O rei deixou o salão onde os bajuladores festejavam o nascimento de seu filho para sentar-se só em seu trono, fitando a imensidão do salão comunal vazio.
A chuva saudou-o fortemente com as pancadas nas janelas e clarabóias enquanto Sohlon impacientemente batia seus pés no chão de mármore branco.
Kaha embrulhou-se no peito quente do pai e sonhou um sonho tranquilo de quem não tinha nada a afligir a breve vida.
O rei beijou a testa de sua criança e apurou os ouvidos.
Os elegantes sons dos sapatos de sua rainha no piso frio o alertaram de sua presença.
- O que faz aqui, Odile? - Sohlon perguntou à sua amada.
A rainha aproximou-se com toda sua magnitude. Sua postura não relaxava em momento algum, mesmo para dirigir-se ao homem com quem partilhava a cama.
- Vim ver quem tirou meu marido e meu filho de nossa própria festa. - Ela sentou-se no trono ao seu lado, destinado à ela.
- Tratarei de assuntos delicados agora.
- Pois bem, que tratemos juntos então.
Sohlon respirou profundamente.
- Não será agradável, minha rainha...
- E desde quando são? - Odile virou o rosto para encarar seu esposo. - Pare de tomar as decisões sem mim, meu rei. Este reino é tão meu quanto seu.
Sohlon tomou-lhe a mão, beijando delicadamente seus dedos finos.
- Tem a liberdade de estar ao meu lado sempre que desejar, Odile.
A rainha sorriu, vitoriosa.
- Assim seja, então.
Kaha acordou nos braços do pai, como se previsse a chegada de seu convidado.
As portas do comunal salão do trono se abriram e a guarda apareceu à frente das majestades, do outro lado do recinto.
Os soldados escoltavam uma figura que não remeteu nada à rainha Odile, mas que fez Sohlon querer levantar-se de ansiedade.
Odile semicerrou os olhos quando a guarda aproximou-se com o homem. Seu capuz encharcado com cheiro de chuva cobria-lhe o rosto.
Roto seguiu em frente. O marechal estava impassível.
Quando a guarda chegou aos pés dos degraus que levavam aos tronos, a guarda dispersou-se, metade para cada lado, deixando apenas Roto com a figura encapuzada.
Odile não o conhecia. Não pessoalmente. Entretanto, seus instintos lhe davam certeza de quem era.
O Oráculo tirou o capuz e sorriu.
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Chamas de Petrichor {trilogia}
FantasyEra curta a lista dos medos que afligiam a pequena garotinha de olhos cinzentos. Primeiro, Azura não gostava do escuro. Ela era nascida de Petrichor, descendente de Sonca e Marama, os deuses do Sol e da Lua. Qualquer ausência de luz causava-lhe um p...