O reflexo no espelho já não lhe era o de alguém habitual.
Suas entradas nos cabelos estavam maiores e algumas marcas de expressão desenhavam-se em sua testa e olhos cansados, mas seu corpo ainda era forte. Por sinal, estava mais forte do que nunca.
Rei Sohlon limpou o suor da testa. O calor era tanto na Cidade de Crisântemo que o homem tirou também sua camisa, jogando-a em um canto da arena e tomando novamente a espada em mãos com um sorriso de quem não desistiria fácil.
Seu fiel braço direito e o marechal de seu exército, Roto, riu do cansaço do homem ao vê-lo treinar.
- Não é mais tão jovem, meu rei?
Sohlon não lhe respondeu. Não verbalmente. Ele avançou com a espada, golpeando Roto, que se defendeu, recuando um passo para trás. Os dois travaram aquela batalha como se dançassem uma coreografia friamente executada. Lutavam todas as manhãs, sabendo exatamente o passo que o outro tomaria, o que dificultava que houvesse um vencedor.
Sohlon era bom, tão bom quanto Roto. Os dois cresceram juntos, mesmo após Sohlon ascender ao trono, dando ao braço direito a maior patente de sua guarda.
Cansado de lutar, Sohlon usou da força bruta para desarmar Roto, cuja espada voou das mãos até o outro lado da arena. Sohlon o chutou ao chão e pisou em seu peito, colocando a espada na garganta do amigo, finalizando-o.
- É bom retirar o que disse, Roto. - Ele riu, estendendo a mão para ajudá-lo a se levantar. - Estou cada dia mais jovem.
Os velhos amigos riram.
O Rei Sohlon tomou sua camisa e secou o suor do rosto e do corpo. Pelo canto do olho, viu uma criada aproximar-se.
- Meu rei?
- A criança nasceu? - Ele perguntou, limpando a espada em mãos, sem olhar para sua criada.
- Sim, meu rei.
- É um menino? Saudável?
- Sim, um lindo menino, meu rei, saudável como um touro! - Ela sorriu, mas Sohlon não expressou emoção alguma.
- Dispensada.
A criada o reverenciou e saiu às pressas. Qualquer um temia estar na presença de Sohlon.
- Meu sobrinho vive? - Roto perguntou, despejando a água do cantil goela abaixo.
Sohlon concordou, recolocando a camisa.
- Agora, me retiro, velho amigo. - Ele abotoou o último botão da camisa. - Vou conhecer meu filho.
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Chamas de Petrichor {trilogia}
FantasiEra curta a lista dos medos que afligiam a pequena garotinha de olhos cinzentos. Primeiro, Azura não gostava do escuro. Ela era nascida de Petrichor, descendente de Sonca e Marama, os deuses do Sol e da Lua. Qualquer ausência de luz causava-lhe um p...