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O que merda ela tinha feito?

Era tudo o que passava pela cabeça de Ruelle conforme ela fechava o zíper do vestido preto de gola alta, sentia o olhar de Kazuha — já vestido com as mesmas roupas da noite anterior — observando cada respiração dela. O silêncio era tão pesado que se tornava sufocante, letal e afiado como uma lâmina de espada, mas sequer era culpa deles... não sabiam o que falar.

—Vai querer só... esquecer, né? — Ruelle deduziu olhando para as próprias mãos — Depois daquela porta, vai querer só fingir que não aconteceu, né?

Kazuha riu, um som ácido e irônico que deixava bem claro qual era a opinião dele sobre aquilo. Ela não pôde sequer evitar de sorrir, sentindo os lábios se repuxarem inconscientemente.

—Acha mesmo que dá pra esquecer? — Ele questionou, os braços cruzados na frente do corpo enquanto ele ainda estava sentado na cama, encarando-a com pura diversão, sem sequer um resquício de culpa. Ele precisava ter feito aquilo, e sinceramente, não se arrependia nem um pouco dissoVocê consegue esquecer?

—Ah, nem se eu quisesse — Ela o respondeu, encarando-o com um vislumbre de sarcasmo, revirando os olhos e sentando-se na ponta da cama, vendo-o apoiado na cabeceira acolchoada — E acho que agora é um momento bem oportuno para te perguntar: o que foi que aconteceu ontem? — Ruelle finalmente perguntou, e apenas pelo tom rude de represália, ele sabia bem sobre o que se tratava. Kazuha se deitou novamente com as pernas para fora da cama, tapando o rosto com as mãos e deixando claro o quanto que ele não queria falar sobre aquilo.

—Achei que estivesse bem claro — Atirou completamente frustrado, mas tirou as mãos do rosto no momento em que a ouviu bufar. Ruelle tinha levantado da cama e estava parada ao lado dele, de braços cruzados com uma expressão impassível.

—Que tal usar palavras? Talvez fique mais claro. — Ela atirou, sentindo-se frustrada por cada resposta indireta, irritando-se ainda mais quando o viu revirar os olhos — Kazuha...

—Foi mal, tá? Foi mal — Ele pediu, sentando-se na beira da cama e inclinando a cabeça para o alto, olhando-a nos olhos. Nem mesmo percebeu quando as mãos chegaram até a parte de trás das coxas torneadas de Ruelle, acariciando levemente — Se serve de consolo, eu sabia exatamente onde eu estava me metendo. Eu sabia que você não me mataria.

—Ah, céus! — Ela lhe deu um sorriso sarcástico, olhando para o teto por um momento ante dos olhos voltarem a encontrar os de Kaz com pura diversão, estalando a língua — Se acha bem mais importante do que é, não?

—Quer que eu não me sinta importante depois de viver com você durante 800 anos? — Kazuha fez questão de enfatizar a quantidade de tempo que passaram juntos. E era um fato que ardia na alma de Kaz, aquecendo-o nas noites solitárias: saber que o mundo poderia lhe dar as costas, mas Ruelle nunca o faria, e ele honraria aquele voto de confiança durante todo o resto de sua vida.

—Sem apressar vocês, nem nada, mas... — A voz de Lysandre ecoou do outro lado da porta do quarto, apreensiva. O Druida foi como um lembrete do que estavam fazendo, e Kazuha tirou as mãos de Ruelle na mesma velocidade que ela se afastou — Talon está com um humor terrível, recomendo que subam antes dele.

—Estamos subindo — Rue falou alto o suficiente para Lys a ouvir, mas ela não se mexeu, encostada na porta fosca e transparente do guarda-roupa cinza. Tinha sido fácil lidar com o que tinham feito até aquele momento, trancados na realidade alternativa do quarto dela, mas o que eles fariam depois?

Kazuha não parecia ter preocupação nenhuma sobre, se levantando e caminhando tranquilamente até a porta, tocando o metal frio da maçaneta, virando-se para a amiga que ainda permanecia quase congelada no lugar, as mãos inquietas e o cenho franzido. Kaz não podia simplesmente sair dali e deixar as coisas terminarem daquele jeito, não tinha o direito de deixá-la perdida por algo que ele começou.

Noite Eterna, Coração EtéreoOnde histórias criam vida. Descubra agora