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Antes do anoitecer, enquanto a maior parte dos Neera se trancava na sala de reuniões, Ambrosia estava morta, o corpo encontrado pendurado em uma árvore, seus cabelos desgrenhados e embolados na corda que a prendia.

Orion encontrou-a e se sentou ao lado do corpo suspenso, os olhos já ardendo com lágrimas ao ver sua equipe de cinco anos, despedaçando-se em um único conflito.

Tinha sido educado, treinado ao lado de Willa e Ambrosia e sentia-se acuado naquele momento, pensava em como contaria para Nesryn, mas sentia algo faltando dentro dele.

Sabia que as guerras eram terríveis e conseguiu manter a cabeça no lugar do início ao fim. Mas depois... olhava para suas mãos cheias de sangue e pensava quanto deles nem sabia o motivo pelo qual lutavam.

Nesryn o procurou e encontrou-o junto ao corpo. Orion não precisou olhá-la para saber que chorava assim como ele e mesmo assim, caminhou até ele e sentou-se ao seu lado, colocando a mão em seu ombro.

—Nunca mais quero ver algo assim na minha vida — Ela choramingou e ele assentiu, as mãos puídas e manchadas de sangue seco de Orion esfregando-se no rosto para secar algumas lágrimas.

—Que merda foi aquela, Ness? — Ele murmurou — Achei que estava pronto para aquilo, mas...

—É brutal.

Sorscha não saiu da cama pelo resto do dia, mas soube o momento exato em que Andrômeda entrou no quarto carregada por Alexina, levada para o banho e o barulho oco deixava claro que ela tinha caído. A garota dragão não a ajudou, nem mesmo deu sinal de que tinha pensado naquilo.

Cordelia permaneceu em repouso no quarto, sua cabeça apoiada no colo de Satori que acariciava seus cabelos ruivos, as duas em silêncio pesado, Cory porque dormia e Sato porque não queria atrapalhá-la.

Ninguém ousou dizer que a Radiante quase tinha perdido a irmã também, mas Circe parecia ter sido afetada pela experiência de quase morte, e decidiu sentar-se do outro lado do quarto, observando a gratidão dos olhos dourados ao observar a Cory.

—Sua irmã foi morta, Kamari — Um homem sussurrou no rosto fino da Andraste, grilhões se sacudiram em sinal de revolta — Você disse que nós não conseguiríamos, mas fizemos.

—Mentira! Não cometeriam tal blasfêmia! — A mulher se revoltou, os olhos cinzentos brilhando com uma raiva contida, um ódio profundo e oculto.

—Os céus choram sua morte, mas logo, logo, Inara virá aqui e te levará ao encontro com Morrigan.

—Eu os matarei! — Kam berrou, uma lágrima solitária escorrendo pelo rosto negro que parecia frio, mesmo às luzes tremeluzentes das velas que iluminavam a caverna — Os matarei! Os matarei!

—Nós te mataremos, depois de tanto tempo... finalmente mataremos você.

A mente de Cordelia era um borrão, ela tinha passado a sonhar com aquela mulher, mas aquilo era realista demais, Cory sentia o cheiro de cera derretida, do fedor de leite azedo e carne pútrida que vinha de um corpo há muito tempo não lavado.

Mas ela tinha se acostumado, e ignorava aqueles flashes para dormir por mais um tempo.

Malaika tinha se isolado até mesmo de Nesryn, abraçada aos próprios joelhos e sentada no centro do próprio quarto, tentando dizer a si mesma que tinha feito aquilo por um bem maior.

Tinha realizado sua fantasia de assassinar seu pai, mas... tinha agido como ele, tinha falado como ele e agora estava sentada no chão, justificando seu assassinato assim como Alaric passara os últimos vinte anos tentando justificar a morte da mãe de Aika.

Noite Eterna, Coração EtéreoOnde histórias criam vida. Descubra agora