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Cresseida decidiu que deveria ficar ali para observá-los, uma sombra de olhos violeta em um canto, seu manto parecendo absorver toda a luz e alegria do lugar.

Eles não entendiam o motivo, ela apenas estava ali desde o momento que acordaram, Misha e a Sacerdotisa tinham entrado com ela, mas Morwenna tinha saído com um olhar sentimental e doloroso, enquanto a conselheira exalava arrependimento por cada poro.

Sorscha e Ares olhavam para Andrômeda, hesitantes da emoção fervilhante da imensidão escarlate dela. Eles nunca sabiam como eles a torturavam, mas sabiam que ela se tornava irreconhecível depois, sabiam que aquele ódio tinha um motivo.

—Me diga, Andrômeda: Por que acha que está sofrendo tudo isso? Você perdeu a sua fé? — Cresseida perguntou, mas quando ameaçou dar um passo mais próximo dela, ouviu um baque forte contra o metal.

—Não encosta nela — Ares rosnou, mas nos seus olhos roxos não havia violência ou coragem, mas medo. Puro medo.

—Tudo pela Andraste — Andrômeda forçou as palavras para fora da garganta, mas já não acreditava no que fazia.

—Por que acha que está aqui?

—Porque sou aquela que vai proteger a Andraste — Repetiu o que sempre dizia a si mesma quando as coisas pioravam — Porque sou a oferenda.

—Gosta disso tanto quanto eu, Andrômeda — A Rúnica falou com ressentimento.

—Cala a boca, cacete — Sorscha a interrompeu, ignorando o olhar apaziguador de Ares — Você adora isso.

—Adorar? — Cresseida pareceu se tornar outra pessoa ao olhar para a menina dragão, cujo os olhos realmente ardiam como lava em puro rancor por tudo que ela fazia — Assim como eu, você deve adorar apenas a Andraste, nada mais.

—Mas eu adoro jogar bolinha — Andrômeda balbuciou como uma criança no meio da briga dos pais, sem entender a raiva estampada nos olhos da Rúnica, ou o desespero no olhar de seus amigos.

—Você o que? — O problema não era brincar, mas a palavra que tinha usado... aquilo descarregava um ódio. Cresseida morreria e mataria pela sua fé, e vê-los adorar outras coisas além da Andraste — Você realmente acredita que ela se sente orgulhosa de vê-la falar algo assim?

—Você acha que ela se sente orgulhosa de tudo o que você faz com a gente? — Andrômeda disparou com tanta veracidade que os amigos se entreolharam com suspeita, surpresos com a postura... adulta totalmente controversa ao que tinham visto de Andrômeda ao longo dos anos.

E no olhar deles, havia também desespero.

—Vamos levá-la para pensar — Coresseida declarou, chamando os guardas que já tinham aquela jaula metálica para a boca de Andrômeda, ela olhou com desespero para os amigos.

—M-me desculpa, e-eu não sei por que falei isso — A garota começou a lacrimejar como se a realização das palavras tivessem atingido-a de forma física. — Me DESCULPA! — Ela gritou, as primeiras lágrimas já escorrendo, mas a Rúnica parecia impassível, observando com quase deleite a tortura — Medesculpamedesculpamedesculpa! — Andy implorava afundando os joelhos no chão, ignorando o incômodo de algumas pedras perfurando-a. Andrômeda começou a sentir o coração batendo mais rápido, os olhos sem foco e aquela falta de ar que a fazia saber como era estar morrendo sufocado. — Não! Não me leva pra lá de novo!

E forçou, inconscientemente, os amigos a assistirem aquela cena.

Andrômeda era como uma figura pequena e esguia, as mãos entrelaçadas e os joelhos afundados no chão como se ela realmente tivesse implorando para não ir.

Noite Eterna, Coração EtéreoOnde histórias criam vida. Descubra agora