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Dois dias para a batalha.

Eles se dividiram em batalhões, a organização tinha se tornado integralmente para discutir abordagens guiadas pela genialidade de Nathaniel e Kenna, confirmadas pelos cálculos de Nesryn e Malaika, aprovados por Circe e Kazuha.

Mas a maioria dos guerreiros rodeavam o grupo, opinando e observando com cautela.

—Conselhos de guerra são sempre assim? Todo mundo parece tão tenso... — Andrômeda se encolheu no sofá, sussurrando para Satori deitada no colo de Cordelia.

—É que se a gente cometer um erro, todo mundo morre né — Sato a respondeu

— Tipo... é bom que eles se preocupem mesmo, eu amo minha vida para cacete — Cordelia respondeu. Andy tinha demorado a se acostumar que Cory mal passava de mais uma pessoa, não uma divindade como passara a vida acreditando.

—Andy, faz a boa para mim? Peguei o sabor errado de refrigerante e tô com uma preguiça de buscar o de laranja — Ethan pediu para ela, era idiota de primeira vista, mas estava mantendo-a sempre sob treinamento, cada ato era um novo teste.

E ela obedecia, agarrando a lata de metal verde, os olhos fechados com força e moldavam lentamente a bebida para outro sabor e entregando para o amigo, uma lata de refrigerante laranja.

—O gosto mudou? — A garota perguntou, ansiosa para ver se tinha acertado no feitiço.

—Está ficando cada vez mais ágil nisso... dentro dos seus limites agora, pelo menos — Ethan a elogiou, recostando-se no sofá e voltando a prestar atenção na reunião.

—...Então temos que cobrir Rue enquanto a própria Rue cobre vocês, só isso? — Circe perguntou de braços cruzados, observando os pinos com cada nome no mapa.

—Basicamente é isso, mas como Ruelle não vai se segurar e se teleportar o tempo todo, precisamos sempre estar de olho.

—Poderíamos chegar mais cedo e nos ocultar nas árvores para identificarmos a formação deles, acho isso uma boa jogada — Lia falou, sem notar que Macaria a olhava curiosa com a sugestão.

—Se formos imperceptíveis, podemos aproveitar e acabar com o flanco e os arqueiros antes de entrar em formação — Aria acrescentou, vendo os olhos bicolores de Lia se virarem para ela, considerando a ideia.

—Você é boa nisso — Lia elogiou e a mulher deu de ombros, o rosto rosado ficando ainda com mais cor devido ao rubor.

—Idem — Respondeu, sorrindo timidamente e encarando o mapa.

Ethan e Kenna se encararam com suspeita, pensando a mesma exata coisa sobre aquilo, encarando as amigas e se olhando de volta com um sorriso contido de quem sabia como aquilo terminaria.

—Todos concordam com o plano delas antes do nosso? — Nathaniel perguntou, vendo a turma assentir, considerando executar aquilo verdadeiramente, afinal... não era uma ideia ruim — Então é isso, só temos que esperar até o dia agora.

Naquele dia, Andrômeda sentiu o impacto da guerra pela primeira vez, e tomou a decisão de chamar Sorscha e Ares para ficarem com ela no quarto, encontrando a amiga de cabelos azuis sentada no chão, e eles repetiram aquilo, sentando-se: Ares do seu lado, Sorscha na frente. Ela só conseguia pensar que faltavam dois dias para sua primeira luta.

—Tudo bem? — Sorscha foi a primeira a perguntar, percebendo como ela parecia encolhida dentro da camiseta larga.

—Vocês são minha família — Ela sussurrou, os olhos completamente vermelhos não se desgrudaram do chão — Posso não saber exatamente o que é amor, ou uma família, mas eu amo vocês como se fossem a minha família.

Para a surpresa de ambas, foi Ares o primeiro a erguer o olhar com surpresa, os olhos violeta marejados ao ver a amiga e absorver a força de suas palavras enquanto Sorscha ainda processava suas palavras.

—Tô aprendendo a ser humana ainda, mas eu só quero que saibam que... vocês foram o motivo pelo qual eu aguentei todos esses anos viva dentro daquela cela idiota — Andrômeda confessou, encarando as próprias mãos entrelaçadas no colo — Eu só sei falar por causa de vocês, só sei pensar porque vocês me ensinaram como o mundo era fora das celas.

—Vai me fazer chorar se continuar falando — Sorscha balbuciou com os lábios trêmulos.

—Fiz um trato com Kenna: não vou usar meus inibidores na batalha, mas para que eu esteja... pura no dia, não posso mais usar a partir de hoje.

—Mas você vai ficar com fome de novo — Ares a lembrou e ela assentiu.

—Vou ficar fora de controle... e por isso chamei vocês aqui — Ela assumiu, erguendo o rosto — Se eu apresentar alguma ameaça a qualquer um do time na batalha...

—Não. Não, não!

—Ares... por favor — Andy o olhou — Eu preciso contar com vocês nessa, não consigo fazer isso sozinha.

—Não posso fazer isso, eu não vou — Ares garantiu.

—Tudo bem — Sorscha concordou, o amigo se virou para ela com incredulidade.

—Você não vai matar ela!

—Você vai conseguir se controlar, Andy — A garota dragão garantiu, aproximando-se dela e colocando a mão em seu ombro — Mas se não conseguir, eu te paro.

—Você ficou maluca, Sorscha? — Ares se revoltou, mas quando olhou para o lado, viu um pedido de socorro silencioso de Andrômeda — Andy...

—Eu só quero abraçar vocês... não acho que eu vá conseguir fazer isso sem os inibidores.

Sorscha a abraçou antes que ela terminasse a frase, Ares hesitou, mas bastou que visse a primeira lágrima para se juntar ao abraço em grupo, envolvendo a pele alva e fria com os braços morenos e quentes, assim como a mulher dragão fazia.

Andrômeda chorou, de certa forma tinha aprendido que amava o toque físico, talvez porque faziam algumas poucas semanas desde que alguém tinha adquirido coragem de tocá-la. Ela adorava abraços apertados, quase sufocantes e o calor... o calor dos corpos contra o seu, aconchegante, gentil e lembrando-a de onde e como estava.

Sorscha não a mataria, mas sabia que Andy precisava de suas palavras, uma garantia e um voto de confiança para que ela lutasse sem medo. Ares não concordava, mas naquele momento... naquele momento ele percebeu que ela não precisava de incentivos, mas precisava de garantia.

Ambos perceberam que sentiriam muita falta dela quando Andrômeda aprendesse a mentir. 

Noite Eterna, Coração EtéreoOnde histórias criam vida. Descubra agora