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As vozes ficavam mais altas conforme Sorscha continuava a explicar, ela via Ares olhando a amiga atentamente, comentando em alguns pontos, mas...

Era como se a mente de Andrômeda não quisesse ouvir, absorver. Ela gritava com Andy, ensurdecia-a e arrepiava cada pelo do corpo... não era fome, parecia pior, como se algo a arranhasse para sair.

—Quer dizer que talvez... só talvez estamos rezando alguém que não existe? — Ares se revoltou. Acreditar que estavam sendo armas para proteger a Andraste era o que os mantinha de pé, eles não conseguiam acreditar que poderiam estar sendo enganados.

E que toda aquela tortura teria sido apenas diversão.

Não...

—Eu não sei, mas ela deixou claro que as pessoas que podem ouvir ela estão distorcendo suas palavras. — Sorscha explicou — Quem, além de nós e Misha pode ouvir ela?

—Lazarus morreria antes de trair Morwenna — Ares discutiu. — Mas tem aquela esquisita de cabelo colorido, Ras...

—Rosalind? — A mulher franziu o cenho — Não, ela é muito nova e idiota, essa daí sabe menos que a gente.

—Só sobra a Thalassa, que ninguém sabe se realmente fala com a Sacerdotisa — Ares reclamou, retornando ao seu humor rabugento de costume, o que era irônico contando que ele devorava alguns pedaços de frango de forma voraz para uma... pessoa.

Mas Andrômeda só conseguia sentir aquele formigamento estranho nas pernas nuas, coçando-as com as unhas afiadas, arranhando até que o cheiro de sangue enchesse o lugar.

E se a Andraste nem mesmo estivesse ali? E se ela só não ligasse para os sacrifícios deles? Então ela teria abdicado da própria infância por nada? teria deixado de viver por nada? Cada produto corrosivo que corria em suas veias e infectava sangue, cada tortura teria sido para nada?

A respiração dela se tornou superficial, ela começou a sentir aquela dor acordá-la lentamente. Então um grito ecoou pelo lugar, o grito de Sorscha, dolorido. Aquilo acordou-a do transe.

Apenas para perceber que as pernas estavam manchadas de vermelho... assim com as de Sorscha. O mesmo ferimento, no mesmo local, mas Sorscha sequer tinha unhas para isso.

Ares e Sorscha olharam para ela.

—Andrômeda? — Ares chamou, preocupado — Tá tudo bem?

—E-eu machuquei a Sorscha — Ela balbuciou amedrontada, os lábios trêmulos ao contestar que aquilo tinha sido ela, mesmo do lado oposto da cela de Sorscha, tinha a ferido — C-com... eu... me desculpa.

—Tá tudo bem, Andy — Sorscha assegurou — Você não quis me machucar, quis?

—Eu n... — Ela engasgou, o cheiro de sangue atiçando sua fome lentamente, mas ela piscou, tentando ignorar — Eu não fiz por querer.

Andrômeda se encolheu, abraçando os joelhos com os olhos marejados conforme tentava ignorar como a boca salivava, o roncar crescente em seu estômago... por Otsana, que fome maldita!

—Andrômeda, tá tudo bem, fica calma — Sorscha tentou consolar, mostrando as feridas finas na perna, cicatrizando-se velozmente, mesmo que a mancha rubra continuasse lá — Viu? Já foi.

—Eu tô com medo — Ela confessou, por fim — Eu não gosto de ficar sozinha, e se a Andraste não estiver comigo, eu vou estar sozinha naquela sala escura — Andrômeda chorava, deixando que os próprios joelhos secasse as lágrimas dela — E eu tenho medo de ficar sozinha no escuro

—Tá tud...

Eles iriam consolá-la, mas então eles viram o majestoso manto dourado e toda a sua atenção foi para ela. Seus olhos estavam vendados, as manchas avermelhadas deixando claro que estava ferida, mas aquele anjo dizia que tudo bem se ferir um pouco às vezes.

Noite Eterna, Coração EtéreoOnde histórias criam vida. Descubra agora