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Ruelle foi a primeira a acordar afundada nas cinzas da fogueira, ainda agarrada firmemente à mão de Kaz. Ela se levantou, confusa, mas não preocupada. Apenas arrastou todos para os próprios quartos, mas na vez de Kaz, ele já estava acordado, ainda sentado na grama e os dedos dos pés cutucando o monte de cinzas.

—O que aconteceu ontem? — Ele murmurou para ela quando a garota se sentou ao seu lado, vendo-a passar as mãos pelos cachos brancos, os olhos tão confusos quanto os deles.

—Eu não sei - Respondeu — Eu não faço a mínima ideia.

—Então... — Ela o encarou no mesmo momento que ele se virou para ela, os olhos encarando-a com tanto desejo que parecia pronto para devorá-la ali mesmo, o que a deixou nervosa por um momento —Você sentiu aquilo também, né?

—Pelo menos posso me gabar que você se ajoelhou pra mim sem que eu pedisse — Ela brincou com um pequeno sorriso, vendo-o desviar o olhar e soltar uma risada sem fôlego. — Fiquei triste de não poder ver a fogueira apagando — Confessou — Mas... de alguma forma...

—Tem medo do que teria acontecido se ficasse acordada tempo o suficiente para ver — Kaz adivinhou olhando-a novamente, vendo a mulher assentir — Era como se realmente houvesse um espírito do fogo.

—Eu sinto que ele estava tentando me avisar de algo — Ela franziu o cenho — É... estranho, mas eu posso jurar que ouvi a voz da minha irmã cantando.

—Ainda lembra da voz dela? — Ele perguntou curioso, era raro ter aquelas aberturas para falar sobre Kamari.

—Eu a desenho todos os dias, eu sonho com as músicas que ela cantava quando fazíamos o ritual da fogueira entre nós — A mulher revelou olhando para o chão — Eu sinto a magia dela ainda.

—Ela deve ter sido uma menina incrível — Kaz confortou, entrelaçando as mãos deles, forçando-a a olhá-lo — Ela teria orgulho de você.

—É, talvez — Rue sorriu para ele gentilmente, encantando-o. Kazuha se aproximou um pouco mais, com medo que ela recuaria, mas ela também se aproximou dele, puxando-o para um beijo interrompido por um bater de palmas.

—Bravo! — Uma voz familiar soou, forçando Ruelle a ficar de pé imediatamente junto com Kaz, escondendo-o atrás de si — Amo os romances proibidos entre monstros e feiticeiros, sempre achei revigorante.

—O que você tá fazendo aqui? — Rue rosnou — Quer morrer de novo, Inara?

—Ah não, não me entenda mal, criatura — A mulher balançou a mão esguia em negação com um sorriso no rosto que ainda sim tinha a mesma expressão dura de desgosto — Vim lhes dar o benefício da dúvida.

—Não quero nada que venha de você — Ruelle devolveu, agarrando a mão de Kaz, secretamente confessando o medo que estava.

—Você quer sim — Inara sorriu como um lobo — Vim para declarar guerra, quero vingança.

—Sabe que vai perder como fez da última vez — Kaz se intrometeu, lembrando-a do exército que nem mesmo os tocou.

—Estou realmente mais confiante — A progenitora falou cruzando os braços atrás das costas — Bom, tem uma semana para preparar o seu exército, leve-os para as planícies sul da floresta no nascer do sol.

—E por que eu iria lá? — A mestiça perguntou.

—Se não vier, viremos buscar você e a filhote da sua raça — Se referiu a Sage, deixando Ruelle mais nervosa do que nunca esteve.

Talvez porque antes não havia a possibilidade real de ela morrer no campo de batalha.

—Te vejo daqui um mês na planície, é bom que tenha alguém que consiga ao menos tocar em um fio de cabelo nosso — Kazuha fechou, ignorando o medo suspeito de Rue, que realmente pareceu hesitar diante da proposta.

—Foi bom fazer negócios com vocês — Ela esclareceu, desaparecendo nas florestas, mas a mão da menina ainda apertava a de Kaz.

Era como se a ferida de Sage estivesse nítida ali na sua frente, aquele mesmo rasgo no peito da própria Rue. O cheiro da morte se aproximando... era o suficiente para deixá-la nitidamente apreensiva.

Kazuha esperou todos acordarem, preguiçosos e nitidamente mais cansados do que de costume, sentados no sofá, conversando sobre as experiências estranhas enquanto Nathaniel conversava com Sage sobre algo que a fazia rir.

—Lysandre — Kaz chamou a atenção do druida — Desde quando você sabe que a Inara foi ressuscitada?

—A gente pode explicar — Melione interviu, vendo Kaz encará-la com um tom sarcástico e ao mesmo tempo surpreso, afinal, só tinha mencionado Lysandre — Merda.

—Eu que mandei eles esconderem dos outros — Ruelle assumiu a culpa bravamente — Olha, eu sabia que ela estava viva, eu só não esperava que ela fosse avançar tão rápido, eu só queria um plano melhor.

—Ela apareceu? — Mel questionou levantando-se repentinamente — Você não nos contou isso.

-É porque aconteceu quase agora — Kazuha esclareceu de braços cruzados, encarando Rue — Tô esperando o motivo ainda.

—Eu não queria que vocês ficassem apreensivos com isso. — Murmurou vendo-o suspirar e olhar para o chão antes de olhar para os amigos.

—Vamos ter que viajar por um tempo, procurar aliados para uma futura guerra. — Os olhos rubros de Kaz brilhavam com raiva, mas não deles, e sim de Otsana.

—O quão breve? — Talon perguntou o que nenhum deles tinha ousado.

—Um mês.

Noite Eterna, Coração EtéreoOnde histórias criam vida. Descubra agora