Há muito Ginevra sentia-se solitária. Desde que saíram da cabana de Puipuiga no Bosque das Lamúrias, percebeu que o sentimento angustiante não se tratava apenas da saudades de casa, mas um buraco gritante no peito que se alastrava mais e mais à medida que ela se descobria bruxa. Tanto a compartilhar e tampouco com quem. Conhecer Dante lhe trouxe breves esperanças, mas a inquietação criou raízes em seu âmago. Até colocar os pés em Cinzas.
Um refúgio, um abrigo, uma base inteira para bruxos e bruxas, jovens a idosos, fugitivos das garras da coroa. Ali, encontrou os seus. Foi como se o poder tornasse às suas mãos, toda a sabedoria de sua avó brotava de dentro para fora como se esta estivesse ao seu lado. A bruxa juntou os seus e não teve dúvidas de que proteger pássaros azuis seria uma árdua tarefa, mas nada que não pudessem obter êxito.
- Tentamos uma vez, Ginevra - uma das bruxas, uma anciã de cabelos brancos, lembrou-a. - Tentamos mais de uma.
- Mas não tinham a mim.
Suor ardente e lágrimas de frustração e esforço levaram um povo quase extinto a se reerguer. Estavam lá, unidos em rebeldia, prontos para devolver a dor à coroa. Ginevra tinha a fórmula que não tinham, a sabedoria escondida que sua avó lhe deixou.
Suor ardente e lágrimas de frustração e esforço fizeram os pássaros voarem. Dessa vez tinha certeza: eles chegariam ao destino.
Botaram-se a caminho da Pedreira, um povo inteiro. Os cinzentos reviram as terras fora da cidade natal depois de anos escondidos, prontos para mostrarem o que guardavam nas mangas e por debaixo dos panos por tanto tempo.
Se antes os vagantes soubessem, caminhos secretos ligavam Vocra e Cinzas, caminhos que evitavam um abismo de milhares de pés sem fundo. Por terra marcharam, o tempo inteiro, com a cabeça erguida. Nenhuma criatura ousou importunar um exército como aquele, gigante em suas próprias proporções.
Revezando os cavalos e as armas, caminhavam incessantemente em silêncio quase perturbador. Já não nevava e a trajetória era fácil. Apenas fisicamente. Manter-se são e largado aos próprios pensamentos era uma luta pessoal que podia desestabilizar um por um ali mesmo, antes de pisarem em campo de batalha. Cada passo os levava mais próximos a um destino incerto e temeroso. Na frente, guiava Azura.
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Chamas de Petrichor {trilogia}
FantasyEra curta a lista dos medos que afligiam a pequena garotinha de olhos cinzentos. Primeiro, Azura não gostava do escuro. Ela era nascida de Petrichor, descendente de Sonca e Marama, os deuses do Sol e da Lua. Qualquer ausência de luz causava-lhe um p...