38. Deixe Que Me Temam

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Talvez devesse preocupar-se mais com a aparência, ele sabia

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Talvez devesse preocupar-se mais com a aparência, ele sabia.

Sohlon era um homem bonito, antes de ser rei ou assumir qualquer cargo que lhe trouxesse poder.

Nos últimos dois meses, entretanto, deixara a barba por fazer e os cabelos cresceram desenfreadamente. Ele voltara a beber com frequência e não se lembrava de como era sorrir.

Antes, Sohlon ainda carregava a carranca por onde fosse. Ele resumia os sorrisos à Odile e, por pouco tempo, à Kaha, seu pequeno herdeiro.

Agora, entretanto, acordava de frequentes pesadelos que o assolavam noite sim e outra também. O ar carregado arrastava-se ao seu redor pelo dia inteiro. Tudo o que fazia para distrair-se era lutar com Roto.

Nem mesmo podia tentar cavalgar pelos campos ao redor de Crisântemo. Estava ilhado naquele palacete com a guerra que cravara com o próprio povo.

Naquele dia em especial, Sohlon acordou enfurecido e decidido a fazer algo a mudar.


Reunidos no salão do conselho, as influentes figuras do Vale de Awa estavam mergulhadas no mais profundo silêncio. Nenhum dos homens ousara cortá-lo ao menos para ajeitar-se na cadeira.

O rei olhava janela afora. O dia estava abafado e quente, mas os céus carregavam nuvens nubladas e precipitadas para aquela hora do dia.

- Devem estar curiosos com o motivo de lhes requisitar aqui hoje - o rei cortou o silêncio, permitindo que todos finalmente respirassem em paz.

- Estamos, meu rei - Lorde Mirra o respondeu.

Sohlon voltou-se para eles. Estava claramente cansado, com carregadas olheiras e a aparência descuidada.

- Não quero opiniões e nem mesmo sugestões - o rei prosseguiu. - O que me traz aqui hoje é um informativo.

Em silêncio, os outros aguardaram.

- Vou reabrir as fronteiras de D'Ávila e Arande. Até mesmo da Pedreira. De todos os cantos que ousaram se fechar para mim. Ainda sou o rei dessas terras.

Os presentes tremeram. Eles sabiam que aquela decisão viria logo, e temiam ainda mais por saberem as consequências.

- Meu rei - Lorde Kunys arriscou sua garganta -, está ciente das consequências que sofreremos, certo?

Sohlon soltou o ar pesadamente pelas narinas. Kunys apressou-se a continuar.

- A guerra que está se alastrando por Crisântemo... vai se expandir por todo o Vale, meu senhor.

- Acha que sou inconsequente, Lorde Kunys? - o rei tentou conter a fúria em sua voz. - Eu não sou inconsequente. Eu sou o rei!

Sohlon gritou aquela última palavra, anunciando seu título. Todos mergulharam novamente no silêncio, inclusive Roto, que não mais conhecia seu amigo de tempos.

Chamas de Petrichor {trilogia}Onde histórias criam vida. Descubra agora