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Gustavo ficou pensativo, olhando para fora. Eu já não estava entendendo nada.

Depois de alguns minutos, ele virou-se e se reencostou sobre a janela, afastando um pouco suas pernas e cruzando seus braços.

Vi, em seu rosto, o Gustavo que eu detestava.

Jesus, Maria José, nem trégua eu mereço?

Estávamos bem distantes mas frente a frente.

— Se veste.

Ordenou ele.

Seu tom autoritário me enfurecia e ele sabia disso. Me deixava puta da vida.

Literalmente.... Não posso rir agora, se controla, Gabriela. Pensamentos, saíam!

— Não! Eu não quero me vestir. Tem como você me explicar o que está acontecendo?

Contestei, autoritária.

Gustavo respirou e passou as mãos sobre o rosto rapidamente.

— Eu..

Ele pausou, ao falar. Gustavo me encarou de cima à baixo e engoliu em seco, balançando a cabeça, parecia estar atordoado com o que ia falar. Franzi o cenho, não entendendo.

— Gabriela, por favor, coloca a porra da roupa. Eu preciso falar com você. Eu não vou conseguir falar nada com você de toalha, na minha frente.

Ri por dentro, ri de verdade. Eu estava super-curiosa, então, cedi e fui colocar a roupa.

Caminhei rapidamente até o armário e peguei uma calcinha, coloquei ali mesmo, com a toalha por cima. Peguei um vestido de pano mole e joguei a toalha no chão, meus peitos saltaram e fiz questão de me virar para Gustavo. Ele contorceu o rosto, inquieto e novamente, engoliu em seco.

Sorri, mais uma vez, por dentro. Coloquei o vestido, quando terminei, ô encarei, curiosa.

O silêncio tomava conta daquele quarto. Caminhei até ele, ficando bem perto, e arqueei a sobrancelha.

— Pronto, agora, você pode falar o que está acontecendo, cara?

Ele continuou em silêncio, me encarando e respirando fundo. Entendi como ele estava apreensivo. Levei minhas mãos para seu rosto e acariciei devagar. Gustavo fechou os olhos e pôs suas mãos sobre a minha, sentindo e deixando eu fazer o carinho.

— Me fala. O que foi?

Insisti, calmamente.

Gustavo abriu seus olhos e de novo, suspirou, ele segurou minhas mãos sobre seu rosto com firmeza e a tirou dali. Logo, se descolou da janela e se afastou de mim, dando passos largos.

Respirei fundo, aquilo estava me irritando.

Ele está me evitando sem eu ter feito nada? Ah, foda-se, vá se foder! Droga!

— Hoje mais cedo, antes de você sair do terraço, queria ter te falado uma coisa muito importante contigo. Na verdade, precisava muito falar isso para você.

Olhei-o e engoli em seco, já sabia, pelo tom, que coisa boa não era.

— O que?

Meus braços começaram a pinicar.

Droga, maldita alergia nervosa. Agora não!

Me contive e apenas deslizei as mãos pelos braços, tentando manter a calma naquelas pausas melancólicas que ele dava.

— O que aconteceu lá foi um erro. Você estava completamente certa em fugir, se não fizesse, eu faria.

Ele despejou as palavras com tanta dureza, que eu não consegui disfarçar a frustração.

Esse homem era bipolar e iria me enlouquecer se eu não saísse fora. Senti meus olhos lacrimejarem e me virei, para a janela, para que ele não pudesse ver meu rosto.

Eu não podia fraquejar agora. A situação em si já era humilhante demais.

— Ah, claro. Realmente foi um erro. Tanto que tomei a atitude que tomei. Só não tive a coragem de te dizer mas, que bom que concordamos.

Tinha um nó na minha garganta, minha voz saiu toda embargada. Limpei meu rosto, quando uma lágrima desceu e respirei, olhando para cima.

— Com certeza, temos que ser realistas. Não tinha como isso dar certo, como acontecer. Você trabalha para mim, sou chefe, apenas.

Ele continuou insistindo no assunto friamente.

Chega!

— Meu chefe e um completo babaca!

A frase saiu de todo meu coração, engoli o choro, me tomei pela raiva. Me virei para Gustavo e olhei bem em seus olhos.

— Como é?

Ele perguntou.

— Você acha que eu sou uma idiota? Acha! Você acha que sou uma merda de uma droga de um brinquedo idiota. Você usa, você brinca, suas atitudes não são condizentes com porra nenhuma que você fala. Você toda hora se divide entre um príncipe e um mostro porque você é um mimado que brinca com a vida das pessoas, talvez porque seu papai tenha te ensinado que as pessoas são objetos descartáveis e que você podia manipular a vida delas na sua mão. Fique sabendo você, que isso só te tornou em um completo idiota vazio para um caralho. Seu babaca!

Eu gritei, apontando meu indicador para cada palavra que saiu e estava engasgada.

Gustavo arregalou os olhos, foi perceptível que ele não esperava por aquilo e, na verdade, nem eu. Mas que se danem os roteiros que eu tinha que seguir, aquilo ali tinha sido libertador.

O silêncio tomou conta do quarto. Eu não consegui mais ficar parada, pensava, enquanto andava de um lado para o outro. Eu queria que ele falasse qualquer coisa para que eu pudesse revidar com agressividade. Era errado, mas eu queria bater nele, se fosse possível.

— Eu sei o que me tornei. Gabriela, eu não ia te falar o que eu disse agora. Eu não to me entendendo, nem sendo sincero. Na verdade, eu queria ter te falado que você foi a melhor cois...

La putaOnde histórias criam vida. Descubra agora