiga balançara a cabeça numa negativa fervorosa — E o que eu espera que eu faça?

—Você é amiga daquela Fulgora, não é? A aluna da Kinessa — Aika perguntou, e se viu capaz de gargalhar quando recebeu aquele olhar de relance, desconfiado e acusador.

—Sim, a irmã da mulher que acabou de mandar a gente deletar os mapas, o que você quer fazer com ela? — Nesryn cruzou os braços, percebendo quando a cicatriz no olho esquerdo dela brilhou em branco por um momento antes de voltar a parecer apenas uma cicatriz. — O que é?

—Até onde eu e mais outra metade da Academia sabe, elas se odeiam muito — Malaika a lembrou — Eu tentei pensar nos motivos pelo qual elas deveriam ter problemas, e seria bem irritante para Circe, a co-líder da Conclave, que a irmã dela fosse da Oposição, né?

O olhar de Nesryn se distanciou, pensando, pensando... A boca se abriu num O perfeito, balançando a cabeça repetidas vezes em negativa.

—Não, mas nem fodendo — Ela negou — Cê pirou de vez? Quer descobrir se a Sato é da Oposição com base em uma teoria?

—E qual teoria minha não estava certa? — Malaika arqueou uma sobrancelha prateada — Vamos, eu quero muito saber o que tem lá.

—Eu vou me arrepender tanto disso.

Noite Eterna, Coração EtéreoOnde histórias criam vida. Descubra agora