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Depois de tanto pensar, resolvi adiantar o almoço. Toda hora me deparava com a porta do terraço e lembranças tomavam conta de mim. Ora em ora me pegava feito boba, parada, lembrando de tudo.
(...)

— Que cheiro bom é esse?

Paloma falou, entrando na cozinha de cara amassada.
Mostro minha torta de frango e ela faz careta, batendo palma.

— Como eu amo você, meu anjo!

— Que falsa!

Logo depois, Mirela e Manuela entram brincando e todas nós comemos.

— Menina, e essa ausência do Gustavo, vocês sabem de alguma coisa?

Mirela disse, enquanto dava uma garfada.
Me engasguei na mesma hora e elas me olharam. Logo, Manuela respondeu:

— Acho que foi se casar com Júlia. Já estava tudo certo, né?

Mais uma vez me engasgo, dessa vez, com o suco. Me levantei na mesma hora. Eu não queria ouvir aquilo. Coloquei como um jato minha louça na pia e saí dali.

Meu coração estava apertado, um nó na garganta tomava conta de mim. Me sentei no sofá, respirando algumas vezes com as mãos na cabeça. Meus olhos fechados tentavam encontrar qualquer coisa que me fizesse fugir dali. A gaita que ele deixou comigo me vem a cabeça e eu me levanto. Corro até o quarto, pego ela, em baixo do meu travesseiro e saio correndo novamente, descendo as escadas.

— Menina, desce devagar. Você vai cair, Gabi.

Paloma me alerta, dou uma risadinha pra ela e passo, indo direto ao terraço.

Já lá em cima, o vento gelado toma conta da minha pele. O tempo estava feio, o céu cinza.

Sentada, olhando os grandes prédios altos, levo a gaita até a boca e assopro, um som horrível saí dela. Beijo, e assopro novamente, rindo.

Depois de gargalhar sozinha, vendo meu desastre com aquilo, levo ao peito e aperto ali, de olhos fechados. E por alguns minutos, sinto Gustavo presente.

Eu me sentia tola, pensar nele enquanto se casava. E mais ainda por não saber o que sentir por ele. Pensava em paixão, em amor, mas tudo assim, tão rápido, me fazia pensar também que não passava de uma adrenalina, algo confundido. Eu só tinha uma certeza: aquilo, que eu não sabia dar nome, estava me consumindo de saudade.

La putaOnde histórias criam vida. Descubra agora