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Quando a equipe se arrastou para casa, Cordelia foi obrigada a ser carregada no colo por Satori, que ainda fungava pelo sentimento aterrorizante de quase perda.

Orion encarava o chão andando ao lado delas, chorando baixinho. Sorscha era arrastada por Alexina, sentindo o próprio corpo mole porque tinha visto o que acontecera com Ares, sabia que o amigo estava morto e a mente era um vazio, mas também era cheio de como iria contar aquilo para Andrômeda.

Ela parecia normal pela primeira vez, caminhando com Ezekiel atrás, ambos arrastando sem delicadeza alguma, Inara. Deixando um rastro de sangue pelo gramado enquanto conversavam tranquilamente.

—Eu falo — Alexina lhe sussurrou, os olhos laranjas de Sorscha brilharam com lágrimas e gratidão — Sei como é, só vá para o seu quarto e descanse, consegue fazer isso ou quer se apoiar em mim?

A garota dragão tomou uma respiração trêmula uma vez, corrigindo sua postura e assentindo.

—Acho que consigo, acho que eu consigo — Ela repetiu, saindo do contato e caminhando para longe, cruzando o portal para Notremor sozinha.

Kenna não podia dizer que se sentia arrasada comparado aos amigos, tinha passado tempo longe o suficiente para trinta dias não ser um reencontro emocionante. Deixava Circe se escorar nela, o tornozelo torcido da forma mais idiota possível, mas a elementalista não foi capaz de julgá-la.

Nathaniel desapareceu, ninguém o via em lugar algum.

Malaika, Nesryn e Macaria andavam juntas, o trio esgotado e em silêncio, compartilhando dos primeiros traumas de guerra sem empolgação alguma. Todos estavam perdidos demais nos próprios sentimentos para notar que Ambrosia passou por eles com uma corda e desespero demais para conseguir lidar com a própria culpa e angústia de tanto sangue em suas mãos.

O sangue da própria irmã.

—Ezekiel, pode levar Inara para alguma sala vazia? Preciso conversar com Andrômeda — Alexina pediu e Zeke o fez sem questionar, deixando a amiga que ainda tinha quase o corpo todo coberto por sangue de quase um exército inteiro, o rosto igualmente sujo — Conseguiu manter o controle muito bem, garota.

—Não sei como, para falar a verdade — Ela sorriu — O bom é que não precisei fazer Sorscha me matar, acho que Ares vai ficar contente em saber que finalmente tô sob controle.

—É sobre isso que eu queria falar, Andrômeda — Alex respirou fundo e encarou-a nos olhos — Ares está morto.

—Não tá, não! Ele matou uma galera lá no finalzinho da luta, que tipo de piada é essa?

—Foi Melione, ela saiu de controle e o reviveu momentaneamente: Ares realmente está morto, sinto muito, garota.

—N-não... ele... ele tinha me dito ontem que se eu me controlasse, ele me... não, ele não morreu. — Andrômeda sentiu um nó na garganta, as pernas repentinamente falhas, fracas — Ele me disse que a gente ia visitar a cidade se eu me comportasse bem, ele não morreu.

Mesmo com o medo de ter o pescoço arrancado, Alexina abraçou Andrômeda e a segurou quando o impacto da notícia a atingiu, forçando a canibal a abafar um grito no ombro da armadura de Alex, abraçando-a com uma força quase esmagadora enquanto as pernas tinham a mesma firmeza que uma meleca.

Kaz não olhou para ninguém, trancando-se no quarto de Ruelle pelo resto do dia.

Encarava o sangue em suas mãos e não conseguia aceitar que eram dela.

Havia um vazio nele, algo que o garoto nunca sequer imaginou que seria capaz de sentir. E não sabia o quão ruim aquilo era. Sentia-se... sozinho. Fechou os olhos como se isso a trouxesse de volta, porque ele se negava a acreditar que ela estava morta.

Noite Eterna, Coração EtéreoOnde histórias criam vida. Descubra agora