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—O que você tem de poder, consegue faltar de inteligência — Foi a primeira coisa que Nathaniel disse naquela manhã, encarando o mapa completamente bagunçado. Os pinos eram aleatórios, soltos como se eles só quisessem causar estrago. —Querem salvar a criança ou matar ela?

Ele precisou elaborar um plano complexo que minutos depois, já foi posto em prática: Ruelle e Talon salvariam a criança, enquanto Nate e Ethan davam cobertura pelas costas, Melione pelos céus e Lia era a distração.

E assim foi feito: Lia atravessou a rua vazia olhando o celular sem nunca desativar a intangibilidade, mas fazendo um excelente barulho e teatro como se realmente tivesse sido atropelada.

O carro parou no momento seguinte, dois guardas de armaduras prateadas saíram às pressas para descobrir o que teria acontecido, mas não havia um corpo. Apenas Lia, com as mãos agarradas no pescoço do vigilante da direita, enchendo o silêncio com o barulho de ossos estilhaçando-se no momento antes do corpo cair.

Melione viu ao longe, um arqueiro mirado em Lia, e brincou com ele arremessando-o contra o chão apenas para levantá-lo até sua mão e deixar que tivesse sua vida sugada pelo único feitiço que nasceu sabendo: o toque vampírico.

Viu o corpo se tornar esquelético e o rosto se tornar cinzento antes da morte o alcançar e ele ser arremessado contra outro artilheiro. Embaixo dela, os amigos se revelavam das sombras, arrombando a porta traseira no camburão blindado, deparando-se previsivelmente com inúmeros heróis rodeando a criança.

Talon se esgueirou e atingiu a cabeça do motorista com sua lâmina gélida, perfurando com tanta previsão que Nathaniel teve que assumir a beleza naquilo, quando o corpo caiu inerte, quebrando o vidro consigo.

Kaz foi o último a surgir como uma peça chave com Ruelle, golpeando cada herói que ameaçava tocar a mulher que os derretia com chamas azuis e violetas que serpenteavam pelo seu braço até desabrocharem em esferas que necrosavam tudo o que tocava.

Até mesmo humanos, deixando o ar com o cheiro de carne queimada, mas era o que menos fazia sujeira, reduzindo-os a cinzas em minutos repletos de dor e sofrimento que Nate se conteve para não interferir. Assustava-se quando via a irmã mais nova se deliciar com cada gemido de dor e grito por socorro, e jurava ter visto-a pedir para que eles implorassem.

Não haveria ninguém, nenhum reforço e Nathaniel sabia daquilo, mas odiava ver aquele massacre insano onde eles nem mesmo tinham chances de tocar Rue. Ela até mesmo parecia se divertir tomando um soco ou outro, os lábios pintados de rubro com um ferimento que provavelmente já nem existia.

Então ele viu no fundo do camburão, uma jaula que comportava uma criança maltrapilha como se realmente fosse um animal que se abraçava nas celas, tão esquelética que mal parecia aguentar o peso do próprio corpo.

Mas os olhos eram Andraste, ele soube no momento em que viu aquela sombra no dourado de seu olhar, que ela era como Rue: havia uma espécie de vida naqueles olhos, além de qualquer tortura, um brilho tão hipnotizante e vívido que se tornavam uma espécie de farol dos desafortunados, uma centelha de esperanças no meio de uma escuridão vazia.

E quando olhou para Ruelle, sabia que ela não conseguiria. Sabia que a mulher rezava a todo momento para que fosse mentira, para que aquilo fosse um trote ou uma pessoa farsante. Que fosse qualquer coisa, menos Andraste. Porque ela era a chave para acabar com a maldição, matá-la com a própria magia seria a única coisa que traria aquela parte alegre que Nate não viu sequer uma vez.

-Qual é o seu nome? - Rue perguntou, se aproximando da jaula de metal, agachada, encarando a criança milagrosa. A menina apenas balançou a cabeça, e a mulher recuou, saindo do carro e caminhando em direção a algum lugar. Ninguém ousou mover um dedo para segui-la.

Todos sabiam o que aquilo significava.

Foi Kazuha que segurou a menina nos braços e guiou todos para casa, deixando a melhor amiga completamente abalada, agachada em um beco sujo. Ele sabia que ela precisava de um tempo para processar que aquela criança não era Rue.

E todos que sabiam do passado dela, se perguntavam a mesma coisa conforme caminhavam pelas ruas: até quando aquilo iria acontecer? Quando aquilo pararia, uma dádiva da natureza, uma promessa cumprida. Ruelle deveria ser a guardiã daquelas pessoas, mas havia se tornado o demônio dos vivos, a morte encarnada. Eles queimaram seu propósito no dia que lhe arrancaram as asas, ela teve que achar um novo, teve que aprender um novo objetivo: os faria pagar.

—Finalmente chegaram da festa! — Darya os cumprimentou sem sair da cozinha — Achei alguns ingredientes excelentes para uma sopa, chegaram bem na h-

Ela congelou no momento em que viu a criança ferida nos braços de Kaz e todos os amigos - menos Nathaniel - com algum vestígio de sangue nas roupas ou na própria pele. A princesa fada se assustou, tirando os fios ruivos que lhe caíam pelo rosto para garantir que estava vendo corretamente.

—Quem é ela? — Darya perguntou e foi respondida por Ethan que passou por ela com sangue lhe pingando pelos braços, deixando-a até mesmo enjoada.

—É o que também queremos saber. 

Noite Eterna, Coração EtéreoOnde histórias criam vida. Descubra agora