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Melione nunca tinha conhecido Kenna, mas mesmo se não conhecesse os desenhos e quadros de todos juntos, a postura da mulher era idêntica a de Talon — de um Neera.

—Essa casa está igual desde a última vez que a vi — Kenna notou, admirando a grande casa em Notremor enquanto seus alunos ainda passavam pelo portal aberto por Kazuha.

—Adicionamos mais uns quartos, aparentemente muitas pessoas precisavam de um recomeço — Rue lhe revelou com um pequeno sorriso, passando as mãos pelas paredes brancas com detalhes esculpidos em mármore.

—Sage está aqui? — A mulher lhe perguntou, os olhos castanhos observando o lugar com um carinho antigo.

—Ela deve estar aqui com Darya agora, ela decidiu se responsabilizar pela garota até terminarmos nosso... trabalho — Melione tentou se envolver na conversa.

—Espero que não estejamos falando da mesma Darya — A Elementalista tentou esperançosa, mas foi respondida com puro silêncio, ambas as mulheres ao seu lado encarando-se com hesitação. — Ah céus!

—Eu insisti para que ela não fizesse isso — Melione tentou — Sério, passei alguns dias tentando ver se ela tinha certeza.

—Inacreditável — Kenna riu, balançando a cabeça — Trouxe a garota puramente para vê-la perder a pessoa que ama?

—Me faz parecer um monstro quando coloca dessa forma — Rue balbuciou — Foi um acidente da primeira vez.

—Espero que esteja falando da parte de quase matar Lysandre e Kaz ser um acidente, não a... outra parte — Melione a pediu com um tom satírico, um semblante alegre em seu rosto.

—O que? — Kenna se assustou — Você o que?

—Foi um acidente — Ruelle respondeu, planejando formas nada saudáveis de punir Mel por ter relembrado-a daquele fato.

—Eu espero que sim — A elementalista se exaltou, fazendo Mel dar uma pequena risada.

—Kenna? — Uma voz ecoou, reverberando pela garota ao virar-se e encontrar Talon atrás de si.

—Achou que eu tinha morrido é? — Ela tentou brincar, caminhando até ele e estendendo os braços para recebê-lo.

—Eles eram amigos? — Melione perguntou para Ruelle, a voz mal passando de um suspiro.

—Desde o berço — Rue respondeu.

—Como você e...

—Não, ambos têm... interesses diferentes — Ela adicionou com cautela.

—Quinhentos anos sem te ver, acha que isso foi justo comigo? — Ele a questionou com mais emoção do que Mel tinha visto nele em todo esse tempo que o conhecia.

—Com certeza as criaturas não foram — Ela tentou brincar — Sinto muito, mas sabe porque eu não fiquei.

—Poderia ter me levado junto com você — Talon retrucou, desvencilhando-se do abraço quente — Sabe que eu teria ido.

—Você gostava demais deles, era a primeira vez que você se sentia pertencente desde que fugiu e acha que eu teria coragem de tirar isso de você? — Kenna o lembrou, assistindo-o olhar para o chão em um debate com a própria mente.

—Ainda temos uma cadeira para você na mesa — Ele respondeu, recordando ela do carinho que o grupo sempre tivera com Kenna.

—Obrigado.

—Então... — Ele suspirou, procurando um novo assunto — Professora, é?

—Instrutora, mesmo com a insistência deles em me chamar de Mestra.

—Nunca gostou muito de ensinar, por que escolheu logo essa profissão para disfarce? — Talon notou.

—Eles... não sei, acho que senti que tinha algo por vir e essas crianças são perspicazes, então abri uma exceção — Ela foi puramente sincera.

—Tão perspicazes que dois deles estão procurando adegas ocultas pela casa — Ruelle observou, apontando para Maven e Macaria arrastando as mãos e ouvidos pelas paredes numa investigação minuciosa.

—Em outros aspectos eles são bem notórios — Kenna tentou, encarando Melione como se notasse algo — Você já contou para Satori que foi você que tentou matar ela?

—Você o que? — Talon questionou — Espera... quem é Satori?

—Uma das alunas dela tentou matar um civil, não sabia que ela era uma Radiante — Melione se desculpou — Além do mais, ela não parecia estar muito... preocupada com a morte. 

Os quartos da mansão Andraste em Notremor eram de tirar o fôlego: alguns com esculturas dentro, outros invadidos por gavinhas em suas paredes e janelas, e o de Satori parecia ter se adaptado automaticamente ao seu espírito: paredes cinzentas com a...

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Os quartos da mansão Andraste em Notremor eram de tirar o fôlego: alguns com esculturas dentro, outros invadidos por gavinhas em suas paredes e janelas, e o de Satori parecia ter se adaptado automaticamente ao seu espírito: paredes cinzentas com algumas notas musicais desenhadas, a cama de casal com lençois dourados e incrivelmente quente.

E ela decidiu diví-lo com Circe, que adorou receber o convite tímido e sem jeito.

—O meu quarto tem uma cama extra, achei que você pudesse... dormir lá.

E a Fulgora mais velha aceitou sem titubear, mesmo sabendo que havia algo mais ali, alguma coisa que ela queria saber de Circe e seu passado tenebroso — a conversa que estava tentando fugir desde que Sato descobrira sobre a farsa.

—Matou mesmo todas aquelas pessoas? Em Oitoponta? — Ela perguntou para Circe enquanto a mulher ainda arrumava a própria cama.

—Não — A mulher respondeu com sinceridade — Foi um acidente, um dos Emissários de Oitoponta tinha espalhado explosivos por toda a cidadela, a luta era uma distração e só percebi quando tudo virou cinzas.

—Foi onde conseguiu essa queimadura nas costas? — Sato lembrou da rajada que sempre despontava das costas para o ombro direito que ela só vira uma vez.

—Sim.

—Ah — Foi tudo o que ela ouviu como resposta antes de um silêncio pesado tomar todo o lugar por ao menos três longos minutos — Fazia alguma ideia de que Cordelia e Orion eram Emissários?

—Não — Circe lembrou — Mas deveria ter percebido, quando conversei com Cordelia ela estava... estranha, cautelosa e falando algumas coisas estranhas, deveria ter percebido.

—Falando o que?

—O suficiente para sair do quarto da enfermaria acusada de traição, no mínimo — Ela se lembrou — É por isso que não estão se falando mais?

—E como eu vou encarar ela depois de saber que ela mentiu para mim esse tempo todo?

—Fico triste que tenham terminado — Circe confessou — Ela é uma boa garota.

—Ela mentiu para mim.

—Eu também, Kenna também — Ela listou — As coisas são mais complexas do que parecem, tenho certeza que ela mentiu para te proteger, assim como nós fizemos.

—Não tira o fato de que ela mentiu, que vocês mentiram.

—Sim, mas só está brava com Cordelia porque está descontando toda a frustração de todos ao seu redor estarem te escondendo algo — Circe a respondeu — Ela não tem culpa, Sato, pode ter mentido, mas às vezes ela simplesmente não podia contar, assim como nós. 

Noite Eterna, Coração EtéreoOnde histórias criam vida. Descubra agora