97. Cinquenta Entre Centenas

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- Não - Tereza balançou a cabeça, negando

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- Não - Tereza balançou a cabeça, negando. - De jeito nenhum, Gisèle.

Já estava quase na hora de partir, ambas sabiam. Sabiam também que Tereza não iria a lugar nenhum. Sentada na cama, de volta em seu humilde aposento, o ferimento profundo que rasgava-lhe a perna não mais doía, isso até ela tentar levantar-se. Então, a dor aguda e lancinante retomava seu lugar.

Gisèle estava sentada na cama, olhando fundo nos olhos de Tereza. Tinha um discurso ensaiado na ponta da língua, mas não conseguiu verbalizar nem a segunda frase ao olhar dentro das orbes da garota à sua frente que a encaravam como se estivesse apavorada. Não levava jeito para palavras como a irmã, pensou. Já não bastava ter que se despedir dela, agora a vida lhe obrigava a se despedir de Tereza também.

- Te... - a loira pediu, desviando o olhar.

- Vocês não vão sem mim, Gisèle - a ruiva impôs. - Se forem, vão ter que me levar também.

- Se você conseguir ficar em pé - Gisèle provocou-a -, eu levo você.

Tereza fechou uma carranca determinada. Ajeitou-se na cama e o próprio gesto fez a dor em sua coxa alastrar-se por toda a perna. Segurou uma careta.

- Te... - a loira a chamou.

Tereza não lhe respondeu. A mulher jogou uma perna para fora da cama - a que não fora ferida - e gritou um grito fino de dor ao jogar a outra.

- Pare com isso, Tereza - Gisèle tocou-lhe o ombro, mas a ruiva se desvencilhou. Teimosa como era, obrigou-se a ficar em pé. Apoiou-se na perna boa e tentou mostrar-se forte, mas as lágrimas que brotaram de seus olhos eram de dor e medo da verdade. Seu primeiro passo a levaria ao chão, se não fosse por uma figura que a esperava do batente da porta, apenas ouvindo a cena. Caiden a amparou. Nos braços do homem, Tereza chorou. Caiden e Gisèle entreolharam-se. A loira levou uma das mãos à boca, segurando um choro sofrido.

Caiden sentou-se no chão e trouxe Tereza para seu abraço, envolvendo-a como uma criança que pede por colo. Tirou seus cabelos acajuzados da frente de seu rosto. Gisèle logo juntou-se aos dois, abaixando-se ao lado de ambos no piso frio e rachado.

- Não podem ir - a ruiva pediu, soluçando. - Não me deixem aqui, por favor!

- Alguém tem que ficar com Cöda, Tereza... - Caiden beijou o topo de sua cabeça, procurando passar-lhe um conforto que sabia ser quase impossível.

- Carú - a ruiva interpelou. - Carú fica com Cöda e com Coli.

Gisèle puxou-se para mais perto e tomou o rosto da mulher com as duas mãos, obrigando-a a desgrudar do peito de Caiden e olhá-la nos olhos azuis como o céu já fora um dia.

- Te, eu... - Gisèle procurou por palavras que não encontrava. Insistiu. - Devemos lutar. Eu, Caiden, Carú. Todos que conseguirem, todos devemos lutar.

Chamas de Petrichor {trilogia}Onde histórias criam vida. Descubra agora