Aurèlia estava cega pelo desalento. Seus passos eram vãos e ela confiava irrefletidamente em Düran, que a puxava floresta adentro sem rumo definido.
Os gritos ao redor deles pareciam ir e vir, desaparecer por completo e voltar com tudo. Tudo o que Aurèlia queria era sentar e deixar a dor agarrá-la, mas Düran não permitiu que ela parasse e pensasse na agonia nem por um instante.
Em meio a dolorosos devaneios, a Kino teve certeza de ter visto algo brilhando pelo canto de seus olhos. Ela bruscamente puxou a mão do petrichoriano, que parou.
Düran procurou pelos olhos de Aurèlia, mas as orbes da mulher vagavam pela escuridão ao redor deles como se procurasse desesperadamente algo a que se agarrar.
- Aurèlia! - o homem a chamou, apertando os dedos das mãos entrelaçados aos seus.
A mulher não respondeu. Ela deu mais uma volta no lugar até encontrar o que procurava. Quando o desespero permitiu que seus olhos enfocassem em algo, ela viu aquela criatura que há tanto tempo não via. Tinha medo inclusive de que vê-la no passado pelas árvores do Bosque fora um delírio. Mas não. A pequenina fada de pele negra como a noite e asas translúcidas aproximou-se com as sobrancelhas demonstrando tudo o que ela não conseguia dizer.
Düran congelou com a aproximação da tacanha criatura. Aurèlia, em meio às lágrimas, estendeu a mão para tocá-la. Ela sentiu o mísero toque da fada na ponta de seu dedo e a criatura a puxou, guiando o caminho. Aurèlia a seguiu e Düran seguiu Aurèlia. Puipuiga os encontrou em meio à dor para dar amparo.
Foi como se os Deuses os ouvissem. Aos poucos aquele povo afastou-se do lugar que tanto amava, mas se reencontrou em meio às árvores mais dispersas de um dos lados do Bosque das Lamúrias, depois de tanto andar em sintonia com as pequenas criaturas que os guiavam.
Aurèlia encontrou ali uma pequena porcentagem de sua gente. Ela encontrou olhos familiares que arregalaram-se ao verem os seus. Encontrou feridos, magoados, sentidos, enlutados, mas não encontrou quem procurava.
Ela soltou da mão de Düran, finalmente, apenas para correr desesperadamente por entre os que se encontravam sob as árvores à procura de seu pai.
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Chamas de Petrichor {trilogia}
FantasíaEra curta a lista dos medos que afligiam a pequena garotinha de olhos cinzentos. Primeiro, Azura não gostava do escuro. Ela era nascida de Petrichor, descendente de Sonca e Marama, os deuses do Sol e da Lua. Qualquer ausência de luz causava-lhe um p...