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A tarde havia chegado. Subi pro terraço, aquilo sem sombra de dúvidas havia virado meu lugar. A gaita de Gustavo estava na minha mão e o que ele havia dito, na minha cabeça.

Eu precisava me livrar daquilo e acho que os Deuses do universo queriam, uma vez na vida, conspirar ao meu favor.

Gustavo entrou pela porta, ele arregalou os olhos quando me viu e semi-serrou os lábios.

Me levantei, totalmente sem graça, enquanto ele desviou o olhar para minhas mãos.

— Eu não sabia que você estava aqui. Desculpa.

Se pronunciou ele. Não se passava um grampo no clima.

— É, aqui se tornou o meu lugar de paz em meio à isso aqui. Organizo as idéias.

— Sempre foi o meu.

Por um descuido, nossos olhos se encontraram e se congelaram por alguns minutos. O suficiente pro meu corpo todo entrar em chamas.

— Eu queria conversar com você sobre hoj..

— Gustavo, eu preciso descer, daqui a pouco preciso me arrumar, daqui a pouco Vitor tá aí e você sabe, aquela loucura.

Interrompi, dando um sorriso amarelo. Andei até a porta, ele estava parado ao lado. Gustavo segurou meu braço e foi o suficiente pro meu estômago todo se embrulhar. Aquele olhar que parecia que ia entrar em mim novamente estava ali.

— Por favor, eu preciso conversar com você.

— A gente não tem o que conversar.

— Você sabe que tem.

Voltei um pouco pra trás, apertando a gaita em minha mão.

— Eu já disse o que tinha pra dizer.

— Você não me respondeu, eu te disse uma coisa no final.

— Não ouvi nada.

— Eu te am..

— Gustavo, para! Para com isso.

Gritei, super-nervosa. Puxei meus braços de sua mão e o encarei.

— Chega desses joguinhos, eu to cansada. Você me colocou nesse lugar, chega. Toma, segura essa coisa.

Joguei a gaita nele, ele me olhou perplexo.

— Você tá maluca?

— Eu to cansada. Cansada de você fingir que pode viver alguma coisa comigo. Cansada de fingir que tá tudo bem. De você fingir que não me colocou aqui e destruiu a minha vi..

— É!

Gritou ele, me interrompendo, ele jogou a gaita no chão e se aproximou de mim. Sua respiração estava descontrolada, os olhos dele ardiam.

— É isso que eu sou. Eu destruo tudo, tudo que está em minha volta. Eu destruí o casamento do meu pai com a mulher que ele amava, eu destruí meu pai, eu destruí a vida do Vitor, da Vitória, to destruindo a da Júlia e de um monte de mulheres. Eu destruí até à mim mesmo e eu não dava a mínima pra isso, até você chegar.

Ele terminou, totalmente atordoado. A dor com que ele soltava as palavras me fez ficar paralisada, apenas ô encarando.

Gustavo ficou alguns segundos me olhando, em um silêncio absurdo. Ele voltou a si, foi até a gaita e à pegou de volta. Ele enfiou ela no bolso e foi até a porta do terraço.

— Esquece tudo que eu te disse hoje. Você tá certa. Eu não sei onde que eu estava com a cabeça. Isso. Essa coisa. Isso tudo não tem nada a ver.

Ele saiu, batendo a porta.

Respirei fundo, o ar havia voltado e preenchido o resto do meu corpo. As lágrimas desciam e eu fiquei ali, imóvel.

La putaOnde histórias criam vida. Descubra agora