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Eu havia perdido o medo que eu tinha no começo mas era constrangedor demais aquilo tudo.

Um sentimento estranho de culpa me invadiu, eu queria pedir desculpa e nem sabia por qual motivo. Remorso pós constrangimento, talvez?

Cruzei os braços, assim que acabei de colocar as roupas e fiquei imóvel. O chão poderia ser furado naquele momento com o peso da minha vergonha. Meu rosto queimava.

Respirei fundo e encarei Vitor. Ele, agora, sorria, olhando para Gustavo. Como ele estava sorrindo, não se sentia culpado?

Culpa pelo o quê, retardada? -‎ meu subconsciente questionou.

O silêncio transformou a situação dez vezes pior do que já estava. Olhei para Gustavo.

Seus olhos escurecidos estavam cravados em Vitor, sua boca, semi-serrada. Punhos fechados e seu corpo parecia uma estátua, plantado ali e imóvel.

— Aqui, Vitor?

As palavras quase não saíram da boca de Gustavo.

Engoli em seco, Vitor soltou uma risadinha descontraindo e veio até a mim, beijando meu pescoço, por trás.

— Vontade é foda. Desculpa chefia, não consegui segurar, olha essa loira, o momento acabou sendo esse.

Meu Deus, meu Deus, que vergonha, me mata. Eu quero cavar um buraco nessa cozinha agora!

Gustavo suspirou e fechou mais os punhos. Foi quase imperceptível, mas eu prestava atenção até em sua respiração descontrolada.

— Eu vou sub..

— Eu nunca mais quero que essa porra se repita!

Gustavo me interrompeu, gritando.

— Calma, chefia. Fica suave.

— Calma o caralho. Você entendeu o que eu te disse? Nunca mais. Você já fez o que eu te mandei vir fazer nessa porra?

— Irmão, se acalma. Já levei os documentos dela para a boate, só falta fechar as viagens.

Vitor informou, gesticulando.

— Vitor, ela tá enchendo a porra o meu saco com isso. Entende uma coisa, enquanto você não fizer o seu trabalho, não faz intervalinho pra comer ninguém. Você tá entendendo o que eu to falando?

Gustavo gritou, raivoso. Os dois se encaravam.

Eu definitivamente estava me sentindo uma puta. O tom de desdém de Gustavo, a fala como se eu não tivesse ali. Bela merda que eu havia me metido.

— Você tá muito nervoso agora. Eu vou lá fechar as viagens e te adiantar, depois conversamos sobre isso aqui.

Disse Vitor. Ele me encarou e me deu um beijo no canto da boca.

— Depois falo contigo, loira.

Feito isso, ele saiu dali.

Gustavo caminhou até a porta que dava ao terraço e abriu. Ele não havia me encarado em toda essa situação, até agora.

Engoli em seco e arrumei o pano da mesa, na tentativa de fugir daquilo. Fui caminhando em passos largos até a porta da cozinha e olhei para atrás, para conferir se ele havia entrado. Gustavo estava imóvel, me encarando. Ele me lançou o olhar mais desprezível que eu já tinha visto em todo esse tempo. Confesso que, me desconcertou por dentro. Feito isso, ele entrou ali, batendo a porta.

La putaOnde histórias criam vida. Descubra agora