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Quando finalmente conseguiram se esgueirar para o local onde os heróis faziam vigília, os amigos sequer se surpreenderam quando notaram a falta deles ali. Cordelia tinha perdido a conta de quantas vezes tinha sido obrigada a caçá-los num bar ali perto, assim como Satori tinha perdido a conta de quantas vezes tinha ouvido-os subjugar aqueles que não queriam ser Colerum.

Mas todo e qualquer pensamento desapareceu quando o mau pressentimento se tornou a visão de sete pessoas encapuzadas em tecidos negros caros, arrastando-se na longa rua de ladrilhos como se flutuassem.

Emissários da Escuridão mal passavam de fanáticos por Ruelle, devotos que acreditavam entender seus desejos. Mas nunca compreenderiam a essência de um Neera, e por isso matavam heróis, matavam mundanos e qualquer pessoa que cruzasse seus caminhos serviria de oferenda para uma mulher que estava pouco se fodendo para eles.

—Eles não atacavam só de noite? — Orion questionou mais confuso do que queria parecer, mas Cordelia era um vulto silencioso que encarava a figura que se destacava de todos, vestida com uma capa tingida de vermelho, laranja e amarelo como um pôr do sol apocalíptico. E foi aquela que começou a atacar.

Uma esfera massiva de fogo contra uma modesta loja de roupas da rua comercial, ateando chamas nas cortinas e tecidos, derretendo o metal dos portões trancados.

E Satori só pensava que não conseguiria fazer aquilo, não conseguiria lutar. Orion tinha sido pontual ao agarrar a mão de Satori e Cordelia e torná-las invisíveis consigo antes que algum dos Emissários os visse. Eles sabiam que precisavam proteger o lugar, e Cordelia foi a primeira ao lembrá-los disso quando ela saiu da invisibilidade e correu para pegar cobertura em uma lojinha de doces.

— O que acham que estão fazendo? — Cordelia perguntou pela escuta que usavam por padrão — Peguem cobertura e se preparem para atacar.

E assim foi feito: Orion levou Satori até um beco e se escondeu atrás de um lixão ali perto, esperando a líder atacar primeiro. Mas ele sentiu aquela sensação pesada nos ombros, como se alguém tirasse todo o seu fôlego, um frio pesado acompanhado do puro cheiro de morte.

Mas ele não podia se distrair com aquilo quando o primeiro Emissário cruzou a vista de Satori. Sete contra três: as probabilidades não estavam a favor dos jovens heróis.

E que bom, porque eles eram ótimos em desafiar as probabilidades, Cordelia pensou, totalmente alheia ao choque que sua amada tentava conter — sem trocadilhos.

A energia se agitou dentro de Satori, como um calafrio depois de pisar em algo pontiagudo, prendendo o fôlego dela na garganta. Mas os amigos estavam contando com ela, Sato precisava atacar primeiro.

E tentou um disparo, uma descarga de energia compactada num projétil dos dedos todos juntos, certeiro ao atingir o pescoço do acólito que passava ao seu lado.

Ele caiu inerte no chão, mas todos sabiam onde ela estava, e Orion não podia se arriscar para deixá-la invisível novamente, apenas observando-a se levantar.

—E aí... Tudo em cima? — Satori tentou usar do seu humor, como se a zombaria pudesse expulsar a sensação de impotência que a percorria novamente, atordoando-a.

Cordelia pareceu ter notado aquilo, ajudando-a ao apunhalar um dos emissários que ameaçava atacar Satori, enquanto a amada projetava um pouco mais de eletricidade, soltando apenas um pouco a rédea. O suficiente para acertar um soco no rosto do acólito em sua esquerda, notando como ele tremia da mesma forma que folhas açoitadas pelo vento.

Mas quando ela notou uma forte geada quase congelar seus ossos, Satori pareceu lembrar dos cadáveres de Melione, o frio e cheiro pútrido deles ao encalço da garota. E travou no lugar.

Noite Eterna, Coração EtéreoOnde histórias criam vida. Descubra agora