64. Brisa Glacial

35 9 81
                                    

Dante sentiu um calafrio percorrer sua espinha

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Dante sentiu um calafrio percorrer sua espinha. O tempo, antes já frio, tornava-se cada vez mais execrável. Foi de consenso do Conselho que ele ficasse na Pedreira ao invés de rumar com os demais para Cinzas. Ele até preferiu aquela decisão. Disseram que era bom ter ali um quase bruxo, um sabido das homeopatias e - quase - um curandeiro. Para si mesmo, dizia concordar. Seu imo lhe gritava, entretanto, que tinha medo do lado de fora. Sempre teve. A campina onde viveu com os Kinos era um lugar seguro, mas o Bosque nunca foi, o Vale dificilmente deixará de ser, e Dante era acomodado com o mínimo de segurança que barreiras frágeis podiam lhe proporcionar.

Sentiu-se perdido. Frey o deixara por menos de cinco horas até então e ele já estava ocioso, ansioso, com a cabeça tão vazia e tão cheia. Sentiu falta da amiga e do conforto de respostas. Rapidamente levantou-se de onde estava, no pouco confortável banco daquela padoca aos pedaços, um dos poucos comércios que ainda mantinha-se de pé em meio à tanto. Um dos poucos que não desistiram e insistiram em continuar preocupados em movimentar a economia daquela tão pouco pacata terra mesmo quando nem ao menos água tinham o suficiente para todos. Era escura e fria, a padoca, diferente das que ele vira em outras regiões por aí, quando lhe era permitido explorar além do Bosque das Lamúrias. Parecia sem vida, apesar do cheiro delicioso de pão fresco que subia ao amanhecer. Tin, o dono do estabelecimento, era um homem de meia idade e os poucos cabelos grisalhos em sua cabeça pareciam mais brancos do que deveriam ser naquela idade. Fumava o dia inteiro, o que lhe envelhecera pelo menos dez anos. Dante aproximou-se da bancada, agora pouco mais aquecido pelo café com gosto de queimado e o pão macio com manteiga caseira. Vez ou outra se dava ao luxo de alimentar-se com algo saboroso. Sempre dizia que o maior prazer da vida era comer. Frey discordava. Achava que era dormir.

- São vinte pedras - Tin lançou-lhe quando este debruçou-se sobre o caixa.

Os olhos negros de Dante se arregalaram.

- Vinte? Anteontem paguei dez no mesmo pedido, seu Tin - Dante apalpou os bolsos. Tinha apenas a nota de dez pedras ali com ele, o pouco dinheiro que trouxera para matar quem lhe matava.

- É, agora são vinte, menino lá do Bosque - Tin, mal-humorado, cruzou os braços.

- Como pode dobrar o valor desse jeito, sem nem avisar? - indignado, Dante ergueu a voz, chamando atenção aqui e ali. - Eu vou lá procurar um trocado, seu Tin, mas vinte? Orra, eu não estou cagando dinheiro aqui não!

- Não vai a lugar nenhum, não, menino lá do Bosque - Dante sentiu a pesada mão de Tin agarrar seu franzino braço, puxando-o mais para perto. - Me deve dez pedras ainda.

- Mas... mas eu não tenho aqui comigo, seu Tin - o Kino empalideceu. Além do roubo que lhe era feito ali, sentiu a pesada mão de amassar pão de Tin esmigalhar seu punho. - Eu vou ali na esquina buscar mais dinheiro com um amigo, o senhor me conhece, eu estou sempre aqui e...

Tin não o deixou terminar. Puxou o punho do garoto mais para perto e fez com que Dante inclinasse o corpo sobre a bancada, segurando um grito de dor. Realmente, aqueles não eram tempos fáceis. Tomar um café na padoca da esquina podia custar-lhe a cabeça. Ele viu quando Tin levantou o facão.

Chamas de Petrichor {trilogia}Onde histórias criam vida. Descubra agora