Caiden não soube como encontrou forças para chegar ao chão.
Seu irmão chorava em seus braços, enrolado em panos limpos e protegido da chuva torrencial que avassalara D'Ávila naquela noite.
Sentiu como se a terra de seu quintal fugisse aos seus pés. Sua respiração, por mais que insistisse em puxar o ar, falhava. A chuva o cegava e o coração palpitava. Seu mundo inteiro virou do avesso, assim como seu peito teimava em fazer.
A ciência de onde estava e a situação em que se encontrava retornou apenas quando a figura de Gisèle desenhou-se à sua frente, um bosquejo dos cabelos loiros e dos olhos azuis desesperados. As mãos geladas da amiga apertavam-lhe com força o ombro, trazendo a atenção para si.
- Caiden! - Ela percebeu quando o amigo focou no presente. - Precisamos sair daqui!
Gisèle tomou o pequeno ser dos braços de Caiden e, mesmo que a criança pesasse menos de meio quilo, livrou-o de um peso enorme.
- Pra onde, Gis? - Foi o que Caiden conseguiu balbuciar em meio à tempestade.
Gisèle abriu a boca para responder, mas foi interrompida pelo som acima de suas cabeças. A porta do quarto onde estiveram outrora fora rompida e os gritos de Carú e Coli puderam ser ouvidos claramente.
Tudo o que Caiden gostaria de fazer era de voltar. Voltar não só para aquele quarto como para minutos atrás, quando sua mãe ainda vivia. Voltar não só minutos, mas anos, para quando Bóris não destruira aquela família.
No entanto, Caiden sabia que não poderia voltar.
Ele tomou a mão de Gisèle quando fugiu, atravessando o quintal dos fundos de sua casa e sumindo por entre as árvores de folhagem espessa que cresciam ali desde sua infância, no exato segundo em que o soldado imperial colocou o corpo para fora da janela do quarto onde jazia a mãe daqueles irmãos, Cida. Carú tentou ganhar tempo para os irmãos e a amiga, mas não fora o suficiente. O soldado avistou o agasalho de Gisèle antes que se perdesse por completo na escuridão da noite, sabendo então exatamente para onde seguir.
Gisèle segurou as lágrimas, sabendo que Caiden precisaria que ela fosse agora mais forte do que nunca. Ela soltou a mão do amigo para usá-la de proteção contra os galhos das árvores que vinham ao seu encontro. Deixou que alguns topassem contra seu rosto, dando preferência para a segurança daquela criança em seus braços, tão leve que ela pressionava os dedos contra o pano em seus braços para ter certeza de que o bebê ainda estava ali.
Ela ouviu o relinchar dos cavalos não muito distante.
Seus passos pararam instintivamente, puxando o ombro do amigo moreno.
- O que foi? - Caiden gritou, limpando a água da chuva que escorria de seus cabelos para os olhos.
- Não vamos conseguir fugir deles, Caiden! - Gisèle balançou a cabeça.
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Chamas de Petrichor {trilogia}
FantasiEra curta a lista dos medos que afligiam a pequena garotinha de olhos cinzentos. Primeiro, Azura não gostava do escuro. Ela era nascida de Petrichor, descendente de Sonca e Marama, os deuses do Sol e da Lua. Qualquer ausência de luz causava-lhe um p...