Morgana completara suas doze primaveras naquele ano.
Seus amados pais e família viviam uma vida simples em Vocra. Foi logo depois do seu décimo segundo aniversário que o sol e a lua surgiram no céu, antes negro e sem vida.
O mar que rondava Vocra era límpido e sereno. A calmaria chegava a assustar.
Com a chegada do sol e da lua todos os dias, os mares por todos os quatro cantos do Vale de Awa cederam às tentações dos astros - ondas enormes formaram-se nas encostas, inundando todas as terras daquele simples Vale, principalmente as do pequeno lugarejo onde morava Morgana.
A garota viu-se com medo de contemplar o belo mar, por mais que agora, com a ascendência de Sonca e Marama, as águas ganhassem um brilho tão sedutor que chamavam-a para aventurar-se em seus horizontes.
Os pais de Morgana, dirigentes de todo o terreno pertencente a Vocra, não souberam como proceder com a água dos mares invadindo suas terras e desidratando suas colheitas. Os homens começavam a passar fome e os mais fortes, a perecer.
Morgana não conseguia sentir raiva daquele belo mar. Não conseguia culpá-lo. As ondas ainda a prometiam algo maior.
Os pais de Morgana chamaram uma bruxa, reza a lenda que a mesma bruxa que abençoara o amor de Sonca e Marama.
A bruxa, com toda a sua sabedoria, revelou àqueles pais que o mar estava bravo pois faltava um pedaço dele.
Morgana ouviu toda a conversa. Como poderia um mar tão majestoso estar sentindo falta de algo?
Àquela tarde, quando a maré ainda não chegara para invadir a bela cidade de Vocra, Morgana foi à praia. Lá, encontrou uma figura conhecida com os pés na areia.
Ela aproximou-se da bruxa até que ambas ficassem lado a lado, observando as ondas quebrarem cada vez mais altas.
Morgana sentiu uma sensação pacífica no peito. Contraditória, ao mesmo tempo.
A pequena garota olhou para seu povo, para a amada cidade de Vocra e para seus moradores morrendo de fome. Em seguida, olhou para o mar sedutor, que a chamava todos os dias para aventurar-se em sua imensidão azul. Por fim, olhou para a bruxa.
Uma lágrima escorreu dos olhos de Morgana, mesmo ela não sabendo de onde ela viera.
A bruxa limpou a solitária lágrima da pequena e sorriu.
- Sabe o que fazer, pequena Morgana?
Morgana assentiu.
Ela sabia onde era seu lugar e, por mais que amasse Vocra, não era ali.
A garota tirou os sapatos e caminhou em direção ao mar, furioso e majestoso. As ondas altas começaram a bater em sua cintura quando ela ouviu seus pais gritarem por ela.
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Chamas de Petrichor {trilogia}
FantasyEra curta a lista dos medos que afligiam a pequena garotinha de olhos cinzentos. Primeiro, Azura não gostava do escuro. Ela era nascida de Petrichor, descendente de Sonca e Marama, os deuses do Sol e da Lua. Qualquer ausência de luz causava-lhe um p...