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— Para de ficar me olhando.

Gustavo rosnou, depois de longos minutos em silêncio.

— Por que?

Perguntei, continuando.

— Porque eu não gosto, caralho!

Confesso que tive vontade de rir, ele estava nervoso. Gustavo começou a balançar a perna e ali, eu pude perceber que a minha presença também, de algum modo, o desconcertava.

Desviei meu olhar para a avenida, assistindo os carros passarem. Eram hipnotizantes. O sol, o céu, os prédios, os carros, que pareciam ser tão miúdos e frágeis lá de cima. Tudo se diminuía.

— Agora entendo porque você gosta daqui, quem não gostaria? Isso aqui trás uma paz imensa.

— Isso aqui é a paz em meio a tanta confusão.

Ele sussurrou. Sua postura raramente frágil era muito diferente de tudo que ele mostrava.

— To percebendo. Descobri seu ponto de paz, viu? Agora você tá lascado comigo, vou pegar, sair correndo e pedir cinquenta mil para devolver. Me aguarde!

Brinquei, dando de ombros. Ele me lançou um olhar rápido e um sorriso saiu daquela boca, pela primeira em nossa conversa.

Um sorriso, eba, ponto pra super Gabriela!!!

Voltamos para o silêncio constrangedor novamente e o barulho dos carros invadiu tudo ali.

— Vi que você toca gaita, né?

Puxei assunto novamente. O mais idiota que poderia.

— Você é cega ou burra mesmo?

Respondeu, grosseiramente e me encarou.

O velho Gustavo tinha voltado..

Tava bom demais pra ser verdade.

Sussurrei, me levantando.

No final, a culpa dessas patadas eram minhas mesmo, meu subconsciente estava certo. Pra que eu insistia em ficar perto? Em puxar assunto? Burra! Mil vezes burra.

Fui caminhando até a porta, pisando duro. Havia me estressado.

— Onde você vai?

Ele gritou, perguntando, enquanto eu me afastava.

— Descer, vou deixar você em paz!

Gritei de volta, sem olha-lo.

— Gabriela?

Gustavo chamou, correndo até a mim. Ele parou na minha frente, fechando a passagem da porta.

— Fica aqui.

Era estranho demais ver o Gustavo pedindo algo. Mas, a resposta dele havia me deixado raivosa que decidi ignorar esse fato.

— Não, obrigada, eu sou cega e burra.

Retruquei. Gustavo respirou, trincando os dentes.

Se ele vier com grosseria, eu juro por Deus que eu vou voar no pescoço dele e matar ele de porr..

— Por favor, fica aqui comigo!

Desarmado. Completamente desarmado e foi para mim. Ele pediu por favor e foi para mim.

Meu coração acelerou, seus olhos pareceram entrar em meu corpo, fiquei sem reação.

O efeito dele sobre as minhas ações, se tornava mais forte a cada dia e era assustador. Quatro palavras, foi a soma que fez meu corpo desarmar e a raiva sumir.

Puta merda, sou uma fraca. Foda-se!

— Tudo bem.

Nós voltamos e nos sentamos. Dessa vez, os olhares não se desviavam.

Um clima de guerra mundial selada pairava e era literalmente isso.

Os detalhes no rosto dele relaxado pareciam deixa-lo mais bonito. Aquele sorriso, tão branco, sobre a boca vermelha, era lindo. Ele poderia sorrir o tempo inteiro. Poderia ser esse aqui, o tempo inteiro.

La putaOnde histórias criam vida. Descubra agora