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—Ela não era mística ou algo do tipo? — Ethan perguntou o que todos queriam, sentindo a mesma coisa que a irmã naquele momento.

—Ela era a herdeira do trono das Fadas, acho que isso faz dela mística o suficiente — Ruelle os lembrou, os braços cruzados pressionando o grimório contra o peito enquanto eles observavam, o corpo posto no altar marmóreo da cripta.

—Ela não deveria... sei lá, cheirar bem na morte? — Lia finalmente terminou o raciocínio do irmão, comentando sobre o fedor ácido de morte e putrefação que queimava o seu nariz, o cheiro forte misturado com o aroma pútrido de carne podre e leite azedo pareciam impregnar nas roupas e nas paredes de pedra da cripta.

—Morte é morte, Lia — Melione desceu as escadas correndo, ajeitando os jeans pretos como se tivesse acabado de se trocar. — É isso que eu quero dizer quando falo que todos vamos para o mesmo lugar no final das contas.

—Onde você estava? — Ruelle perguntou de forma lenta, e Mel sabia que ela conseguia diferenciar o cheiro de cadáver do cheiro de vida roubada que cobria Melione da cabeça aos pés. — Quer saber: não me diga, conversaremos disso depois. Agora saiam, hora de fazer a minha magia.

—Eu não posso nem mesmo ficar para ver? — Melione perguntou pela centésima vez no dia, respondida silenciosamente com uma sobrancelha arqueada de Rue, que parecia ainda mais enraivecida pelo encontro suspeito de Melione — Tá bom, tá bom! Foi só uma pergunta, caramba...

Ruelle os observou subirem a escadaria um a um, deixando alí na iluminação de poucos lampiões modernos pendurados ao redor da cripta, as sombras tremeluzindo sobre a dança das chamas mágicas.

Havia um tom mais sagrado em estar sozinha com uma criatura tão rara: uma das poucas raças que eram mais velhas do que Rue: dez mil anos de história ocultos em longos cabelos cor de fogo e pele leitosa, a garota não pôde evitar se perguntar o que ela sabia.

Mas com um suspiro, ela focou no que precisava fazer, colocando o livro no pequeno altar ao lado da mesa marmórea onde o corpo da fada estava, folheando as páginas amareladas conforme tentava acessar aquele lado fada dela.

Rue encarou a gaiola do outro lado da sala, desfazendo a mordaça mágica e desamarrando-o, observando como duas criaturas tão poderosas eram tão diferentes: a Andraste precisou esperar quase cem anos para que uma pessoa como o seu prisioneiro nascesse como um conjurador de água puro sangue. A armadura dourada que vestia no dia em que caiu nas garras de Ruelle ainda estava no corpo, mas ele mal passava de uma faísca da magia que outrora tivera em mãos.

—Pronto, garotão?

—Tu és um monstro! — Ele grunhiu contra as grades, e mesmo naquele ato de coragem para demonstrar sua irritação, ele se arrepiou apenas ao ouví-la estalar a língua.

Tsk, tsk, tsk

—Bem observado — Ela o respondeu, desviando o olhar dele com um pequeno sorriso, olhando para o livro — Mas se fosse haver uma próxima vez, pediria para ser mais criativo: me chamar de monstro é apenas uma observação apurada, ofensa mesmo seria me comparar a pessoas como vocês — Ruelle disparou sem dó, a voz melodiosa e profunda soando como uma maldição mesmo em palavras aveludadas — E também lembraria de alertá-lo para ser bem mais educado quando está nessa sua.. posição de poder.

Ela ouviu o eco das grades metálicas ao serem golpeadas pelo prisioneiro antes de ser silenciado pelo olhar frio de Ruelle, que inclinou a cabeça em um tom de sátira com o que ele tinha feito.

E diante do silêncio, ela respirou fundo e agarrou o livro novamente, dando alguns passos para trás, sentando-se no chão com as pernas cruzadas, encarando o livro em sua frente e repetindo cada palavra como um mantra em sua mente.

Noite Eterna, Coração EtéreoOnde histórias criam vida. Descubra agora