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Orion parecia empenhado em manter Satori distante de Cordelia, mas aquilo era um erro. Atiçava intensamente a sua curiosidade e preocupação, havia poucas horas desde que tinham se visto da última vez, o que tinha mudado?

—Você também não conseguiu falar com a Cory, né? — Maven notou assim que Satori entrou no seu quarto, respondendo-o com um acenar negativo.

—Sabia que Kinessa é a Kenna? — Ela se revoltou, jogando-se na cama.

—E você não sabia? — Sato ficou com ainda mais raiva, sentando-se de súbito — Espera... você não sabia mesmo?

—Como você sabia?

—Como você não sabia! — Maven sorriu num nítido deboche — Por Otsana, você é a que mais passa tempo com ela e não sabe?

—Todo mundo sabe? — A garota franziu o cenho, vendo Maven assentir.

—Por Otsana! Kenna é de duas raças muito raras: Anima e Elementalista ao mesmo tempo — Ele explicou pacientemente, mas parecia achar graça da confusão da amiga — E então temos uma guerreira milenar da mesma raça e que coincidentemente é experiente em Neera e é fluente em Rúnico? Como você não desconfiou?

—Achei que ela só fosse um glossário como você — Ela confessou, suspirando e bagunçando os cabelos em puro nervosismo — Já que você sabe de tudo isso, também saberia o que é uma Radiante, né?

Isso eu não te culparia de não saber — Maven explicou, arrastando a cadeira até a pequena estante de livros ao lado da própria cama, pegando o mais velho que tinha. — Aqui, mapeamento de todas as raças extintas.

—É uma raça? — Ela perguntou se aproximando para observar o livro.

—É tipo uma sub raça, tipo Psiqués como raça e Soulborns como sub raça, tem tudo de talentos específicos e... puta merda, como que esses Radiantes foram extintos? — O garoto parou por um momento, passando os dedos pelas páginas amareladas e os desenhos manchados e destruídos.

—O que é afinal?

—Sub raça Fulgora, e definitivamente a mais forte que eu já vi — Ele confessou — Era uma classe inteira só de manejadores de Chakra, uns fodões de raios vermelhos, mas por que o interesse repentino?

— A... hãn... Andraste, me chamou disso, fiquei curiosa — Maven pareceu achar graça, sem sequer se importar que estavam falando sobre a criatura mais forte existente.

—Ela te confundiu então, pode ter certeza — Maven notou — Tipo, você é temperamental, mas eles são perigosos pra cacete. Além da coisa de controlar Chakra e os raios serem vermelhos.

—Os meus são bem amarelos.

—É — Ele concordou, esfregando as têmporas pálidas — percebi isso quando você quase me cegou durante um treino.

—Já te pedi desculpas, para de ser fresco! — Ela exigiu com um pequeno sorriso — E esse Hulgora, escreveram errado?

—Não, são tipo os pais dos Fulgora ou algo assim, quer dizer que eles tem sangue antigo ou algo assim — Maven estava mais se gabando de saber do que explicando — Mas fica tranquila, você teria que ser sentimental e maluca da cabeça para ter a possibilidade de parecer uma Radiante.

—Isso deveria ser um consolo? — Ela perguntou, mas sentia-se mais pesada que o normal.

—Bom, acho que sim. Significa que você não vai ser caçada por uns psicopatas da Conclave — Maven a lembrou sem animação nenhuma.

—Mas se eu tivesse um poder desse, com certeza ia ficar brincando de "toca aqui" com todas as pessoas que eu odeio — Ele idealizou, recebendo um pequeno empurrão.

—Não me dá ideia — Sato aconselhou com um sorriso pequeno.

—Sabe que a porta de Cory tá sempre aberta, né? — O garoto sabia que a amiga provavelmente estava se roendo para descobrir o que justificava a distância da namorada. — Faz uma surpresa , se esconde no banheiro dela, sei lá!

—Mas como vou me esconder com ela lá?

—Ela não tá no quarto, nem ela nem Orion, saíram invisíveis por aí e não sei quando voltam.

—Como você sabe? — Satori perguntou, repentinamente, descobrindo algo sobre o amigo.

—Efeito colateral de ser para-raio de poderes, eu só... sei lá, sinto o poder dos outros — Ele respondeu totalmente tranquilo — Vai lá, transa e volta com uma cara melhor com a que entrou aqui, por favor.

—Isso explica porque você sempre tá com uma cara de...

—Não. Termina. Essa. Frase. — Ele ordenou sem sequer olhá-la, ouvindo apenas a risada ácida.

—Tudo bem, quem sou eu para julgar? — Ela zombou — E valeu pela dica.

—Vai lá, te vejo depois — Ele acenou, sabendo o exato momento em que a porta fechou-se.

E Satori realmente esgueirou-se entre os corredores até o quarto da namorada, abrindo a porta e realmente aceitando a oferta de esconder-se no banheiro.

E esperou durante poucos minutos até ouvir a porta se abrindo e pensou em sair antes de se fechar. Sinceramente, era melhor que ela tivesse feito aquilo.

—Eu odeio isso — Era Cordelia, com a voz embargada — Eu não quero mais.

—Eles estão bem, Cory — Orion consolou — Morwenna falou que armou uma boa fuga, eles devem estar em algum lugar pela cidade.

Morwenna?

Poucas pessoas não sabiam quem era a líder dos Emissários, Satori queria ser uma delas quando ouviu o irmão da sua namorada mencioná-la como se fosse apenas uma amiga próxima.

—Como pode garantir isso? E se confundiram eles com os outros Emissários? E se eles morreram por aí porque algum desses... idiotas acharam que eles eram perigosos? — Ela começou a se questionar, e Sato sabia que ela estava chorando apenas pelas palavras trêmulas.

—Eles são! — Ele a lembrou — Você ouviu o que Rosalind nos disse no ataque: eles estão fora de controle.

—Desde quando você se tornou um soldadinho tão obediente?

—Nós nascemos Emissários, morreremos Emissários. Sermos filhos de Morwenna não vai nos fazer diferentes — As palavras de Orion eram frias e cortantes, mas Cordelia realmente precisava se lembrar que ela poderia mudar tudo em si, menos o sangue. — Usando a capa ou não, nada muda nosso sangue.

Mas também atingiam Satori atrás da porta. A traição de Kinessa ou a mentira de Circe não se comparavam com a ira que preencheu Sato, um nó tão forte na garganta que ela sabia que choraria assim que abrisse a boca.

Os irmãos apenas puderam assistir a Fulgora sair do banheiro do quarto e caminhar entre eles sem sequer olhá-los, quase arrebentando a porta ao sair do lugar.

Noite Eterna, Coração EtéreoOnde histórias criam vida. Descubra agora