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Um guerreiro perfeito: os olhos verdes menta estreitos esbanjavam superioridade de quem sabia que era o mais inteligente do lugar, os braços repletos de runas deixavam claro que ele levantaria móveis com uma mão só. E aquilo tudo fazia todos se questionarem por que Alastor não era um Emissário Rúnico, por que ainda era um Arauto?

E por que a sua irmã gêmea, Avaller era uma Rúnica.

—Você voltou! — Sorscha sorriu, correndo em direção ao garoto que a abraçou, girando-a com um sorriso vibrante — Eu não acredito! Você voltou mesmo!

—Achou que eu fosse ficar naquele país sem você? — Ele perguntou colocando-a no chão, o coração se enchendo da alegria de ter a saudade saciada ao notar a diferença quase gritante de altura entre os dois.

—Bom, se depender das minhas condições você não vai muito longe, lembra? — Ela mostrou as asas tatuadas no pulso direito, o lembrete claro que ela era propriedade dos Emissários da Escuridão. Ele não pareceu ligar verdadeiramente, agarrando-lhe o pulso e abaixando-se para beijar a queimadura.

—Então vamos os dois morar eternamente no calabouço — Declarou, vendo-a sorrir empolgada, não pela proposta assombrosa, mas pela bravura e a coragem que ele mostrara na proposta. — Lazarus, a Sacerdotisa pode me permitir levar Sorscha de volta?

Essa era a vida de Morwenna, viver condenada a ser tratada como um fantasma por aqueles que não estão autorizados a dirigir a palavra à ela. Mas a mulher nem mesmo precisou que Lazarus repetisse o que ela já tinha ouvido, assentindo e dispensando os dois com um gesticular de mão, respondendo o sorriso de gratidão de Sorscha com o próprio.

E eles caminharam de volta para o castelo em ruínas que eles chamavam de lar de mãos dadas, a Sacerdotisa observou com orgulho, mantendo na mente o quão honrado Alastor era. E estendeu a mão para Lazarus, que a pegou delicadamente, guiando-a até o templo.

—A sua irmã perdeu mesmo a cabeça — Sorscha riu com mais uma história sobre as inconsequências de Avaller — Ela ainda vai acabar em grandes problemas por se achar tanto.

—E ela está te encarando agora — Ele notou a figura observando-a pelo grande pátio povoado de figuras encapuzadas devoradoras de pão e carnes das mais variadas. Sorscha deu de ombros, estava mais ficando com fome ao sentir aquele cheiro forte e delicioso de frango assado do que realmente se importando com o olhar julgador de Avaller.

Se Alastor era o equilíbrio perfeito, Avaller era o desequilíbrio: o que seus músculos tinham de ridiculamente grandes, o cérebro tinha de ridiculamente pequeno — isso é, se ela tivesse um.

—O cabelo dela tá lindo — Sorscha elogiou os volumosos cabelos azuis ondulados de Avaller, e então se virando para Alastor — Pode me fazer um favorzinho.

—Salgados para três, doces para quatro — Ele mostrou que já tinha pego tudo naquelas dois potes de plástico com tampa — Por isso fui te procurar, sabia que eles estavam sendo rudes de novo, e deveríamos voltar, não quero que arrume problemas com Cresseida.

—Eu sei — Ela gemeu irritadiça, voltando ao caminho das escadarias de madeira que pareciam descer e subir eternamente até o calabouço o qual ela pertencia — Como está tudo lá fora? a Andraste apareceu? — Ela se empolgou, os olhos brilhando em esperança.

—Não, ninguém viu ela ao menos — Ele balançou a cabeça, parecendo igualmente decepcionado — Mas tenho certeza que ela aparecerá e nos guiará para a vitória.

—Que Otsana ouça seus desejos — Sorscha sorriu, parecendo inabalada com o fato, mesmo que estivesse... esperando mais.

—Mas sua prole apareceu, a Necromante — Ele disse, lembrando da aparição — Vingou um civil morto bravamente ao matar uma heroína tola.

—Os espíritos vingativos da natureza não são belos? — Sorscha pensou, sempre tinha idealizado os Neera até o dia que Alastor lhe mostrou uma foto deles no próprio celular.

—Não acho que sejam tão belos ou sagazes como você — Ele notou, sendo empurrando com o ombro num sinal de constrangimento, mesmo que nos lábios corados de Sorscha, um sorriso bobo brilhasse.

E então as grades metálicas anunciaram que a despedida dos dois deveria acontecer, a única coisa capaz de fazer com que o sorriso da garota sumisse dos lábios.

—Quando eu vou te ver de novo? — Ela perguntou olhando a expressão indecifrável no rosto anguloso. Alastor sempre adquire essa suspeita quando estavam próximos do calabouço. Ele odiava ter que trancá-la do outro lado daquelas celas.

—Oi! Amigo! — Andrômeda acena freneticamente assim que Alastor entra no calabouço, impedindo-o de responder a Sorscha.

—E aí, esquisitinha! — Ele cumprimenta, deixando o pote de doces perto das grades. Não importava se Andy considerasse Alastor seu amigo, ele tinha medo de chegar muito perto dela e acabar com aqueles dentes enterrados em seu corpo — Aí tem uns docinhos que Soscha contou que você gostou.

—Eba! — Ela bateu palminhas, mas seus olhos cintilavam por um momento, sua voz tomando uma rouquidão animalesca — Eu estava morrendo de fome.

—Modos, Andrômeda — Ares a repreendeu sem sequer desviar os olhos da trança que fazia com os longos dreadlocks que tinha.

—Foi mal — A garota sorriu sem graça, fazendo Sorscha rir da situação enquanto caminhavam em direção à própria cela — Muito obrigado, A...Alastor.

—Boa! Acertou — Ele assentiu, caminhando para a cela de Ares e deixando um pote de doce e comida salgada — E sim, eu coloquei a maldita asinha do frango pra você.

—Ser amigo de gente de fora realmente não faz mal — Ares cedeu, dando-lhe um pequeno sorriso e estendendo a mão quase completamente coberta de arabescos, recebendo um aperto firme de Alastor.

—Agora acho melhor você ir, ouvi que Misha vai descer aqui depois do almoço para checar o processo — Nunca usavam qualquer palavra relacionada á tortura com gente de fora, e Alastor entendeu a deixa, dando-lhe os potes e fechando as grades, trancando-a para o lado de dentro.

E se trancando para o lado de fora, deixando-a com os os quatro potes coloridos do lado de dentro — uma lembrança do quanto precisava comer para se manter funcionando.

—Vou procurar você da próxima vez que sair daqui, não se preocupe com isso — Sussurrou para ela antes de sair acenando mais uma vez para uma Andrômeda eufórica antes de sair.

—Misha não falou nada sobre vir aqui — Ares falou no momento em que a tranca se fechou, o barulho das correntes ecoando pelo local.

—Eu sei, mas é porque a Sacerdotisa ela... — Sorscha engoliu em seco ao lembrar do conto — Acho que ela está sendo distorcida, acho que estão distorcendo ela.

Noite Eterna, Coração EtéreoOnde histórias criam vida. Descubra agora