Uma parte daquela garota queria apenas debulhar-se em lágrimas e cair sobre os braços daquele homem que tanto amou e achou que nunca mais veria. A outra, entretanto, queria apenas resumir aquele infeliz rosto a pó.
Azura viu o silêncio crescer ao seu redor. Ninguém nada disse, como se soubessem quem ele era, o que ele fez, o que ela estava sentindo. Mas não, ninguém entendia o turbilhão de emoções tão díspares que lhe atacavam naquele instante. Seu ar fugiu completamente de seus pulmões e de repente aquela tenda estava apertada demais para ela.
A petrichoriana passou a passos largos ao lado de Düran e abriu a tenda, disparando para fora dela e batendo mais os pés do que gostaria. O ar fresco e frígido daquela manhã nublada não a ajudou a respirar.
Azura estava em um estado catatônico, não sabendo para onde iria ou o que faria. Não se importou com os Kinos que a olhavam. Ela apenas despertou quando sentiu aquele toque tão conhecido em seu punho. Düran a alcançara.
- Me solta! - esbravejou e violentamente puxou seu punho para si, deixando as lágrimas insistentes escorrerem. Ela não queria mostrá-las.
- Azura... - Düran estava tão diferente e tão igual. Mesmo olhá-lo era um gesto doloroso. - Preciso que me escute, por favor.
Azura fechou os punhos com tanta força que as compridas unhas machucaram-lhe as palmas das mãos, o que pouco lhe importava agora. Seu corpo tremeu. Düran tentou aproximar-se, mas ela deu um passo para trás. Viu que atrás deles seus amigos saíam da tenda, alguns tentando entender o que acontecia, outros tendo certeza.
- Você não merece que eu te escute - as palavras saíram entre os dentes de Azura. - Você não merece.
- Azura...
- Pare! - a garota levou as mãos à boca. - Pare de me chamar pelo nome, Düran. Pare de usar esse tom, como se fosse a vítima aqui. Petrichor é a vítima! Arin, Marin, Vera, meu pai, Ava...
As lágrimas de Düran também quiseram rolar.
- Eu não sabia o que estava fazendo. E não sabia que proporções aquilo tomaria... - Düran sussurrou com a voz embargada. - Quando eu percebi o que fiz, já era tarde demais, eu estava... cego.
- Cego? - Azura desdenhou.
- Cego de... de amor por você, Azura! - Düran quis aproximar-se, mas viu que cometeria um grande erro se o fizesse. - E foi pelo mesmo motivo que eu a perdi.
Azura balançou a cabeça, incrédula. Ela olhou para o céu cinzento que pouco lhe passou conforto.
- Não posso fazer isso agora - com aquelas palavras, deixou-o ali, prostrado como uma árvore que fincava raízes.
Suas lágrimas machucaram Azura. Foi quando ela percebeu que se importava. O pensamento doeu. Ela correu para longe, sem saber seu destino. Só não podia ficar ali. Não podia lidar com aquilo agora.
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Chamas de Petrichor {trilogia}
FantasyEra curta a lista dos medos que afligiam a pequena garotinha de olhos cinzentos. Primeiro, Azura não gostava do escuro. Ela era nascida de Petrichor, descendente de Sonca e Marama, os deuses do Sol e da Lua. Qualquer ausência de luz causava-lhe um p...