7.9

1 0 0
                                    

Cinco dias depois.

A nova geração se adaptou à intensidade dos treinos de uma forma interessante: barganha. Tudo de si era dado durante o dia, contanto que durante a madrugada, a casa fosse apenas deles com algumas cervejas.

E a cada treino, Ezekiel se distanciava mais e mais, até mal passar de um fantasma nos corredores, o rosto sempre pálido e confuso. Andrômeda parecia determinada a conversar com ele, e o garoto pareceu não se recusar com o tempo, até mesmo perguntando dela quando a garota não batia na porta do seu quarto para trazer-lhe comida com um sorriso amedrontador ou sentava na sua cama e lhe exigia contar como era a Academia Colerum.

Satori não conseguia tirar a incerteza da mente e Ruelle não perdoava seus devaneios: às vezes, a mulher exigia tanto de Satori que sua pressão despencava, apagava por alguns segundos ou nem mesmo uma faísca de energia comum saía dela.

—Quer descansar um pouco? Quase desmaiou dessa vez — Rue se preocupava, pedindo que ela comesse melhor e descansasse por mais tempo.

E a única coisa que Satori lhe respondia era:

—Vamos de novo, agora eu consigo.

E falhava.

—O que mudou em você? Para alguém que não aceitava ser Radiante, você até que está bem...

—Menos conversa, mais...

—A primeira guerra que você precisa vencer é dentro da sua cabeça, não vai conseguir invocar uma centelha do seu poder se continuar com... seja lá o que está fazendo consigo mesma.

—Comigo? — Satori riu, um som ácido e doloroso — A mulher que eu amo mentiu desde que nos conhecemos e eu estou me torturando? Todo mundo parece mais preocupado em me proteger do que me deixar crescer e eu me torturo?

Ruelle conseguiu o que queria: exaustão.

—Tenho certeza que teve uma razão...

—Sempre tem: Kinessa mentiu a própria identidade porque "não queria nos dar esse peso", minha irmã mentiu para mim porque "não queria me dar esse peso" e o amor da minha vida inteira, a mulher com quem eu acreditava que eu ia me casar me enganou por cinco anos e eu nem sei o motivo!

Um silêncio se estabeleceu, Rue continuava encarando-a, um convite para que ela gritasse o quanto quiser foi aceito.

—Eu vivi acreditando que a minha irmã me odiava, e comecei a odiá-la por isso. Ela só me pressionava e pressionava e me dizia o quão péssima eu era. Uma decepção para o grandioso legado Rashdalle — Lágrimas brotavam dos olhos amarelos, tornando-os um dourado ondulante e pesado — Eu... eu vivi tentando orgulhar ela e com a voz da Circe na minha cabeça sempre dizendo como tinha vergonha de ser minha irmã, como o prodígio da família tinha se tornado um erro.

"Vivi com medo de errar e dar motivo para falarem de mim, então eu tentei ser perfeita: me viciei nisso, me viciei em receber aplausos, mas sempre esperando o dia que ela fosse falar que estava orgulhosa de mim, sabe o quanto isso destrói alguém?"

Será que ela percebia? O calor em seu rosto, os lábios trêmulos...

"Contei cada pedaço da minha vida para Cordelia, meus medos, minhas inseguranças... ela me humanizou quando todo mundo falava sobre como tinha medo de ficar perto de mim. E eu pensei "quer saber? Talvez eu mereça ser feliz, amada. Talvez eu não seja o monstro frio e raivoso que falam." Confiei nela e foram os amigos dela que tentaram me matar, confiei nela só para descobrir que ela não confiava tanto em mim".

—Não é isso que te machuca...

—O que me machuca é saber que mesmo depois de tudo isso, eu não consigo odiar ela — A primeira lágrima caiu com um chiado, fritando antes mesmo de escorrer pelo rosto — É saber que eu tô agindo como o monstro frio e raivoso que todos eles acham que eu sou!

Noite Eterna, Coração EtéreoOnde histórias criam vida. Descubra agora