Azura passou as mãos pelos braços desnudos, tentando aquecer-se da brisa álgida que meneava cada uma das árvores longilíneas do Bosque das Lamúrias.
Ginevra, entretanto, não parecia sentir frio algum. Estava com pensamentos focados em outro lugar naquele momento.
A bruxa guiou Azura pela floresta, que nada disse. A petrichoriana sabia que não voltaria a dormir tão facilmente, além da curiosidade recém despertada estar mais atiçada que nunca.
Logo chegaram ao destino, Azura pôde ter certeza ao ver o altar que a bruxa montou à beira de um lago de água cristalina e parada.
Assim que Ginevra aproximou-se, as chamas de quatro velas se acenderam, ao lado de pedras que a bruxa dispôs em um pequeno círculo.
Ginevra finalmente a olhou.
- O que está fazendo? - Azura indagou.
- Lhe devo respostas - Ginevra sorriu simpaticamente. - Me dê sua adaga.
Azura cerrou as sobrancelhas, mas alcançou a faca com certa hesitação e a estendeu à sua frente. Uma breve excitação nasceu em seu peito, mesclada com a esperança do que aquelas palavras poderiam significar.
- Era de seu pai, certo?
A petrichoriana concordou com a cabeça.
Ginevra colocou a adaga entre as pedras e sentou-se logo atrás de seu altar com as pernas cruzadas. A tênue luz das velas acesas iluminou seu rosto.
- Azura - Ginevra olhou em seu rosto tenso - entre na água quando ela lhe convidar.
- Como assim? - a garota indagou. - Como eu saberei?
Ginevra sorriu de modo ameno e fechou os olhos.
Azura sentiu-se sozinha, como se a amiga não estivesse mais ali com ela. Estava longe.
A petrichoriana olhou para a água cristalina. Uma fraca névoa a beirava e parecia fria. Tão fria quanto a noite.
Azura respirou profundamente e olhou para os lados. Sua questão não havia sido respondida. Quando voltou a olhar para a água, arfou. Aquele líquido cristalino e transparente transformava-se gradativamente em um espelho que refletia a escuridão do céu, com tanta nitidez que nada além daquela película podia ser vista.
A garota rapidamente tirou suas botas e meias. Optou por tirar a calça e o xale vermelho também. Eles de nada serviriam dentro da água, mas com certeza a ajudariam secos quando ela saísse.
Azura aproximou-se da água e viu-se perfeitamente refletida ali. Olhou para Ginevra mais uma vez antes de colocar um dos pés na água gelada, que sumiu ao atravessar a película espelhada. O frio espalhou-se por todo o corpo de Azura.
Ela adentrou a água cada vez mais, chegando o líquido a alcançar seus joelhos. Quando tomou coragem para adentrar o lago até a cintura, Azura olhou para baixo. Ela ofegou de surpresa e emoção. No reflexo, reconheceu uma mulher que sentiu falta. Ela estava com os cabelos negros presos em uma bonita trança que habitualmente usava no dia a dia em Petrichor, além de suas roupas preferidas e confortáveis. Suas unhas estavam feitas, pintadas de preto, como ela gostava. No centro de sua testa, a tinta de urucum vermelha delineava seu sétimo chakra. Sentiu vontade de chorar, não sabendo se de saudades ou tristeza por algo que não voltaria. Ela inspirou profundamente e fechou os olhos, permitindo-se mergulhar na água glacial e desaparecer dentro daquela membrana hermética.
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Chamas de Petrichor {trilogia}
FantasyEra curta a lista dos medos que afligiam a pequena garotinha de olhos cinzentos. Primeiro, Azura não gostava do escuro. Ela era nascida de Petrichor, descendente de Sonca e Marama, os deuses do Sol e da Lua. Qualquer ausência de luz causava-lhe um p...