Prólogo

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Era curta a lista dos medos que afligiam a pequena garotinha de olhos cinzentos

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Era curta a lista dos medos que afligiam a pequena garotinha de olhos cinzentos.

Primeiro, Azura não gostava do escuro. Ela era nascida de Petrichor, descendente de Sonca e Marama, os deuses do Sol e da Lua. Qualquer ausência de luz causava-lhe um pânico que ela não conseguia verbalizar, mesmo com seus quatro anos de idade.

Segundo, Azura não gostava do mar. Aquela pequena criatura que mal chegara ao mundo recusava-se a botar os pés na água salgada, mesmo que seu pai dissesse que Morgana a protegeria, não importa o que acontecesse.

Terceiro, Azura tinha medo da solidão. Desde sempre fora ela e o pai. Mesmo assim, a pequena nunca esteve sozinha. A vida em Petrichor lhe proporcionou uma gama de amigos imensa e uma infância estupenda.

Por fim, a pequena Azura não gostava de ouvir aquela história.

Seu pai contou-lhe imensuráveis crônicas sobre o passado, sobre os deuses que a protegiam durante o sono, sobre Sonca e Marama, sobre os espíritos do Vale e sobre as crenças de Petrichor. Também lhe contou as histórias macabras do Velho Mundo, quando os deuses estavam em guerra e a natureza se revoltou contra os bons cidadãos que habitavam a terra, transformando-os em Kinos, no Mal, nos seres vagantes de milhões de anos que, dizia a lenda, ainda perseguiam os prófugos perdidos do Vale de Awa.

Nem mesmo essa história a assustava tanto quanto a do Rei Sohlon. Isso porque Azura já o tinha visto. Ela se lembra quando o Rei Sohlon, rei de tudo o que o Sol toca, viajou da Cidade de Crisântemo para Petrichor com sua guarda pessoal.

Mesmo pequena, ela se lembra do homem das lendas parado bem a sua frente, no cavalo mais vermelho que ela já vira. E, mesmo pequena, ela se lembra do olhar de Sohlon - aquela não era uma visita amigável. Era uma intimação. Era para certificar-se de que seus subordinados andavam na linha.

Azura pediu ao pai naquela noite que lhe contasse sobre o Rei Sohlon, o homem mal-encarado do cavalo vermelho.

O pai da pequena lhe contou, com todos os eufemismos possíveis, a história que ficou conhecida por todos do Vale de Awa como o Amanhecer do Sangue.


Sohlon não era um homem mau. Ele era apenas um garoto de vinte e poucos anos cujos pais reinavam no Vale de Awa, sentados nos tronos da Cidade de Crisântemo.

Quando o pai adoeceu e veio a falecer repentinamente, Sohlon assumiu seu posto.

A partir do momento que sentou-se no trono, seu coração foi corrompido pelo poder e pela riqueza. Ele queria mais. Ele queria tudo. Enquanto não conquistasse a mais mísera faixa de terra do Vale de Awa, não se contentaria.

O então garoto visitou um Oráculo. Ele cavalgou dias e noites com seu cavalo para encontrá-lo no Deserto de Maloo.

Quando finalmente o encontrou, o Oráculo presenteou o novo rei com uma profecia:


"A você, rei Sohlon, tudo o que o Sol tocar lhe pertencerá. Todas as terras, todas as vidas, todas as riquezas, assim como condiz com seus sonhos de fortunas infinitas.

Porém,

seu triunfo está datado, meu jovem.

Quando o segundo filho nascido de família humilde bater em sua porta suas paredes se desmoronarão e o Aclamado sentará em seu trono, trazendo a você e a sua família a desgraça da morte e o fim de sua dinastia".


As palavras do Oráculo fizeram Sohlon enfurecer-se, escurecendo sua alma e o restante de sua bondade.

Assim que Sohlon voltou a Crisântemo, sua primeira ordem como Novo Rei foi uma chacina - ordenou que todos os segundos filhos homens de todas as famílias de todo o Vale de Awa fossem executados e que todos os que ousarem tê-lo, dali em diante, seriam condenados à morte pelo desrespeito às leis da dinastia de Sohlon.

Na mesma madrugada, o exército de Sohlon vagou pelas ruas dizimando casas e famílias, destruindo lares e matando crianças. O Amanhecer do Sangue nunca fora esquecido.

Não demorou muito para que a profecia chegasse à boca do povo, justificando os atos do monarca ditatorial.

Desde então, todos os que ousaram ter uma segunda criança do sexo masculino foram delatados sob recompensas em dinheiro e executados pelas mãos do carrasco.

Azura tinha fascínio pela história. Não sabia se era medo, se era intriga, ou o que quer que fosse. Ela tinha apenas quatro anos, mas a crônica do Amanhecer do Sangue nunca saiu de sua cabeça. E assim, com revolta e repúdio, Azura cresceu.

 E assim, com revolta e repúdio, Azura cresceu

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Chamas de Petrichor {trilogia}Onde histórias criam vida. Descubra agora